Após seis meses de lançamento, o Peugeot 208 ainda chama muita atenção nas ruas. Ao volante do hatch, não é raro notar que as pessoas nas calçadas e nos outros carros estão olhando para ele. Por quê?
São duas razões: o modelo, que está na segunda geração e agora é importado da Argentina, tem no estilo seu ponto forte. Sem medo de errar, eu diria que ele é o mais bonito da categoria. O outro motivo da reação das pessoas é que o novo Peugeot ainda não decolou nas vendas.
Papo reto: quando foi a última vez que você viu o novo Peugeot 208 nas ruas? Ok, estamos (ou deveríamos estar) saindo menos de casa, mas basta ir ao mercado para encontrar uma profusão de automóveis tinindo de novos.
E nada do 208. O modelo foi lançado em setembro do ano passado. E, mesmo após meio ano de comercialização, o simpático modelo ainda não engrenou por aqui. No total, até março, foram emplacadas 6.587 unidades, o que dá uma média de pouco mais de 1.000 unidades mensais.
E com o agravante que no primeiro trimestre deste ano a média baixou para cerca de 700 emplacamentos por mês. Só para comparação, o Chevrolet Onix, que teve um mau mês de vendas em março, obteve 7.933 unidades emplacadas no mês passado.
Elegante e sem pressa
Ao volante, enquanto dirijo, vou considerando que ele merecia mais que isso. A versão avaliada, Griffe, é a top de linha. Foi lançada por R$ 94.990 no ano passado, acima da concorrência (além do Onix, VW Polo e Hyundai HB20 também são seus oponentes). Diante da grita geral, a marca do leão recolheu as garras e reduziu o preço em R$ 5 mil, para R$ 89.990.
Todas as versões têm motor 1.6 16V flex, o mesmo da geração anterior. E este é um dos pontos negativos do carro. Tudo nele é novo, incluindo a plataforma CMP (Common Modular Platform), preparada até para modelos de propulsão elétrica.
A propósito, o 208 e-GT, 100% elétrico, prometido para este ano, deverá complementar a gama do hatch como a versão esportiva da linha. A data de lançamento, no entanto, ainda não foi confirmada.
Isso cria um abismo tecnológico no mesmo modelo: em uma ponta, um elétrico rápido (136 cv e 0 a 100 km/h em 8,3 s) e que não polui.
Em outra, um carro que não entrega em movimento tudo o que sugere no visual. O motor de 118 cv (com etanol) leva o hatch a 100 km/h em eternos 12 segundos.
Esperava-se que o 208 estreasse por aqui com o motor 1.2 turbo de três cilindros e 130 cv, já em uso há um bom tempo na Europa. Mas isso não ocorreu.
O que temos é o velho 1.6, com comando duplo variável apenas na admissão. Lembrando que o trio concorrente tem motor 1.0 turbo de três cilindros, que garante maior agilidade.
Além dos 118 cv com etanol, esse motor rende 115 cv com gasolina. O torque é praticamente o mesmo: 15,5 kgfm com combustível renovável e 15,4 kgfm com derivado de petróleo. A maior diferença entre dirigir um carro 1.0 turbo e um 1.6 aspirado está na agilidade do primeiro.
O turbo “enche” mais rápido e faz o motorista pensar que está ao volante de um carro de maior cilindrada. Já no 1.6 do 208, como o torque máximo aparece apenas a 4 mil rpm, as respostas ao acelerador demoram mais, e transmitem a impressão contrária: a de que o motor é menor – ou mais antigo.
Outro sintoma manifestado pelo 208 é que ele “não gosta” de subida. Em aclives, ele tende a perder ritmo rapidamente. Nesse caso, para contornar o desânimo é preciso pisar mais firme no pedal e manter a rotação acima de 3 mil rpm. Nos concorrentes turbinados, basta pisar de leve no acelerador que as respostas vêm.
No 208, o motor trabalha em conjunto com o câmbio automático de seis marchas Aisin.
Não há borboletas no volante. Se quiser fazer trocas manuais, o motorista precisa puxar a alavanca para a esquerda. As reduções são feitas para a frente, enquanto os aumentos são realizados com toques para trás.
Além do modo de condução padrão, é possível selecionar ainda as opções “eco” e “sport”, por meio de botões no lado esquerdo do painel. O primeiro privilegia a direção mais econômica, com trocas antecipadas de marcha. O segundo retarda as trocas e alivia um pouco a sensação de anemia do 208.
O senão é que a opção selecionada não aparece no belo painel digital com efeito 3D, que sobrepõe imagens. Mesmo alternando-se os modos de condução, não há sinal da mudança no quadro de instrumentos. Por isso, é preciso desviar a atenção para a parte inferior do painel para se certificar da escolha.
É uma falha em um painel tão inovador e cheio de informações. O mostrador, a propósito, permite personalização.
Como no 208 anterior, o quadro de instrumentos, batizado pela marca de i-Cockpit 3D, forma um belo conjunto com o volante compacto, que tem base e parte superior achatadas. No entanto, o hatch exige que o condutor se adapte a uma nova posição de dirigir.
