Nos anos 90, quando houve escassez de etanol e preços elevados nos postos, milhares de pessoas decidiram converter seus carros a álcool para gasolina.
O sentido inverso era raro e ainda é, com pouca gente se aventurando em trocar o combustível originalmente gasolina por etanol. Mas será que essa mudança realmente vale a pena?
Hoje em dia, com o preço em que o álcool está sendo vendido, esta conversão pode valer a pena em locais onde ele é mais barato. Podemos citar estados como Goiás, Mato Grosso e São Paulo como locais vantajosos neste sentido.
No restante do país, não vale a pena.
Os carros mais antigos, os clássicos e alguns dos anos 90 são mais fáceis de serem adaptados para o novo combustível.
Outras pessoas preferem usar o álcool por conta do forte cheiro de gasolina, especialmente quem tem problemas respiratórios ou que mantém seu carro em local fechado.
Qualquer intervenção mecânica, por mínima que seja, atualmente gera um custo bem grande, especialmente de mão de obra. Se o carro for muito antigo, certas peças e componentes próprios para álcool custam pequenas fortunas que podem arruinar o sonho de uma conversão feita da forma correta.
Fazer adaptações caseiras e sem conhecimento técnico pode custar ainda mais caro, podendo inclusive arruinar o propulsor. Lembre-se que um dos pontos que mais se alteram entre motores a gasolina e álcool é a taxa de compressão, bem mais elevada no segundo caso.
Por conta disso, deve-se encontrar um profissional com experiência nesse tipo de conversão, que é bem diferente daquela tradicionalmente conhecida, feita para se ter no carro o gás natural ou GNV.
Conversão para álcool quando se busca mais potência
Para buscar potência maior, o etanol é uma alternativa em relação à gasolina e sem a necessidade de se intervir com turbocompressor, mantendo assim a originalidade parcial do carro, especialmente se for um clássico.
Como o álcool lida melhor com taxa de compressão maior, quanto mais dessa carga, melhor o rendimento energético. Por isso, geralmente os motores flex apresentam potência e torque superiores com etanol, mas existem exceções.
Alguns motores com turbo e injeção direta flex mantêm os números originais com gasolina, assim como acontece em motores aspirados da Nissan, que decidiu fazer a mesma coisa por aqui. Já no Honda HR-V, o 1.8 i-VTEC é o único do país (e talvez do mundo) onde os números com etanol são inferiores aos da gasolina.
No passado, os motores não flex geralmente tinham 10 cavalos ou mais de potência em relação aos equivalentes movidos por gasolina. Em média, um motor a gasolina funciona com 9:1 de taxa de compressão, enquanto um movido por álcool fica na casa de 12:1.
Os Flex circulam entre 10:1 e 11:1 para atender aos dois combustíveis. Porém, esse acréscimo em performance vem também com aumento de 30% no consumo. Por isso, não vale a pena em termos de economia, apenas se o preço do combustível estivesse muito mais baixo que atualmente.
Cheiro e emissão
Outro motivo apontado acima é o cheio forte da gasolina, que pode incomodar alguns. No álcool, o cheiro é levemente adocicado por conta de sua origem, a cana-de-açúcar. Nem todo mundo gosta desse cheiro, mas ele é menos agressivo que o da gasolina, que é um derivado do petróleo e que tem um odor muito mais forte e tóxico.
No caso das emissões, o etanol naturalmente é mais limpo que a gasolina, emitindo 25% menos monóxido de carbono e 35% menos óxido de nitrogênio (o vilão do Dieselgate).
Apesar de não ser totalmente limpo, embora seja considerado um combustível de carbono neutro, ele emite também dióxido de carbono. Este funciona como um agente direto no efeito estufa e no consequente aquecimento global.
Partindo para conversão
Uma das primeiras coisas que se deve ter em mente é que você não terá um trabalho fácil. A conversão feita da forma correta vai exibir muito trabalho, peças e componentes específicos e, o mais importante, um bom dinheiro.
