Ele criou o “efeito Dolphin” e viu surgir um rival que o obrigou a se mexer, porém, com dose acima do ideal. Mas, mesmo assim, o BYD Dolphin Plus cumpre seu papel, respondendo ao concorrente e ainda entregando um pacote interessante. Só isso basta? Veremos.

Na avaliação NA, o Dolphin Plus chega com seus 204 cavalos e uma bateria Blade robusta, que lhe permite 330 km de autonomia no ciclo “apertado” do Inmetro, trazendo desempenho, eficiência, conforto e suas excentricidades.

Por isso tudo, se paga R$ 179.800 e, cá para nós, já estamos mal-acostumados com preços altos em carros elétricos e o Dolphin Plus já sofre com sua própria ousadia, pelo menos a do irmão Diamond de R$ 149.800.

A culpa é dele mesmo, afinal, puxou uma galera que era bem mais cara para sua própria faixa de atuação… Então, diante disso, vale a pena ter um Dolphin Plus?

Novo Honda Fit?

Por muitos anos o Honda Fit foi o ponto fora da curva para muita gente, mas ele morreu diante dos SUVs. Então, eis que chega um hatch com cara de minivan lá da China e com preço agressivo, conquista um público com sua eletricidade e um estilo que lembra aquele velho japonês.

Parecendo menor que a realidade, o BYD Dolphin Plus tem um jeito simpático de se apresentar, sem os exagerados característicos de carros asiáticos, ainda que tem lá seu excêntrico conjunto ótico traseiro em LED com linhas trançadas.

É um contraste com a frente mais limpa, com faróis ful LED compactos.

A sigla BYD, que o povo identifica como “CYE” ao olhar pelo retrovisor, se destaca no acabamento texturizado do que seria uma grade, tendo o para-choque frisos em preto brilhante e um desenho esportivo na base, o que corrobora com seu desempenho.

Com pintura em dois tons com preto e cinza, o Dolphin Plus se destaca, ainda mais com suas rodas de liga leve aro 17 polegadas com pneus 205/50 R17, que sugerem as tonalidades, ainda que sejam pintadas de cinza e branco.

Tendo pequenas vigias nas colunas A e C, como no Honda Fit, o BYD Dolphin recorda o japonês e agrada pela proposta de sair do modismo dos SUVs, que já irrita parte do mercado, que passou a correr atrás de picapes para não ser mais do mesmo.

As maçanetas embutidas limpam a carroceria, que tem vincos acentuados em forma de seta para ressaltar sua fluidez visual.

Atrás, as linhas de LED trançadas, já citadas, destacam não as lanternas, mas a frase “Build Your Dreams” que, na tradução do inglês significa “Construa seus sonhos”.

Acompanhamos a BYD desde antes de 2010 e essa mensagem, agora, nunca foi tão verdadeira, afinal, quem hoje estaria andando de carro elétrico, ainda mais chinês, nesse país?

Aliando a lembrança de um carro disruptivo numa proposta igualmente fora da curva para a atualidade, o BYD Dolphin Plus é esteticamente a cara da mudança.

Reconhecível em qualquer lugar, sempre sob a questão: “esse carro é aquele elétrico, né?”. Sim, o próprio, só que mais potente.

Dentro, o ambiente escurecido do BYD Dolphin Plus agrada aos brasileiros, já acostumados com esse padrão, bem distinto da preferência dos chineses, sempre de cores mais claras.

Como comum na marca, as linhas do acabamento exploram o movimento, seja no painel com difusores de ar em forma de turbinas num fundo preto brilhante ou nas maçanetas proeminentes que reproduzem a forma das nadadeiras do golfinho, que dá nome ao carro.

O acabamento texturizado de boa sensibilidade ao toque nas portas com speekers e no painel, mostram que a BYD não quer apenas o visual que inspira luxo, mas também os materiais.

O revestimento em couro de dois tons do volante, mais o soft touch de painel, portas e console, dão uma clara indicação que a mudança proposta não é apenas a elétrica.

Iluminação interna em LED, teto panorâmico com persiana elétrica comandada por voz, assim como vidros e muitas outras coisas, também fazem parte do pacote, que chama mais atenção de quem está dentro (e fora) pela multimídia D-Link com sua tela de 12,8 polegadas giratória.

Nas duas posições, funciona tudo, exceto o Waze, que só opera na horizontal, uma pena…

Nesse “dispositivo móvel” (em todos os sentidos), vemos ainda o monitoramento em 360 graus com projeção 3D do carro e imagens individuais, que até mede a distância para os objetos mais próximos do carro.

