Sou proprietário de um Peugeot 208 1.5 Active Pack, adquirido há oito meses, se encontra com 22 mil quilômetros rodados. Como leitor assíduo do NA, esperei quase um ano analisando meu carro antes de compartilhar e relatar minhas impressões, comparando-o muitas vezes ao meu carro anterior.
Meu antigo carro era um Gol G5 1.0 I-Trend 2012. Sua venda foi extremamente necessária, pois me deixou com muita dor de cabeça e muitos dias na oficina desde seus 5 mil quilômetros. Fiquei conhecido por todos na concessionária Volkswagen da minha cidade, desde o porteiro, passando pela equipe de consultores até chegar aos mecânicos, eu já era “de casa”.
Não fui feliz com o Gol, apesar dele nunca ter me deixado na mão, seus defeitos de fabricação eram incessantes, suas portas pareciam uma verdadeira escola de samba. Se não estivesse na garantia seria inviável continuar com ele, os preços das peças são absurdos, mesmo se tratando de um carro “popular”.
Certo dia, percebi que não dava para continuar do jeito que estava, a garantia iria acabar e se aproximava da época de troca dos pneus (estava com quase 50 mil km), renovar o seguro, IPVA, etc. Fiz alguns cálculos e vi que poderia trocar o carro, caso tivesse uma boa revenda do meu usado e o preço do novo não ultrapassasse os R$ 45.000.
A troca de um carro não é algo tão simples, sempre penso que irei passar pelo menos 4 anos com o mesmo e que ele terá muitos quilômetros rodados ao fim de sua vida. O Gol foi apenas uma exceção. Dessa forma, levei em consideração o preço do veículo, cesta de peças, economia de combustível, revisões e o principal: 1.0 nunca mais!
Em meio aos afazeres do dia a dia acabei parando na Peugeot. Assim que entrei já tinha um 208 1.5 Allure em exposição, esse carro sempre me chamou atenção quando vi pelas ruas, mas a paixão só começou no momento em que abri a porta de um. A suavidade da fechadura já é diferente, o painel é diferenciado, a textura dos plásticos é agradável.
Eu estava procurando um defeito em meio àquele estado de euforia. Me senti acolhido pelo banco, pelo pequeno volante e por um segundo não percebi a presença de uma central multimídia no painel. Faça um test drive, recomendo.
Me encantei com o carro, mas logo veio o preço que derrubou um pouco minhas expectativas. O Allure 1.5 estava sendo vendido por R$ 47.000, mas conversei com o vendedor explicando minha situação e que estava procurando por algo abaixo dos R$ 45.000.
Foi aí que veio a sugestão do gerente, me apresentou a versão Active Pack, cuja diferença da Allure é que não possui teto panorâmico e a vantagem de alguns centímetros a mais na cabine, principalmente na parte traseira devido a ausência do vidro+forro.
Comprei o carro por R$ 44.500 já emplacado, e posso afirmar uma coisa, mesmo que todas as pessoas no mundo conspirem contra a Peugeot, até hoje eu me surpreendo com meu carro.
Na mesma faixa de preço, a concorrência não me agradou, poderia levar carros que são mais vendidos, mas perderia muito em opcionais (roda de liga leve, central multimídia, farol de neblina, etc). Instalar tudo isso por fora sairia uma boa grana que eu não estava afim de gastar. O 208 supre todas as minhas necessidades.
Quase comprei um Renault Logan 1.6 por R$ 2.000 a menos, tinha a vantagem de ser sedã e oferecer espaço maior, porém o acabamento é bem inferior e não possuía rodas de liga leve, controle de som no volante nem vidros elétricos traseiros. Gosto de carro completo, fiquei com o Peugeot.
CONFORTO
A suspensão faz um belo trabalho na cidade, absorve bem as imperfeiçoes do solo e transmite muita maciez, parte disso tem a ver com os pneus de perfil relativamente alto 195/60 R15 (Michelin Energy Saver XM2) que possui um ótimo desempenho principalmente na chuva.
Em comparação, o Goodyear Excellence do meu antigo Gol, que possuía medidas 195/55 R15 eram duros, barulhentos e odiavam água, sua tendência a aquaplanar era muito grande. Algo que posso acrescentar no quesito conforto são os bancos macios e aconchegantes. Seis meses atrás instalei uma bancada de couro, o que na minha opinião melhorou ainda mais.
CONSUMO
O consumo é um capítulo à parte, meu trajeto é composto 30% por rodovia (ou avenida, para alguns, pois a velocidade máxima é 80 km/h) e os outros 70% dentro da cidade. Tenho obtido médias com gasolina sempre superiores a 12 km̸/l e no máximo 13 km/l.
