No início de 2014 precisei adquirir um veículo médio para deslocamentos essencialmente urbanos. Possuía uma Ranger 2.3 ano 2008 cabine-dupla a gasolina que usava para viagens de lazer e trabalho no interior do Ceará e Paraíba.
Como não iria mais viajar para o interior devido a um novo direcionamento profissional (na verdade, por expressa e definitiva ordem da minha senhora), decidi vender a picape.
A pesquisa antes da compra
Após vender a Ranger por R$ 30.000 resolvi pesquisar marcas e logo de início descartei Volkswagen e Fiat por apresentarem modelos defasados e caros. Modelos da Renault me pareciam mal acabados. Resolvi então verificar Toyota Etios e Nissan Versa nas respectivas concessionárias.
Gostei dos dois, apesar da evidente simplicidade de acabamento e aparente fragilidade. São feinhos, concordo, mas dentro do que pesquisei me pareceram as opções mais viáveis. No entanto, nenhum dos dois tinha versão automática, o que me pareceu uma falha inaceitável.
Abro um parêntese para explicar que eu tinha dinheiro suficiente para adquirir qualquer desses modelos a vista, mas sempre preferi comprar carros seminovos ainda no período da garantia do fabricante.
Assim tinha sido com o Peugeot 206, VW Bora e Ford Ranger que tive anteriormente. Cheguei a testar um C3 Picasso automático e até que gostei do espaço e conforto, mas o preço cobrado me parecia exagerado – R$ 35.000 por um modelo 2012, portanto ainda na garantia. Mesmo assim, tornou-se a primeira opção de compra.
Na Ford o único carro disponível era um Fiesta 1.6 ano 2013 (modelo antigo) na queima de ponta de estoque, mas não vi nada que justificasse pagar R$ 36.000 num carro em fim de carreira. E com câmbio manual.
Abatido e desencantado da vida, retornei a concessionária Toyota e já estava me conformando em pagar R$ 45.000 por um Etios hatch 1.5. O sonho do carro automático seria adiado por mais um tempo.
Num daqueles acasos da vida, o celular do vendedor toca e pelo tom de voz macio e manhoso da conversa, parecia ser a namorada do rapaz. Como não eu não queria ouvir aquela conversa melada, fui dar uma voltinha no salão dos carros usados ao lado.
Fui olhando os carros e lá no fim do galpão estava um Honda CR-V ano 2008 ofertado por módicos R$ 46.000. Impecável, airbag, ABS, som, bancos em couro, baixíssima quilometragem (32 mil quilômetros!) e, olha só, automático!
Sei que nesse ramo rolam umas “mágicas” de diminuir a quilometragem, mas conferi no Manual do Proprietário as datas das revisões e tudo batia perfeitamente. O carro era tão pouco rodado que levou 3 anos para fazer a revisão dos 20 mil km!!
Pronto, era aquele! Depois de muita conversa fechamos o negócio em R$ 43.000 a vista, com a loja assumindo os custos de transferência e IPVA. Chorei mais um pouco e ainda saí com o tanque cheio.
Depois de um ano
Bem, após 1 ano e quase 10 mil km rodados, o carro continua perfeito. Considero o CR-V uma station-wagon disfarçada. Quatro adultos podem fazer uma viagem de 2 horas sem reclamação. O porta-malas leva bagagem suficiente para um fim de semana na praia sem aperto.
A suspensão é sincera e não esconde as imperfeições do asfalto e transmite a sensação de “grudar” até em curvas fechadas. Exatamente o mesmo comportamento de um Bora 2006 que tive anteriormente.
A direção é firme, leve e exata, sendo possível esterçar totalmente com uma mão sem o menor esforço.
Interior e acabamento
O painel é de uma simplicidade franciscana, pois todos os controles de faróis, limpadores e lanternas estão nas chaves atrás do volante. Nada de botões, tudo está ao alcance dos dedos. O freio de estacionamento na verdade é uma trava acionada com o pé esquerdo, o que me faz lembrar da Ranger que usava o mesmo recurso. Simples e prático.
O câmbio automático de 5 marchas é o ideal para uso urbano e mesmo para viagens. Quase não se sente a mudança das marchas mas é perceptível um discreto “vacilo” nas retomadas mais intensas.
É questão de assimilar uma nova dinâmica de condução e mudar conceitos e comportamento. Mas só pelo fato de nunca mais na vida ter que pisar em embreagem, já vale a pena. Acaba se acostumando.
Destaque para o brake-hold, que segura o carro em arrancadas em aclives e declives, um recurso que facilita a vida e melhora a segurança.