Ambos, tela e 360, são ajustados no volante estiloso, cuja coluna sustenta o cluster de 5 polegadas, que ainda tem cara de carro chinês “barato”.

Tem ainda outros elementos estéticos no topo do painel, sempre alusivos ao golfinho, assim como um interessante console com elemento vazado, que sustenta o carregador indutivo de smartphone e duas bases para celulares, fora o espaço sob o apoio de braço integrado.

Tem porta-objeto com persiana e botões “tambores” para modos de condução, freio de estacionamento e auto-hold.

Logo acima, mais tambores para marchas, nível de regeneração, pisca-alerta, controle de estabilidade, climatização e volume.

Nesse conjunto, a posição P do câmbio fica no lado esquerdo desse conjunto cilíndrico. Sobre a tela giratória, deitada é a posição normal, mas nessa, atrapalha o fluxo de ar do difusor logo atrás. Estranho, né?

Sem limpador automático ou retrovisor eletrocrômico, o BYD Dolphin Plus poderia dar um pouco mais nesse aspecto, mas na somatória, ainda fica no “azul”, especialmente por ter pacote ADAS, retrovisores com rebatimento elétrico e na coluna de direção com ajuste em profundidade, algo inexistente na versão Diamond.

Nas telas digitais, o cluster tem informações demais e a Di-Link permite fundo claro ou escuro, além de temas de cores como num tablet.

Aliás, basicamente ela é isso mesmo, inclusive dando acesso a aplicativos e muitas funcionalidades, desde a programação de recarga até login para aplicações pessoais.

A atualização do carro é feita por ela mesma e demora 23 minutos em 4G, deixando o carro inoperante nesse período.

Bem espaçoso internamente para seu porte, o BYD Dolphin Plus tem bancos envolventes de design esportivos e boa mescla de cores nesse padrão Delan Black & Atlantis Grey, reproduzindo o design oceânico da linha a qual pertence o modelo.

Os bancos dianteiros têm ajustes elétricos e o acabamento dos assentos é bom, com os apoios de cabeça integrados ajustáveis e elementos vazados em preto brilhante, que elevam o padrão visual interno.

Atrás, sem medo de cruzar as pernas e tem até apoio de braço central com porta-copos, mas todas as entradas USB são do tipo C.

No bagageiro, os 345 litros são ótimos, com o banco traseiro bipartido, fica ainda maior. Tem um assoalho móvel e kit de reparo, já que não tem estepe.

Rápido até demais

O BYD Dolphin Plus usa o motor do irmão maior, o Yuan Plus e assim entrega 204 cavalos e 31,5 kgfm, num carro que sairia bem com 170 cavalos, o que, aliás, acaba de ser lançado na China na série especial Honor Edition.

Todavia, quando foi produzido, a Plus não tinha outra opção acima dos 95 cavalos da Diamond. Ou seja, era 8 ou 80…

Com isso, temos um carrinho de 4,290 m de comprimento, 1770 m de largura, 1,570 m de altura e 2,700 m de entre eixos, com uma cavaria mais que suficiente para um bom desempenho.

Ele é até maior que a versão Diamond, que mede 4,125 m, mas não se percebe isso e nem seu peso de 1.658 kg.

Tendo tudo isso, não é de se esperar que ele vá de 0 a 100 km/h em 7 segundos e alcance 160 km/h. É tanta força que nem a BYD divulga a potência dele na ficha técnica…

De qualquer forma, no modo Sport, o Dolphin Plus arranca com vigor de um carro esportivo que ele não é. Sim, não espere por um Golf GTE ao assumir o comando deste chinês.

Por mais rápido que seja, e ele realmente é, sua dinâmica de condução é a de um carro urbano, com suspensão macia, mesmo sendo multilink atrás (eixo de torção na Diamond de 95 cavalos).

Tem boa estabilidade de fato, mas para um desempenho que no modo Eco é satisfatória.

Mesmo com rodas e pneus largos, o foco é o conforto e não a performance, o que já dissemos. Só tem tu, vai tu mesmo, ainda que isso seja dispor de mais do dobro da cavalaria da versão que custa R$ 30.000 a menos.

Para quem gosta de números, isso massageia o ego, pois o BYD Dolphin Plus deixa muito carro de pegada esportiva na aceleração.

Acreditamos que ainda faltem aos chineses uma longa temporada com os alemães, de modo que versões como a Plus do BYD Dolphin, ganhem uma calibração geral mais de acordo com sua performance.

E olhe que estamos falando de um carro com centro de gravidade baixo por conta da Blade, então, só ajuste de suspensão e direção, já trariam um resultado ótimo.

Rápido em qualquer dos três modos (Eco, Normal e Sport), o BYD Dolphin Plus tem boa dirigibilidade na cidade. É ágil e fácil de estacionar.