No meu caso (1,66 m de estatura), tive de deixar a regulagem de altura do volante no mínimo, para a parte superior não encobrir os mostradores.
É um caso em que o usuário tem de se adaptar ao carro, e não o inverso. Além da regulagem em altura, a coluna de direção também tem ajuste de profundidade.
208 é aula de design
Em termos de estilo, o 208 é uma aula, e um legítimo herdeiro da família 200 da Peugeot (205, 206 e 207). As linhas arredondadas são elegantes, e o hatch chama atenção em cada centímetro de seus 4,05 metros de comprimento.
De frente, o destaque são os faróis formados por três faixas diagonais de leds (na versão Griffe), e o filete de luz diurna que desce até a parte inferior do para-choque. A marca francesa identifica o detalhe como se fossem “dentes de sabre”.
A ampla grade com detalhes cromados (também na versão mais cara) é outro aspecto atraente.
O nome do carro aparece de forma estilizada tanto na dianteira como na traseira, que também tem seus encantos. As lanternas são formadas por três blocos de leds, e unidas por uma faixa plástica preta, opaca.
O tom negro está também no aerofólio sobre a tampa e na capa dos retrovisores. A diferença é que, desta vez, as peças são brilhantes, o que aumenta o destaque do conjunto. As rodas de alumínio diamantadas aro 16 completam o estilo exterior com um belo desenho.
Por dentro, o show continua. Além do quadro de instrumentos, a tela de 7″ da central multimídia também atrai as atenções. Ela domina a parte central do painel e fica voltada para o motorista. Permite acesso a diversos comandos do veículo, incluindo ar-condicionado.
Há compatibilidade com celulares Android Auto e Apple CarPlay, e a câmera de ré tem imagem dividida (mostra também uma representação aérea do carro).
Há duas portas USB na dianteira, mas nenhuma disponível para quem vai no banco de trás. Nessa versão mais cara, o 208 vem com carregador de celular sem fio.
O acabamento é superior ao dos concorrentes. Embora o material de revestimento seja feito por plásticos rígidos, a escolha de texturas e padronagem agrada. Na Griffe, parte do painel tem apliques que imitam fibra de carbono, o que reforça a sensação de modernidade do hatch.
Além disso, o hatch mantém as chaves “de avião” para controles de climatização, outra característica dos carros da marca. Nessa versão, os bancos têm aspecto sofisticado, com mescla de couro e Alcantara. As regulagens são manuais.
O interior é bem iluminado, graças não apenas ao teto panorâmico (de série a partir da versão Active Pack), mas também devido à boa área envidraçada.
Como no 208 anterior, o novo também apresenta um rodar suave. A novidade é que essa característica foi aprimorada com a nova plataforma CMP. As suspensões absorvem bem as imperfeições do piso, e o resultado é um interior silencioso e confortável.
No geral, o hatch passa confiança nas curvas, com pouca inclinação da carroceria. Na frente, o sistema é independente (pseudo McPherson). Os dois eixos contam com barra estabilizadora. Os pneus são 195/55 R16, e a direção elétrica é precisa e tem bom peso.
Tecnologia também é destaque
O hatch argentino oferece diversas tecnologias, especialmente na versão Griffe. É o caso, por exemplo, do carregador de celular por indução, disponível a partir da versão Allure.
Além disso, esta versão também já vem equipada com chave presencial que destrava as portas por aproximação.
Assim que o motorista chega perto do carro (cerca de 1 metro), ouve-se o destravamento. O travamento também é automático, assim que o condutor se afasta do veículo.
A top de linha Griffe traz de série alerta de risco de colisão frontal com frenagem de emergência, aviso de saída involuntária de faixa com correção de volante, faróis full-led, sistema de reconhecimento de placas de velocidade, auxiliar de farol alto e sensores de luminosidade e chuva.
No entanto, nem tudo funciona com muita precisão. O alerta de colisão frontal entra em ação com muita facilidade, e não apenas em caso de risco iminente.
O leitor de placas de velocidade também nem sempre consegue identificar a sinalização. Melhor não se fiar muito nele.
Ficha técnica
Peugeot 208 1.6 16V Griffe
Preço: R$ 89.990
Motor: 1.6, 16V, 4 cilindros, comando duplo, variável na admissão, flex
Potência: 118/115 cv (E/G), a 5.750 rpm
Torque: 15,5/15,4 kgfm (E/G) a 4.000 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas
Tração: dianteira
Direção: elétrica, de assistência variável
Suspensão dianteira: Independente, Pseudo McPherson, barra estabilizadora
Suspensão traseira: Travessa deformável, barra estabilizadora
Comprimento: 4,05 m
Largura: 1,96 m
Altura: 1,45 m
Entre-eixos: 2,54 m
Porta-malas: 265 litros
Pneus/rodas: 195/55 R16
Peso: 1.178 kg
Tanque: 47 litros
Freios: discos ventilados na frente, tambores atrás
0 a 100 km/h: 12 s/12,6 s (E/G)
Máxima: 190 km/h
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