Esqueça o nome Megane se você lembra do antigo médio da Renault, pois este carro aqui não tem nada a ver com ele. Elétrico, o Megane E-Tech chegou para ser algo mais sofisticado na Renault.
Com tantos anos de Dacia nas costas, a marca francesa precisava reavivar-se de fato e o Megane E-Tech é parte disso, ainda que pareça maior e melhor do que realmente é.
Tendo design chamativo, jogo de luzes e um interior agradável, que nos faz lembrar estranhamente de outro francês, o Megane E-Tech é como queríamos ver os carros da Renault por aqui, com adição de ser mais eficiente e moderno.
Ainda assim, como nem tudo são flores nesta vida, o lado obscuro deste Renault é algo grave, mas que pode ser remediado muito facilmente, fazendo-o realmente se tornar um player de peso no segmento. Qual? O preço: R$ 279.900.
O remédio para isso falaremos logo mais, por agora, vamos ao que este francês tem realmente a oferecer e o que ele pode fazer no mercado nacional se a Renault (realmente) quiser.
Parece maior
Não é somente efeito visual em fotos ou vídeo, pois ao vivo, a ilusão de ótica provocada pelo Renault Megane E-Tech é verdadeira. O pequeno (isso mesmo) crossover elétrico não é tão grande assim.
Com suas rodas “enormes”, portas grandes (especialmente as traseiras) e carroceria volumosa, o Megane E-Tech engana até que bem, já que mede apenas 4,200 m de comprimento. Isso é como um T-Cross que parece um Taos.
O efeito se dá pela frente alta e arredondada com seus faróis retilíneos full LED com função de boas-vindas/até logo que você verá tanto no Kardian quanto no Duster 2025, além de um para-choque alto e limpo, com luzes diurnas sinuosas a embelezar o conjunto.
Tendo uma linha de cintura bem alta, o Megane elétrico joga com as proporções para parecer maior, já que a área envidraçada é menor que o tradicional, enquanto a base de 2,685 m de entre eixos, ajuda a ampliar o tamanho das portas traseiras.
Eliminar quebra-vento falso na traseira também ajuda a esticar o Megane E-Tech, que se beneficia do desenho das saias de rodas, assim como do design das rodas de liga leve, para aumentar o volume do material rodante.
Se elas lhe parecem de aro 20, se enganou, já que possuem apenas 18 polegadas, mas se valem de pneus altos 195/60 R18.
Já na traseira, a vigia é quase decorativa, pois o que mais existe é chapa de fibra da tampa do bagageiro e o para-choque proeminente, com lanternas em LED muito afiladas.
Para completar, as linhas fluidas das colunas C em sinergia com o teto preto sem vidro panorâmico, um dos erros do Megane E-Tech, cria um visual realmente atraente e sofisticado. Tudo isso com 1,768 m de largura e 1,519 m de altura.
Já por dentro, o Renault Megane E-Tech foca na digitalização como um mantra que irá libertá-lo do convencional, mas sabemos bem que tudo isso, essa coisa toda de digital, é pura “pirotecnia” para tirar o foco dos detalhes.
Não que o francês peque como seus parentes romenos naturalizados, mas é que existem outras formas de agradar.
O painel, com formato retangular da instrumentação e entretenimento, lembra os carros dos anos 80 e isso é legal, ainda que o cluster de 12,3 polegadas esteja longe de remeter ao passado, com apresentação minimalista nos dois modos.
Cores diferentes para cada modo de condução ajudam a passar a impressão de mudança, correspondente às tonalidades dos LEDs nas portas.
A multimídia Open R é bem recheada e intuitiva, separando bem os temas e com foco na eficiência energética, com toda a informa útil e também dispensável que você possa imaginar.
Ela também revela coisas como purificador de ar, amplo espectro de dados sobre carregamento e consumo, assim como o perfil de sonoridade do veículo em baixa velocidade, para os pedestres poderem ouvir sua presença.
Já o volante explora o passado e o futuro da Renault, com forma ovalizada, apresentando (agora) descomplicado controle de cruzeiro adaptativo, assim como o botão Multi Sense, onde se alteram os modos de condução, além de paddle shifts, mas não para troca de marchas.
Até a alavanca da transmissão passou para a coluna de direção, como nos Mercedes-Benz, tendo ainda bom ajuste em altura e profundidade, mas mantém o velho bloco fixo de áudio atrás da direção.