Com retomadas sempre imediatas, não é um carro para ficar vendo o tempo passar no trânsito, já que sair rápido e até mesmo andar como um esportivo muito mais poderoso em meio à fluidez do trânsito.

Nas acelerações mais fortes, a frente tende a querer sair, já que a tração é dianteira e a força, como já dissemos, é exageradamente maior que o necessário, mas isso não é nada quando se sabe o que está fazendo.

Na economia, o BYD Dolphin Plus tem baixo consumo de energia, com média de 11,1 km/kWh na cidade, 10,0 km/kWh a 80 km/h, 7,14 km/kWh a 100 km/h e 5,88 km/kWh a 120 km/h.

Pegamos ele com autonomia de 481 km e chegamos a 100% com 503 km, bem acima dos 427 km do declarado e muito acima dos 330 km do PBEV.

Diferente de outros carros elétricos, o modo regenerativo alto não é tão forte na redução de velocidade nos carros da BYD, mas ajuda muito a recuperar parte da energia.

Com boa autonomia, a tendência à “ansiedade de alcance” é menor, ainda mais quando se encontra carregadores rápidos para a bateria de fosfato de ferro e lítio.

Em casa, é preciso uma boa dose de paciência, já que a célula de 60,04 kWh tem um tamanho grande para usar somente a tomada. Para 33% da carga total com 2,7 kW de carga passando pela tomada, demandou 7h52. Num carregador da Volvo, para 26% até a carga total, foram precisas 3h04.

Mas, plugando o BYD Dolphin Plus diariamente em casa, em média 8 horas, não se precisará de pontos de recarga públicos, pelo menos para a maioria dos deslocamentos diários.

É aquilo, sempre que estiver em casa, é bom deixar o carro plugado, se a frequência de uso for muito alta. Mesmo em cidades onde há somente 1 ou 2 pontos públicos, pode-se viver tranquilamente com um carro elétrico, especialmente morando em casa.

A BYD oferece até painéis solares domésticos por pouco mais de R$ 15 mil com instalação, então, a economia de energia será muito maior, já que o consumo é baixo para recarregar o BYD Dolphin Plus e sem comparação com o abastecimento equivalente de etanol, por exemplo.

Em média, se gasta R$ 40,00 por recarga completa para rodar os 330 km ditos pelo Inmetro, que sabemos ser exagerado. No navegador, o GPS mostra no mapa até onde você vai com a autonomia oferecida, assim como se pode localizar pontos de recarga na viagem.

Conhecemos um dono de BYD Dolphin Diamond que foi de Ribeirão Preto-SP para o Guarujá-SP e gastou pouco mais de R$ 60,00 em recargas pagas pelo caminho. Ou seja, num trajeto de 426 km com carro cheio e trânsito.

Então, dá para viajar, sim, só precisa planejar como todo piloto de avião faz.

Com direção elétrica leve e de boa resposta, assim como freios bem eficientes, o BYD Dolphin Plus tem um conjunto de suspensão que absorve de modo razoável as imperfeições do solo, mas sofre por ter pneus largos e curso pequeno diante de lombadas malfeitas, depressões e falhas no pavimento.

O pacote ADAS com controle de cruzeiro adaptativo, assistente de faixa e saída de pista, entre outros, torna a direção do BYD Dolphin Plus ainda mais segura, com o carro bem centrado na faixa e bom controle direcional, muito próximo ao oferecido pelo Honda Sensing, por exemplo.

Vale a força?

Essa é a pergunta de milhão… O BYD Dolphin tem uma boa versão Diamond, que nem precisa ser rápida como a Plus para vender bem, além de custar muito menos, mas este é um problema pessoal do hatch elétrico.

A versão topo de linha é bem equipada, ainda que lhe falte um ou outro item, está verdadeiramente bem.

Já no mercado, o Dolphin Plus se posiciona ao lado do rival ORA 03 GT, que custa R$ 184.000 e tem 171 cavalos, sendo mais lento e com menor alcance.

Ele também tem no Peugeot e-2008 um rival, mas estes está com preço promocional de R$ 159.990, mas é menos potente, ainda que o alcance seja bom.

O Hyundai Kona Electric estava em promoção, mas parece que voltou ao preço atual. O Nissan Leaf está apenas por aluguel.

Enfim, em evidência no momento e gozando do prestígio de ser o carro elétrico mais vendido no mercado nacional, com 1.820 só em janeiro, o BYD Dolphin é a melhor escolha, ainda que a Plus não seja tão competitiva em preço como a Diamond. Mas, por R$ 180 mil, vale pelo conjunto da obra.