Outra coisa que destaco é o silêncio. O isolamento acústico é coisa de profissional.
Parece carro elétrico mesmo quando se pisa forte. Na estrada, com vidros fechados, a sensação é de se estar num quarto fechado.
E usando o controle de velocidade de cruzeiro no volante (piloto automático para uns), tem-se a impressão de ser passageiro no carro.
Os itens de conveniência são bem pensados e distribuídos, tendo porta-trecos por toda parte. Todo espaço é aproveitado de maneira inteligente. Abaixo do rádio tem um onde cabe perfeitamente minha carteira e celular.
Tem mais 2 nichos abaixo da alavanca de câmbio e acima do porta-luvas existe outro porta-qualquer coisa que quebra um galho danado com os apetrechos de beleza da distinta patroa.
Acima do retrovisor, tem um porta-óculos espelhado que ao abrir serve até como retrovisor panorâmico interno! É mimoso!
Tem saídas de corrente de 12 volts no painel, no interior do console central (que na verdade são dois conjugados!) e no porta-malas. Não tem mais desculpa para deixar o celular descarregar…
O porta-malas é dividido horizontalmente por uma prateleira dobrável, o que permite conduzir volumes fora da visão dos “amigos do alheio”. A grande sacada é o rebatimento dos bancos traseiros que permite um espaço enorme sem degraus, dando para carregar objetos com até 1,50 m de comprimento.
Tudo no carro é pensado para conforto familiar e praticidade de uso. Só tem o necessário e o suficiente. Quem deseja performance esportiva ou desempenho mais radical, aconselho procurar outro carro.
Consumo
Quanto ao consumo, no trânsito urbano andando manso o motor 2.0 monocombustível a gasolina consegue fazer 7,8 km/l com picos de 8,2 km/l, medidos e calculados religiosamente em cada abastecimento. O computador sempre acusa mais, entre 8,4 e 8,6 km/l, mas prefiro confiar no lápis e calculadora.
Bom, para quem fazia de 6,8 a 7,0 km/l com uma Ranger 2.3, está de bom tamanho…
Mês passado comprei 4 pneus novos Dunlop, pois os que rodavam ainda eram os originais Bridgestone aro 17. Rodaram 42 mil km em 7 anos, o que me pareceu bastante razoável.
Ainda rodariam mais alguns meses, mas com pneus novos sente-se que o carro fica mais no chão e na mão. Os freios continuam confiáveis e silenciosos.
Pretendo ficar com o CR-V até os 100 mil km ou 10 anos de idade, o que ocorrer primeiro. Nesse ritmo, em 2018 ele estará com uns 70 mil km mas mesmo assim prefiro passá-lo adiante. Explico o motivo.
Manutenção
Sempre fiz uma cuidadosa manutenção preventiva dos carros que tive e vejo o Manual do Proprietário como um catecismo. Afinal ele foi escrito por quem fabricou o carro e deve entender dele mais do que eu…
Troco óleo a cada 5 mil km (filtros com 10 mil) e mantenho todos os sistemas (freios, hidráulicos, elétrico, arrefecimento, etc.) no mais estrito controle.
Sei que daria para segurar o CR-V tranquilamente por mais um tempo mas também sei que perto dos 100 mil km começam a aparecer os primeiros reparos necessários que demandam tempo e dinheiro.
Apesar de ser um carro importado e de excelente procedência, ele roda nas ruas e estradas brasileiras e consome a nossa famosa gasolina “benta”.
É nessa altura que começam os problemas com suspensão, transmissão, motor, vedações, correias, retentores, embuchamentos, rolamentos, cabos, módulos eletrônicos e outras miudezas que costumam ser caras, além de tomar tempo e mais paciência ainda.
Sinceramente, aporrinhação com mecânico é a última coisa que eu preciso na vida. Essa eu passo.
Outra coisa é que pelo fato do CR-V ser monocombustível a gasolina, sempre haverá o risco da nossa bendita gasolina alcoolizada acabar detonando o motor e componentes a longo prazo. Prefiro não pagar para ver.
Quanto a pontos negativos, não consigo achar nenhum. O Honda CR-V está me servindo plenamente e cumprindo seu papel sem dar trabalho nem prejuízo. Para mim está ótimo e se melhorar, perde a graça.
Bem, é isso. Costumo dizer que achei e comprei essa latinha por puro acaso. Acontece até com quem tem sorte. O difícil foi convencer a patroa de ter saído dizendo que ia na loja comprar um carro zero e ter voltado para casa com um carro usado do mesmo ano do carro anterior!
Abraços a todos e obrigado ao Notícias Automotivas pela oportunidade.
Por Peraldiano
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