A Volkswagen tem uma posição de destaque no Brasil, como uma marca conhecida por seus carros populares, o que lhe garante a vice-liderança nacional em vendas. Mas perde fôlego ante um problema: ela não consegue emplacar em segmentos superiores, com carros acima dos R$ 45 mil.
Na tentativa de “virar o jogo”, a fabricante traz do México para o Brasil o novo Jetta nas versões Comfortline e Highline. O objetivo é resolver o problema de imagem da marca no segmento de sedãs médios.
E, de quebra, apagar o vexame do Bora, que comercializou em todo o ano de 2010 apenas 1.973 unidades, enquanto o Toyota Corolla o mais vendido somou 55.024 no mesmo período.
Aparentemente as duas versões do novo Jetta são iguais. Mas uma rápida olhada na ficha técnica dos modelos revela que são dois carros totalmente diferentes.
A versão de entrada, Comfortline, parte de R$ 65.750 e conta com o mesmo motor 2.0 bicombustível de 120 cv de potência e 18,4 kgfm de torque do Bora. Ele pode ser equipado com câmbio manual de cinco marchas ou Tiptronic de seis velocidades o que eleva seu preço para R$ 69.990.
Além disso, a suspensão traseira é semi-independente.
Já a versão topo de linha Highline, que custa a partir de R$ 89.520, é equipada com câmbio DSG com 6 marchas e dupla embreagem , motor 2.0 com injeção direta e turbo, além de suspensão traseira independente multilink.
Isso garante uma proposta mais esportiva para a configuração “top” do Jetta, que conta com 200 cv e 28,5 kgfm de torque.
Preços e especificações técnicas diferentes traduzem os objetivos distintos das versões. A Comfortline será a responsável por “roubar” clientes de Toyota Corolla e Honda Civic, vice-líder do segmento, além de Peugeot 408, Renault Fluence e o futuro Chevrolet Cruze.
Enquanto isso, a Highline vai dividir espaço com Ford Fusion e Honda Accord, apesar de o sedã da Volkswagen ser menor que os concorrentes. A expectativa da Volkswagen é fechar 2011 com vendas entre 18 mil e 20 mil unidades, o que daria uma média de 2 mil carros por mês.
A fabricante imagina que a versão “amansada” do sedã seja responsável por 70% das vendas.
As linhas do Jetta 2012 que foram criadas com a ajuda dos designers brasileiros e irmãos José e Marco Pavone seguem a nova linguagem de design da marca. O renovado sedã visa transmitir robustez com para-choques pronunciados, grupo óptico trapezoidal e capô vincado em forma de “V”.
Na traseira, as lanternas divididas em duas seções lembram as utilizadas em carros da Audi.
O novo design também proporcionou crescimento.
Com um total de 4,64 metros de comprimento e 2,65 m de entre-eixos, o três volumes está 9 cm mais comprido e 8 cm de entre-eixos maior em relação à geração anterior. Com isso, a Volkswagen quer melhorar a “presença” do sedã, além de garantir maior espaço interno para os passageiros.
Apesar de maior, o Jetta está 30 kg mais leve, já que utiliza chapas de aço de resistência variável.
A lista de equipamentos da versão Comfortline conta com ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, freios com ABS e EBD, airbags duplo e lateral, entre outros.
A variante Highline soma ar-condicionado de duas zonas, espelho retrovisor externo aquecido, volante multifuncional com borboletas para troca de marcha, controle eletrônico de estabilidade, airbag de cabeça, rodas aro 17 polegadas, entre outros.
Entre os opcionais estão teto solar elétrico R$ 3 mil e ajuste elétrico do banco do motorista por R$ 1 mil, entre outros.
Ponto a ponto
Desempenho - Os 1.311 kg do Volkswagen Jetta Comfortline dificultam a vida do motor 2.0 flex de 120 cv. Apesar de honestas, as arrancadas estão longe de oferecer qualquer vigor. Segundo a marca, sair da inércia e alcançar os 100 km/h leva 10 segundos número inclusive pior do que o do Bora, que cumpria o zero a 100 km/h em 9,7 segundos. Mesmo assim, a Volkswagen fala em uma velocidade máxima de 202 km/h com etanol, um número bastante razoável. Nota 7.
Estabilidade - Nas retas, o Jetta consegue manter a precisão no solo até os 150 km/h, quando o modelo começa a pedir correções. Até nas curvas mais acentuadas, a estrutura torce pouco e passa sensação de segurança. Nas freadas bruscas, o ABS e EBD ajudam a manter a trajetória e o carro fica sob controle do motorista. Nota 8.
Interatividade - O renovado sedã da Volkswagen oferece uma boa posição para dirigir e uma ergonomia eficiente. A direção é suave e o câmbio manual tem engates precisos. Além disso, a maioria dos equipamentos e botões estão bem posicionados e são intuitivos. A manobrabilidade é auxiliada pelos sensores de estacionamento, já que as colunas largas atrapalham a visão do motorista. Nota 8.
Consumo – O consumo de combustível revelado pelo computador de bordo ficou aquém do esperado e teve média de 7,7 km/l com etanol em um percurso 100% em estradas. Nota 7.
Conforto – O ganho de 9 cm em relação a geração anterior garante bom espaço para pernas, tanto na frente como atrás. O isolamento acústico é eficiente e os bancos confortáveis. A suspensão semi-independente não filtra tão bem as irregularidades do piso como a independente multilink usada na versão Highline. Nota 7.
Tecnologia – O Jetta 2012 conta com plataforma própria e não mais aproveitada do Golf VI, como a da antiga geração. O motor da versão Comfortline, no entanto, é o mesmo 2.0 flex do Bora sem qualquer melhoria. A suspensão traseira é semi-independente, enquanto a versão topo Highline utiliza a independente. O sedã traz freios com ABS e quatro airbags, mas não conta com sistema eletrônico de estabilidade. Nota 7.
