A Fiat conseguiu de novo. Desbancou o Volkswagen Gol da liderança do mercado nacional de carros e colocou o Uno na frente pela terceira vez na história do modelo.
O resultado marcante aconteceu em março deste ano, e se juntou aos meses de fevereiro e dezembro de 2011 como os períodos que o subcompacto italiano foi mais vendido que o modelo da fabricante alemã.
E o sucesso do Uno está na cara. Ou melhor, nas muitas caras do carro. Enquanto a Volks oferece o Gol em apenas uma proposta – a aventureira Rallye vende bem pouco –, a Fiat diversifica. No total, são cinco diferentes variantes para o modelo, que passam pela esportiva Sporting e chegam até a mais recente, a ecológica Economy.
Além disso, o carro tem uma “aura” jovial e bem-humorada, com muitas opções de personalização, o que o torna bem mais atrativo. Longe da seriedade alemã, por exemplo. Ou seja, o Uno abrange um grande espectro de consumidores com os gostos mais variados.
Ao menos por enquanto, os compradores “verdes” não têm ido às concessionárias com tanta vontade. A Fiat declara que apenas 7% dos Uno vendidos são da configuração Economy. Mas, em números absolutos, a história fica mais interessante. Afinal, a porcentagem representa um total de cerca 1.400 unidades mensais.
Quando é feita a comparação direta com o Gol em números de vendas, a importância das diversas versões aparece ainda mais. A diferença entre os dois em 2012 é de apenas 495 carros – até março.
Ou seja, qualquer impulso para um dos lados é fundamental para definir a liderança. Vale lembrar que tanto Uno como Gol continuam com suas gerações antigas à venda e os números de emplacamentos são somados no ranking da Fenabrave.
Para trazer a proposta ecológica para um carro de alcance popular, a Fiat preferiu usar um motor mais forte que um 1.0 – que precisa ser usado em giros muito altos para ter um desempenho aceitável.
E, para isso, deixou o 1.4 Evo – de 88 cv e 12,5 kgfm – mais manso. A central eletrônica do motor foi modificada para beneficiar o consumo.
O sistema cut-off – que corta a injeção de combustível quando o carro está engatado e em desaceleração e usado em todos os motores com injeção eletrônica – também foi recalibrado para entrar em ação com mais rapidez, sem comprometer a dirigibilidade.
A relação final do câmbio também mudou e agora está 9% mais longa – apesar de a quinta marcha ser mais curta –, o que deixa o motor trabalhando sempre em rotações mais baixas.
O carro ficou 10 mm mais baixo para melhorar a resistência ao ar e o conjunto de suspensão teve molas e amortecedores revistos para manter o comportamento dinâmico da linha. No total, a Fiat declara que tudo isso diminui o consumo de combustível em 10% a 15%, mesmo que o peso declarado do carro seja exatamente o mesmo da versão Attractive, em que a Economy se baseia.
Para manter o preço da nova configuração R$ 1 mil mais barato do que a Attractive, a Fiat tirou da lista de itens de série diversos itens de conforto, como apoio do pé, comando interno dos retrovisores e volante com regulagem de altura, por exemplo.
Portanto, a lista de equipamentos traz apenas o básico.
Para deixar o Uno “verde” com os itens essenciais – ar, direção e vidros elétricos –, é preciso desembolsar R$ 34.666. De um jeito ou de outro, é o automóvel ecológico mais barato à venda no Brasil. E de quebra, atualmente é o carro mais vendido do ano.
Ponto a ponto
Desempenho – O 1.4 8V de 88 cv é bem melhor que o 1.0 litro que equipa as versões mais baratas do Uno, no entanto, o desempenho ainda deixa a desejar.
A Fiat afirma que o Uno Economy acelera de zero a 100 km/h em apenas 10,8 segundos quando abastecido com etanol, mas as arrancadas são um tanto morosas e mesmo o torque máximo – 12,5 kgfm – chegando a medianas 3.500 rotações, parece aquém do esperado, mesmo para um 1.4.