Mas devo ressaltar que uso ar condicionado apenas em horários mais quentes, ou seja, durante a manhã e maior parte da noite não utilizo ar ligado. Para efeito de comparação, meu finado Gol, nas mesmas condições fazia no máximo 11,5 km/l.
Com um tanque cheio, ando mais ou menos 650km. Álcool? Usei apenas uma vez, deixa o carro bem arisco, mas o consumo despenca, fica na casa de 8-9 km/l. Na estrada, com gasolina (nunca usei etanol), consegui médias superiores a 15 km/l sempre com o ar condicionado ligado, no máximo 4 pessoas a bordo, pouca bagagem e mantendo velocidade de 110 km/h.
Se decidir andar mais rápido, por volta de 120-130 km/h ele ainda consegue manter o consumo aproximado de 13 km̸/l. Claro, para conseguir chegar a esse patamar é preciso usar todas as técnicas já conhecidas por todos para economizar, como freio motor, evitar ficar com o carro parado com motor funcionando, acelerar muito apenas em ultrapassagens, etc.
Se pisar forte ele vai beber proporcionalmente ao seu pé, como em qualquer carro.
Uso 3 tanques por mês, e mais uma vez comparando com o Gol, no Peugeot ganho em média 50 km de autonomia a cada abastecimento com a mesma quantidade de gasolina, no uso urbano. Na estrada, a autonomia é sempre na casa dos 700 km, em relação ao Gol obtenho vantagem de 100 km na autonomia, lembrando que o tanque de ambos possui 55 litros.
DESEMPENHO
Para mim, que saí de um carro 1.0, qualquer motor superior me faria sentir potência. A sensação de subir ladeiras sem preocupação de desligar o ar condicionado, subir uma serra sem esticar marchas para o carro “andar” é indescritível. Só quem já passou por esse upgrade sabe dizer como é bom.
Enfim, estou feliz com o desempenho do motor 1.5 do 208, não é de grande potência (89 e 93 cv), mas o torque é muito bom (13,5 e 14,2kgfm a 3000rpm), aliado ao baixo peso do carro (1076 kg) é uma ótima pedida para a cidade.
Suas retomadas também são boas, ganhou do Fiesta 1.5, C3 1.5, Punto 1.6 e Sandero 1.6 nas provas 80-120 km/h e 100-120 km/h, usando etanol nos testes de uma revista. Impressionante, não acham?
Na estrada, para quem viaja com poucas pessoas e bagagem é excelente também, mas não recomendo viagens de cinco pessoas com bagagem, vai faltar força nas ultrapassagens.
A vedação acústica é muito boa de forma geral e o carro desliza pelo asfalto sem aquele barulho ensurdecedor do motor invadindo a cabine. Só começa a incomodar assim que a rotação ultrapassa os 3.500 rpm, quando o carro está por volta de 130 km/h. A 100km/h o ponteiro marca quase 2.800 rpm.
Única ressalva vai para os engates do câmbio que deixam a desejar, mas com o tempo você consegue se adaptar ao seu funcionamento e suas as trocas de marcha passam a ser quase imperceptíveis.
As relações de marcha são longas, mas não pense que vai faltar fôlego. Acho um ponto negativo as frenagens em velocidades superiores a 80km/h, às vezes não passa muita segurança, mas nada que ponha os ocupantes em risco, na verdade é uma sensação por achar que chegou o fim do curso do pedal.
Mas numa emergência, colocando força de verdade, você percebe que o pedal afunda e o carro realmente freia com força.
INTERIOR
De forma genérica, considero o Peugeot 208 um carro muito bonito, o acabamento interno é realmente muito bom, para quem possui carros nessa faixa de preço (R$ 40.000 a R$ 50.000) pode entrar em um para conferir a diferença.
Seu volante de raio reduzido é viciante, garante uma boa dirigibilidade. A assistência elétrica progressiva da direção o deixa bem firme em altas velocidades e em baixas garante conforto total, uma leveza notada por todos que o dirigem.
O bagageiro é bem espaçoso (318 litros), melhor que o do Gol, possui maior distância entre o banco traseiro e a tampa do porta malas, garantindo espaço para bagagens maiores.
O espaço da cabine também é considerável, mesmo para pessoas mais altas. A disposição volante/velocímetro criticada por muitos nunca foi um problema para mim. Enxergar o velocímetro por cima do volante é bem melhor; e com todos os ajustes tanto do banco quanto da coluna de direção, acho que poucas pessoas terão problema com visibilidade.
A posição de dirigir se ajusta totalmente à sua maneira, a coluna de direção configurável em altura e profundidade, banco do motorista com ajuste de altura também.
Atrás, apenas dois adultos vão com conforto.