Habitabilidade - O bom vão das portas dianteiras e traseiras facilitam os acessos ao habitáculo do Jetta. No habitáculo, os porta-objetos são numeroso e a iluminação interna é boa. O porta-malas abriga generosos 510 litros. Nota 8.
Acabamento – O Jetta é um carro sóbrio. Seu acabamento está longe de ser espetacular, mas não apresenta falhas ou rebarbas que o comprometam. O interior traz materiais de qualidade, porém sem grande luxo. O painel conta com plástico de boa qualidade e os encaixes das peças são precisos. Nota 7.
Design - O Volkswagen Jetta tem linhas condizentes com o estilo global da marca. O desenho similar ao do Passat tenta transmitir elegância e seriedade, porém não conta com nenhuma ousadia. De uma forma geral, o aspecto é harmonioso e simpático. Nota 7.
Custo/Benefício – O Jetta Comfortline parte de R$ 65.750. Com esse preço, o modelo se mantém mais caro que os novos “players” do segmento, Peugeot 408 e Renault Fluence, que partem respectivamente de R$ 59.500 e R$ 59.900. E se equivale aos líderes Honda Civic e Toyota Corolla, que partem de R$ 66,6 mil e R$ 62,1 mil, respectivamente. O modelo traz o essencial para o segmento, como ar-condicionado, trio elétrico, direção elétrica, ABS, entre outros. Com o câmbio Tiptronic de seis marchas o valor sobe para R$ 69.990. Nota 7.
Total - O Volkswagen Jetta Comfortline somou 73 pontos em 100 possíveis.
Primeiras Impressões – Evolução sóbria
Mogi das Cruzes/SP - O segmento de sedãs médios é uma espécie de vitrine para o consumidor nacional, onde a maioria das marcas mostra o que têm de melhor no acesso ao luxo.
Estar ausente neste segmento pode custar caro, por isso a Volkswagen traz para o Brasil o renovado Jetta, que foi “barateado” em relação a sua geração anterior para ser um substituto do Bora e competir de igual no segmento.
Atrás do preço de R$ 65.750 não há nenhum milagre. O sedã fabricado no México traz o mesmo motor do Bora, suspensão inferior tecnologicamente a da versão Highline e acabamento simples.
O resultado é um carro sóbrio e equilibrado, mas sem tanta tecnologia e desempenho.
No trajeto de 200 km percorrido nas estradas de São Paulo, o Jetta com motor 2.0 flex se mostrou um carro com desempenho apenas razoável. O bloco de 120 cv sofre um pouco para mover os 1.311 kg do sedã.
As arrancadas não são muito eficientes. Pelo menos o câmbio de cinco velocidades manual tem engates curtos e é bem escalonado. Se as retomadas não são exemplares, ao menos o comportamento dinâmico é muito bom.
O Volkswagen Jetta se destaca pela estabilidade. O motorista tem pleno controle do carro em curvas e nas freadas bruscas, sendo auxiliado pelo ABS e EBD dos freios. Nas retas em altas velocidades, a comunicação entre rodas e volante se mostra eficiente até os 150 km/h. A partir de então é necessário que o motorista faça intervenções para corrigir a trajetória.
Outro ponto forte é o conforto. Motorista e passageiros contam com bom espaço para pernas e cabeças e atrás dois adultos e uma criança conseguem viajar sem apertos. O bem-estar só fica comprometido pelas irregularidades no asfalto.
A suspensão semi-independente não filtra tão bem as irregularidades e os reflexos são percebidos pelos ocupantes. A bordo, é fácil achar uma boa posição para dirigir. A ergonomia eficiente é facilitada pelas variedade de regulagens de altura do banco e de altura e profundidade do volante.
No interior, o Jetta perdeu o requinte inerente a última geração. Os materiais são de qualidade, é verdade, mas não apresentam grande luxo.
A exceção se dá pelo rádio com display de 6,5 polegadas sensível ao toque opcional por R$ 1 mil , que empresta um ar mais exclusivo ao sedã.
Ficha técnica – Volkswagen Jetta 2.0 Comfortline
Motor: A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.984 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo de válvulas no cabeçote e variável na admissão e no escape. Injeção eletrônica multiponto.
Transmissão: Manual com cinco marchas à frente e uma a ré, acionamento por cabos. Tração dianteira. Não oferece controle de tração.
Potência máxima: 116 cv com gasolina a 5.000 rpm e 120 cv com etanol a 5.000 rpm.
Torque máximo: 17,7 kgfm com gasolina a 4 mil rpm e 18,4 kgfm com etanol a 4 mil rpm.
Diâmetro e curso: 82,5 mm x 92,8 mm. Taxa de compressão: 11,5:1
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com molas helicoidais integradas e barra estabilizadora de 20 mm de diâmetro. Traseira semi-independente, com braços múltiplos, molas helicoidais e barra estabilizadora de 32 mm de diâmetro. Não oferece controle de estabilidade.
Freios: A discos ventilados na frente e discos sólidos atrás. Oferece ABS com EBD de série nesta versão.
Pneus: 205/55 R16 em rodas de liga leve.
Carroceria: Sedã em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Com 4,64 m de comprimento, 1,77 m de largura, 1,47 m de altura e 2,65 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais e laterais.
Peso: 1.311 kg em ordem de marcha.
Capacidade do porta-malas: 510 litros.
Tanque de combustível: 55 litros.
Produção: Puebla, México.
Por Marcelo Cosentino – Auto Press
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