Além disso, apesar de ter recebido melhorias em relação às primeiras unidades, o propulsor ainda é áspero em altas rotações. Nota 6.
Estabilidade – O Uno contorna curvas sem pregar sustos no motorista. A suspensão usa o tradicional arranjo McPherson na dianteira com barra de torção atrás e garante comportamento neutro na maior parte das situações.
Saídas de frente em curvas de baixa velocidade são facilmente contornáveis, mas há uma desconfortável oscilação dianteira em velocidades mais altas – herança da primeira geração do Palio. Ao menos, o acerto mais macio da suspensão deixa passar poucas imperfeições do solo para os ocupantes. Nota 7.
Interatividade – Nenhum mistério na utilização do Uno Economy. O interior tem soluções inteligentes, com botões grandes e bem localizados. Os comandos são leves e de fácil utilização, e apenas o conta-giros diminuto tem a visualização prejudicada.
Os botões do som são pequenos e de qualidade duvidosa, assim como a qualidade do sistema. A visibilidade é boa por todas as janelas. Nota 8.
Consumo – O Fiat Uno Economy registrou médias de 11,6 km/l em estrada e 8,5 km/l na cidade com etanol. A Fiat fala em 14,7 km/l e 11,3 km/l respectivamente. O Inmetro conseguiu 8,7 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada. Nota 7.
Tecnologia – Não há como exigir muito de um compacto de entrada. Por dentro, apenas o rádio com CD e entradas para iPod e USB merecem destaque. Airbags frontais e freios com ABS e EBD são opcionais. Nota 6.
Conforto – O modelo é relativamente confortável, os revestimentos são agradáveis e há espaço suficiente para quatro adultos de estatura mediana. As quatro portas facilitam o entra e sai, mas o isolamento acústico, previsivelmente, deixa a desejar.
É necessário elevar o tom de voz com o carro acima dos 100 km/h, e torna o carro algo cansativo em viagens longas. A suspensão mais macia dá sua contrapartida no conforto maior dos passageiros, que sofrem menos com buracos e ondulações. Nota 7.
Habitabilidade – A Fiat encheu o Uno de porta-objetos, que poderiam ser mais úteis. Os vãos das portas, por exemplo, são estreitos demais, ainda que tenham espaços definidos para garrafas de até 1,5 litro.
As formas quadradas da carroceria ajudam na acomodação de todos, e o porta-malas está na média do segmento, com 270 litros facilmente acessíveis pela tampa traseira. Nota 8.
Acabamento – É onde o modelo mais mostra suas origens. Os plásticos são muito simples e há rebarbas aparentes. Até a pequena faixa de tecido nas portas é opcional. Ao menos, o interior é funcional e os encaixes não fazem barulho mesmo sobre pavimentos ruins.
O console no teto é feito de um material de aspecto muito pobre. Nota 7.
Design – Com quase dois anos de mercado, as linhas do Uno ainda se destacam nas ruas e dentro do segmento, já que foi uma das últimas novidades entre os compactos de entrada – depois dele apenas o Nissan March foi lançado.
O visual remete ao novo Panda europeu e dá um ar “alegre” ao pequeno hatch. Nota 8.
Custo/beneficio – O lançamento do Uno Economy criou um problema para a Fiat na gama do modelo. Por R$ 30.190, ele é exatos R$ 1 mil mais barato que a versão Attractive, e pelo desconto, perdeu itens como o console de teto e computador de bordo.
Ainda que quando mais equipado a diferença diminua bastante – menos de R$ 200 com todos os opcionais –, o Economy ainda adiciona pneus com menor resistência à rolagem, que prometem maior economia de combustível.
A nova versão equipada com itens básicos, como ar-condicionado, direção hidráulica e vidros elétricos, custa R$ 34.666, enquanto a Attractive vai a R$ 35.372. O Uno com motor 1.4 acaba não tendo concorrentes diretos, já que é o único da faixa mais simples a contar com um motor maior.
Em termos de preço, apenas o Chevrolet Corsa, em fim de carreira, entrega motor 1.4. Nota 8.