Isso é para a Renault como a haste do piloto automático da Toyota e o pino do computador de bordo da Honda, mas as japonesas já superaram isso. Só falta a Renault…
No assoalho, aliás, bem revestido em material de boa qualidade, o console tem enormes espaços para copos, garrafas e o que mais se imaginar, chegando a exagerar nos ditos 33 litros.
O difusor de ar contínuo e o bom acabamento das portas, com apliques brilhantes, LED e um tecido agradável, nos passa a impressão de ser outro francês, lembrando estranhamente o Peugeot 2008, mas não o nacional.
Bem, não estranhe totalmente, afinal, os franceses sempre foram unidos de alguma forma, mesmo nos tempos de Clio e 206.
Com ótimo espaço interno para seu pequeno porte, o Megane E-Tech tem ainda bancos em tecido bom, que reforçam aquela semelhança citada, porém, mais notadamente em qualidade, revelando o abismo que há entre França e Brasil.
Tendo teto preto, sente-se a falta de um vidro panorâmico sequer, algo que nem o retrovisor interno com câmera possa compensar.
Como se trata de um carro francês, a perfumaria tinha de ser completa, o que é uma pena, assim como a falta de ajustes dianteiros elétricos com refrigeração nos assentos, pelo menos, já que o brasileiro não busca apenas aquecer as mãos no volante. Os dias já estão tórridos demais por aqui.
Atrás, piso plano e banco confortável, com uma boa visibilidade.
Porta-malas? Se um dia a Renault pecar nesse quesito, acredite, ela estará chegando ao fim. O Megane E-Tech vai na máxima da francesa que é ter uma boa “mala” para ninguém botar defeito e ela tem 440 litros.
Desempenho esperado
Faremos uma pausa nas impressões visuais e iremos agora para o que realmente o Renault Megane E-Tech entrega em condução. Sim, esse “carrinho” ainda tem outras coisas a revelar. Mas, olhando para a “mecânica”, o francês elétrico traz um pacote robusto.
Seu motor elétrico de 220 cavalos e 30,6 kgfm, tem um desempenho de acordo com sua proposta e não deveria ser diferente, ainda que pese 1.680 kg, indo de 0 a 100 km/h em 7,4 segundos e com final limitada em 160 km/h.
Com modos de condução Eco, Comfort, Sport e Perso, o Megane E-Tech entrega opções interessantes para todos os perfis, com o primeiro pesando literalmente o pedal e atenuando muito a força do motor elétrico, montado na dianteira.
Mesmo assim, as respostas do francês no Eco são boas, mas é bom deixar claro que o foco é economia, então, pisar fundo só terá efeito de fato no modo Comfort, onde o nome não corresponde ao de um equivalente à combustão.
Como se sabe, um carro elétrico entrega toda a força de imediato e o Megane E-Tech, logicamente, não é exceção, ainda que a Renault tenha deixado o modo Eco bem lerdo, o Comfort mostra a natural agilidade desse tipo de veículo.
Basta acelerar para o Megane E-Tech dissolver seu peso, convertendo-o numa impressão de leveza, como se o crossover elétrico tivesse pouco mais de uma tonelada. É sensacional como os números aqui são apenas números em comparação com um SUV a combustão de mesma potência e torque.
É fácil arrancar como se fosse um carro de alta performance, convertendo um crossover de proposta comum num bólido para entusiastas. Ainda não é um sleeper car elétrico, mas certamente uma versão AWD o faria estar ao lado de siglas como RS, AMG e M.
A aceleração imediata, sem pausas de troca de marcha, leva o Megane E-Tech para um desempenho de seu antepassado esportivo, mesmo sem essa pretensão. Para quem gosta da emoção de poder instantâneo, o lado ruim deste SUV é o fato de não ser um esportivo legítimo.
O modo Sport, nesse caso, evidencia ainda mais essa característica, porém, ajudando o Megane E-Tech é sua plataforma modular CMF-EV bem equilibrada, que entrega uma dinâmica de condução exemplar, permitindo curvas rápidas apenas limitadas pelos pneus altos.
A direção dinâmica é bem direta e isso é um atrativo a mais, assim como a boa pegada dos freios e a suspensão bem ajustada, mesmo sobre pisos irregulares e com muitos defeitos. Ou seja, foi pensado para o dia a dia turbulento de vias complicadas, ainda que o curso do conjunto seja um tanto limitado.