Ele possui cinto de 3 pontos para todos os ocupantes, perde apenas encosto de cabeça no meio do banco traseiro (apenas na versão top 1.6). A central multimídia é muito boa, o GPS funciona bem, o computador de bordo exibe informações nela, o som preenche a cabine, mas deixa a desejar nos graves.
Um detalhe: ela não possui entrada para CD, contando apenas com USB, Bluetooth e auxiliar (P2).
Particularmente, não tenho problemas, pois minhas músicas sempre estão no celular ou pen drive. Outro detalhe é que ela possui uma superfície levemente fosca, o que não deixa tão visível as marcas de dedo na tela.
EXTERIOR
Gosto muito do design do 208, as lanternas em LED na traseira são um diferencial. O capô de tamanho reduzido completa o visual frontal, dá a sensação que o carro é pequeno, mas as grandes portas já conferem maior robustez na lateral, denunciando o grande entre-eixos (2,54 m).
Também é um tanto largo, mas só é percebido isso pela traseira, ou então parando ao lado de outro carro para comparar.
Gosto muito das rodas que vieram no modelo 2014 de alguns Active Pack como o meu, não sei por qual motivo pararam de fabricar esse modelo estrela com 5 raios pintada na cor prata perolizado e voltaram para a mesma de 2013 com raios finos e acabamento diamantado.
A Peugeot do Brasil, ao nacionalizar o 208, fez modificações externas para melhorar a vida dos consumidores como o aumento do ângulo de ataque no carro, se é que posso chamar assim para um carro pequeno.
Certos lugares em que eu passava com o Gol e eventualmente a parte inferior do para-choque dianteiro encostasse no chão, com o 208 não encosta mais. Sigo com quase um ano e a lataria continua em perfeito estado.
REDE AUTORIZADA
Mais uma vez desmistificando a fama da marca francesa, não fui mal atendido. Desde a compra até o pós-venda sempre fui bem tratado pelos funcionários da concessionária Peugeot de João Pessoa.
As vezes que estive por lá sempre me deram atenção e demonstraram interesse em entregar o veículo o mais rápido possível. Os serviços foram realizados a contento. Abrindo espaço para contar o porquê das minhas visitas; duas revisões e instalação de acessórios, nenhum problema apresentado a não ser um rangido no banco do passageiro.
Ainda não tive tempo de deixar o carro para averiguação. As revisões acontecem a cada 10.000 km ou um ano, excelente para quem anda pouco no carro, fugindo à regra de 6 meses da maior parte da concorrência.
Custos:
1ª Revisão – R$: 240,00 (Troca de Óleo Sintético INEO 5W 30 + Anel + Filtro de Óleo + liquido limpa vidros + de 15 Verificações + Mão-de-obra)
2ª Revisão – R$: 390,00 (Troca de Óleo Sintético INEO 5W 30 + Anel + Filtro de Óleo, Ar, Combustível e pólen + liquido limpa vidros + de 15 Verificações + Mão-de-obra)
3ª Revisão custará R$: 240,00
Alinhamento, balanceamento e rodízio – R$: 80,00.
Seguro: R$: 2.100,00
PS: Na segunda revisão constataram que o amortecedor dianteiro direito estava “suando”, segundo o mecânico pode ter sido problema de fabricação do mesmo. Foi trocado em garantia. Na prática não alterou em nada a dirigibilidade, pois ele não vazou, apenas suou.
CONCLUSÃO
Com 20 mil quilômetros rodados, no meu antigo Gol já tinha visitado a concessionária pelo menos 8 vezes, sem ajuda nenhuma do estabelecimento, mecânicos que só sabem fazer revisão e não conseguem solucionar nenhum problema eventual que seu carro possa ter.
A central de atendimento da Volkswagen não lhe passa nenhuma segurança, foram dois anos de muita luta para conseguir inúmeras peças em garantia. Vários foram os dias que passei sem carro e sempre que fazia visitas “surpresa” à concessionária constatava o que já era esperado, nenhum mecânico sequer olhando para o meu carro.
Então, chegar aos 20 mil quilômetros num Peugeot sem nenhum problema apresentado já está sendo uma evolução enorme. Visitar a concessionária apenas na época de revisão era algo estranho pra mim.
Em suma, recomendo o carro para aquelas pessoas que fogem do 1.0, gostam de um requinte inexistente na concorrência e que oferece um bom desempenho quando não carrega muito peso. Para quem procura um hatch com desempenho melhor vá de Fiesta 1.6.
Comprei o Peugeot com medo? Sim, muito medo pela sua fama. Porém, hoje não tenho mais, garantia de 3 anos é uma tranquilidade. Ando feliz num carro completo, bonito e econômico. Até agora não tive problemas com ele, se tiver, voltarei ao NA para compartilhar com os amigos leitores.
Por José Montenegro
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