Montadora 100% brasileira ainda é apenas um sonho?

Agrale Marruá AM 200 CD

Mesmo sendo o quarto mercado do mundo e o sétimo produtor mundial de carros, o Brasil não possui uma montadora de automóveis 100% nacional. O México é outro exemplo, mas é praticamente uma extensão do americano, assim como o Canadá.

Mas voltando ao Brasil, não podemos dizer que não temos fabricantes de veículos 100% locais. Não é verdade, pois Agrale e TAC (em muito menor proporção) possuem capitais e histórias nacionais.

Mesmo assim, a Agrale fabrica caminhões, ônibus e jipes, mesmo segmento da TAC. E a Troller? Sim, a cearense é de origem brasileira, mas agora faz parte do espólio global da “Fordlândia”.

Um artigo do professor Ronaldo de Breyne Salvagni, titular da Escola Politécnica da USP, fala exatamente da falta de uma montadora brasileira, citando como exemplo Embraer, Petrobrás, Vale e Embrapa.

Uma empresa de porte nacional e até internacional, concentraria os esforços em P&D no próprio país, no caso o Brasil. E isso é o que não acontece com as montadoras instaladas aqui.

Elas até podem desenhar um carro ou modificar um motor, mas seu centro nervoso, o da criação de plataformas e motores, fica na matriz.

Leia também: Gurgel, a montadora brasileira

fabrica agrale

Os produtos tidos como desenvolvidos aqui, são meras adaptações de produtos globais em produção ou já fora de linha. E entra aí também a redução de custos para gerar lucro para as matrizes.

Uma montadora nacional não precisaria atender ao Inovar Auto, por exemplo, já que todo seu P&D estaria aqui. Aliás, o tal programa nem seria necessário nesse caso.

Isso porque a redução de custos seria convertida em maior conteúdo tecnológico nos carros 100% nacionais, já que o fabricante não precisaria emitir lucros ao exterior.

Assim, este ganharia maior fatia do mercado, obrigando as estrangeiras a correr atrás da bola…

Tecnologia para quem pode comprar

E dá para sonhar com uma montadora nacional? Sonhar não custa nada, a não ser para quem decide partir para torná-lo realidade. É um sonho caro, mas possível.

No passado, o Brasil já teve a chance de construir suas próprias marcas, mas com a ajuda sempre bem vinda do governo, isso acabou.

embraer 190

Agora o mundo mudou bastante (nosso governo também?), especialmente depois da ascensão dos chineses. Eles copiaram carros como podiam, já que o governo local libera essa possibilidade.

No entanto, o mundo não aceitou essas cópias da mesma forma que os produtos eletrônicos. Mais recentemente, tendo isso em mente, os chineses passaram a adquirir tecnologias de quem as tem para vender.

Magna Steyr, AVL, Bosch, Magneti Marelli, Bertone, Pininfarina, entre outros, fornecem suas tecnologias aos chineses, que assim podem criar produtos de origem 100% local. Lembrando que nenhum fabricante faz um projeto com 100% de peças de origem local.

O caminho para uma montadora 100% brasileira poderia ser através de acordos de cooperação ou representação de uma marca, em troca de off-set para o desenvolvimento de seus próprios produtos.

A malaia Proton começou assim com a Mitsubishi, da mesma forma que as marcas coreanas deram seu salto após os anos 90 com tecnologia adquirida com os japoneses.

Agora vemos até algumas marcas chinesas querendo projeção mundial.

O Brasil tem potencial financeiro e humano para isso, como lembra Salvagni. Hoje “exportamos” profissionais de nível internacional através das filiais das montadoras estrangeiras. É um caminho que a grande maioria dos profissionais da Embraer ou Petrobrás, por exemplo, não fará.

Enfim, uma montadora brasileira é um sonho, mas que pode ser realizado. Agora só precisamos de empreendedores que queiram realizá-lo. Caso contrário, continuaremos a chamar as montadoras atuais de “nacionais”.

[Fonte: Folha]

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Autor: Ricardo de Oliveira

Com experiência de 27 anos, há 16 anos trabalha como jornalista no Notícias Automotivas, escreve sobre as mais recentes novidades do setor, frequenta eventos de lançamentos das montadoras e faz testes e avaliações. Suas redes sociais: Instagram, Facebook, X