Fuja de propostas e ofertas que mudam o combustível do carro como um passe de mágica. Softwares e programas que fazem o carro passar de gasolina para etanol são balela e detonarão seu motor. Lembre-se, não existe almoço grátis.
Deve-se entender que não só a parte de injeção ou alimentação do motor precisa ser adaptada, mas também componentes internos e externos que estarão em contato direto com o etanol.
Este combustível vegetal provoca uma aceleração na corrosão de peças e componentes que entram em contato com ele. Por conta disso, todas as partes precisam ser mais resistentes à ação corrosiva do álcool.
Isso significa que, além de carburador e injeção, dutos e mangueiras precisam ser mais fortes, bem como anéis, juntas, bicos injetores, etc. Até mesmo a bateria precisa ter amperagem maior para suportar picos de voltagem superiores, além de que o sistema de refrigeração necessitará de alteração por conta da faixa de temperatura de trabalho do motor, que será maior.
Outro ponto é que o cofre do motor terá de receber um kit de partida a freio com injetor manual ou elétrico, para que o carro possa funcionar e se aquecer mais rapidamente em dia frio, outro inimigo do carro a álcool.
Mas é somente isso? Não. Lembra da taxa de compressão? Ela é a relação entre o volume aspirado e o volume da câmara de combustão com o pistão em PMI (Ponto Morto Inferior) e PMS (Ponto Morto Superior).
Em motores a álcool numa comparação com os movidos por gasolina, o pistão tem uma cabeça diferente, que ocupa mais espaço no volume da câmara, acentuando a compressão. Por isso, um dos itens substituídos é o pistão.
Carburador
Nos carros com carburador, apesar de existirem kits para conversão, o melhor é ter uma peça originalmente feita para esse combustível por causa da durabilidade e melhor ajuste. O carburador de um carro originalmente a álcool é niquelado, ou seja, tem uma camada de proteção para evitar que o álcool corroa as peças onde ele passa.
Além disso, para uma conversão bem feita, necessita-se a troca do filtro de combustível, mas as bombas vendidas atualmente geralmente são resistentes aos dois combustíveis. Se não houver, coloque uma original a álcool.
Junta do cabeçote a álcool também confere maior resistência, assim como a troca de pistões e anéis. As velas também precisam ser trocadas por equivalentes a etanol.
Um kit de partida a frio com injetor é necessário, bem como válvula termostática para álcool, pois a faixa de temperatura ideal é mais elevada. Recomenda-se a troca de mangueiras e dutos que entrem em contato com o etanol.
O escapamento não precisa ser trocado, pois ele já tem resistência ao combustível, o mesmo em relação ao tanque. Por fim, o motor precisa ser regulado para o novo combustível, a fim de obter o melhor rendimento.
Injeção eletrônica
Já com injeção eletrônica, é necessário trocar os bicos injetores por equivalentes mais resistentes à corrosão do etanol. Dutos de PVC e mangueiras nesse caso já são resistentes e não precisam ser trocados.
No caso da bomba, que é elétrica, vai depender se esta é ou não resistente ao etanol, mas ela precisa de maior vazão de combustível nesse caso. Nem sempre dá para saber, na dúvida, troque por uma que funcione com etanol ou flex, dependendo do caso. Esperar que ela falhe é perigoso. O kit de partida a frio, mais válvula termostática e a devido reprogramação da injeção são necessários.
Mas ainda não acabou, pois as velas podem ser trocadas por equivalentes mais quentes, mas o aumento na taxa de compressão vai exigir até a substituição das bronzinas (casquilhos) devido ao maior esforço.
Alguns acabam por rebaixar o cabeçote, a fim de manter os pistões originais e isso pode acarretar problemas. Outros optam por juntas mais finas para criar o mesmo efeito de aumento da taxa de compressão.
Alguns trocam válvulas e até o comando para fazer essa alteração, mas aí já é preparação do motor e não somente uma conversão. No final, financeiramente não vale a pena.
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