Total – O Fiat Uno Economy 1.4 somou 74 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir – Origem humilde
Concebido para ser um carro de entrada, o Uno não nega sua vocação “popular” mesmo nas versões mais caras. A simplicidade no acabamento, assim como a magra lista de equipamentos de série – até o ar quente é cobrado à parte –, denunciam logo que se trata de um modelo “básico”.
O visual é o mesmo de todas as outras versões, salvo Sporting e Way que têm adereços estéticos de acordo com suas pretensões esportivas e aventureiras, respectivamente. Portanto, nenhuma surpresa, nem por fora e nem por dentro, ao se aproximar de um Uno Economy.
O motor 1.4 litro de 88 cv com etanol, já bastante conhecido, tem respostas bem mais mansas que o esperado.
Mesmo leve – apenas 925 kg –, o Uno custa a deslanchar. Na cidade, há até algum fôlego extra, principalmente se comparado ao motor 1.0 da própria Fiat. Mas na estrada a situação é um tanto complicada.
Ultrapassagens ainda exigem cálculo, reduções de marcha e pé embaixo para extrair o máximo do pequeno propulsor. Além disso, ele gira áspero e parece não gostar de rotações mais elevadas, justamente onde está a potência máxima.
Se ao menos a contrapartida fosse o consumo comedido, como prometido pela Fiat para a versão, ele seria uma proposta até interessante, com até 14,7 km/l na estrada. Entretanto, as médias ficaram bem abaixo disso – mal chegaram a 12 km/l com etanol em 900 km em rodovias.
O Uno não é um carro extremamente confortável, mas ainda assim dá a seus ocupantes alguma comodidade. O diferencial foi alongado para a versão Economy, o que se traduz em rotações mais baixas em velocidades de cruzeiro e, portanto, menos barulho a bordo.
A unidade avaliada contava com um revestimento aveludado – opcional conjugado a itens como encosto de cabeça central traseiro e regulagem de altura do banco do motorista – agradável ao toque e que dá um ar menos básico ao modelo.
A Fiat queria que o viés ecológico fosse o maior atrativo do Uno Economy.
Entretanto, a real vantagem da versão acaba sendo o preço R$ 1 mil abaixo da Attractive 1.4, que oferece o exatamente o mesmo conjunto – salvo o pouco útil console no teto, herdado da minivan Idea, de série no Uno mais caro.
E a nova versão ainda agrega pneus de baixa resistência à rolagem de série, que deveriam contribuir para a melhor eficiência do modelo, e mantém a boa robustez já conhecida do Uno.
Ficha técnica – Fiat Uno Economy 1.4 8V
Motor: A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.368 cm³, com quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio automático de quatro marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira.
Potência máxima: 85 cv com gasolina e 88 cv com etanol a 5.750 mil rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 10,8 segundos.
Velocidade máxima: 172 km/h
Torque máximo: 12,4 kgfm com gasolina e 12,5 kgfm com etanol a 3.500 rpm.
Diâmetro e curso: 72 mm X 84 mm. Taxa de compressão: 12,3:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, braços oscilantes inferiores transversais e molas helicoidais. Traseira com barra de torção e rodas semi-independentes, amortecedores hidráulicos e molas helicoidais. Não oferece controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 175/65 R14.
Freios: Discos sólidos na frente e tambores atrás. Oferece ABS como opcional.
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,77 metros de comprimento, 1,65 m de largura, 1,55 m de altura e 2,37 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais como opcional.
Peso: 925 kg.
Capacidade do porta-malas: 280 litros.
Tanque de combustível: 48 litros.
Produção: Betim, Brasil.
Lançamento no Brasil: 2011.
Itens de série: Conta-giros, apoios de cabeça traseiros, econômetro. Opcionais: Ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, pintura metálica, freios ABS com EBD, airbags frontais, rádio com CD/MP3/USB/Ipod/Bluetooth, alarme perimétrico com comando à distância, rodas de liga-leve aro 14.
Preço básico: R$ 30.190.
Preço da unidade testada: R$ 40.109.
Por Auto Press
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