Pode-se ainda personalizar tudo isso no modo Perso e fazer um pouco mais para garantir a autonomia por mais tempo. Nesse caso, os paddle shifts entram em ação, com o direito liberando o freio-motor e o da esquerda aumentando, podendo-se até conduzir parcialmente por meio deles.
Com uma bateria de lítio de 60 kWh, o Megane E-Tech tem autonomia de 337 km no ciclo PBEV do Inmetro, mas no WLTP entrega 454 km. Pegamos ele com quase isso e o resultado foi ótimo, com ganho de mais de 40 km em descida de serra, usando a regeneração e a inércia.
O consumo urbano é bom, fazendo 8,20 km/kWh, enquanto na estrada, com 120 km/h, são 4,29 km/kWh e 4,92 km/kWh a 100 km/h. Por fim, 6,02 km/kWh a 80 km/h.
Mesmo usando o modo Sport, a perda de energia não é tão assustadora, mas logicamente que sem o carregador doméstico de bordo, não disponível no carro de teste, o modo Eco foi o mais usado no dia a dia.
No litoral paulista, a escassez de pontos de recarga traz de volta uma doença associada especialmente ao carro elétrico: ansiedade de alcance.
Por mais que se confie na eficiência do carro, ao haver uma elevação de 800 m de altura entre você e o destino, a coisa fica um pouco ruim de digerir.
Para isso, usamos um carregador da Power2Go que nos deu uns 20 minutos a mais de carga apenas para tranquilizar a alma, uns 3,61 kWh a um custo de R$ 5,13 ou 5% de carga.
Noutra ocasião, num carregador gratuito da Volvo, em 30 minutos, foram 6% de carga, passando de 68% com 286 km para 74% com 312 km.
Se o hodômetro for zrado, dependendo da condução e local, o alcance até aumenta. Isso tudo ajudou a devolver o Megane E-Tech com um alcance bom no final das contas, com mais de 100 km.
A segurança da recarga doméstica é o remédio para evitar a “range anxiety” e é também verdade, você não vai usar o carro com a mesma frequência que faria com um veículo a combustão.
O problema aqui, nem é da marca, que não disponibilizou o equipamento, mas da infraestrutura nacional, que não acompanha a velocidade dos lançamentos. Recarregue em casa e seja feliz com seu elétrico, fica a dica.
Parece melhor
A aparência sofisticada e o ambiente digitalizado podem até assustar os mais tradicionalistas, mas essa é a nova ordem mundial dos carros e o Renault Megane E-Tech, apesar de parecer, não exagera nestes aspectos.
É preciso parecer melhor do que é, pois, o cliente de carro elétrico atualmente (vejamos no futuro), busca a inovação.
Não se faz isso com instrumentos analógicos e uma central multimídia de tela pequena, ainda que este Renault peque por não ter uma telona de 12 ou 15 polegadas, oferecendo somente 9 polegadas… Ok, é uma ironia, mas é perceptível como se nota isso num app como o Waze num display ainda menor.
O Megane E-Tech inverteu a ordem, com cluster enorme e pouco atrativo, não chegando nem perto da marca conterrânea que conhecemos com seu visual 3D, mas ele tem um belo volante com comandos touchscrean e botões cromados, slot para recarga indutiva e até nos faz procurar por um inexistente HUD.
Tudo isso induzido por um painel modernoso.
As maçanetas retráteis e o acabamento em preto brilhante o tornam ainda mais vistoso, mas pelo preço de R$ 279.900, o Megane E-Tech fica devendo para concorrentes como o BYD Yuan Plus por R$ 229.990 ou Volvo EX30 por R$ 219.950.
Pode ficar mais barato? Sim, mas a Renault teria que abrir mão de R$ 50.000 pelo menos para o Megane E-Tech fazer a diferença. O problema é sua origem europeia, visto que os citados são chineses, cujo custo de produção é bem menor.
Mesmo com um pacote de assistência exemplar, com igualmente ADAS completo como dos rivais, o francês fica devendo apenas em alguns detalhes ausentes, mas agrada pela performance e eficiência de sua bateria.
É um carro que vale a pena, porém, não nesse preço. O mercado mudou depois dos chineses e a Renault precisa mudar com ele, ou ficará para trás…
Renault Megane E-Tech 2024 – Galeria de fotos
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