No Brasil, o cidadão comum leva constantemente o nariz de palhaço.
E isso também se aplica ao sistema Sem Parar, que tem trazido irritação constante a muita gente.
Nos últimos meses, em que passei a fazer constantes viagens a São Paulo, buscando veículos para fazer avaliações (qualquer avaliação de uma semana me custa pelo menos R$ 300) fui atacado por funcionários das cabines de pedágio, insistindo toda hora para que eu instalasse o Sem Parar.
Em uma viagem até Campinas, por exemplo, são 5 pedágios e 5 NÃO que você tem que dar.
E a cada vez que você passa no pedágio e tem que dizer NÃO, a irritação vai aumentando. Hoje, ao ver uma matéria no blog do jornalista Luis Perez, e também uma reportagem da Folha, resolvi escrever sobre isso aqui no NA.
O jornalista citado comentou uma coisa que até então eu não tinha percebido: as cabines de pedágio “normais”, para quem quer pagar com dinheiro, estão diminuindo a cada dia.
De umas 15 existentes, geralmente só a metade está funcionando. Ou seja, você vai sendo espremido para ter comodidade. Se não quiser pagar, fica com um serviço de qualidade cada vez pior.
Já a passagem de carros com Sem Parar aumentou… na maioria das praças de pedágio agora são duas, exclusivas, e abertinhas para você passar sem esperar nada.
Sistema maravilhoso esse, não? Não.
Você paga R$ 60,78 para aderir a um sistema que faz com que a concessionária daquela estrada tenha de empregar menos gente. (???)
Uma coisa que lhes alivia, lhes dá um lucro ainda maior, tem de ser pago, e o valor é alto, pois não estamos falando de 10 ou 20 reais de adesão, mas sim de 60. Depois disso, paga R$ 10,84 todo santo mês para poder usar o serviço. Sim, existe a adesão e depois a mensalidade.
No final de um ano, você pagou mais de 120 reais só para não esperar alguns segundos na hora de passar no pedágio. E depois de cinco anos, você paga os R$ 60,78 novamente. (???) Eita mordomia cara essa, hein??
E pensa que usar o Sem Parar é garantia de não ter dores de cabeça? Se você não tem dor de cabeça na hora de selecionar moedas para pagar o pedágio, tem de outras maneiras.
A reportagem da Folha cita que uma pessoa que estava em Jundiaí, no interior de São Paulo, teve um outro carro passando em um pedágio a 39 quilômetros dali, e o valor caiu na sua fatura mensal. O carro não era dele, mas foi cobrado como se fosse.
Já outras pessoas passam pelo Sem Parar e depois recebem multa, por passar sem pagar, a chamada evasão de pedágio.
Multa de 127 reais mais 5 pontos na carteira. Histórias do tipo sobre um serviço criado para agilizar a passagem dos veículos nos pedágios não são mais esporádicas – e já começam a ganhar espaço em entidades de defesa do consumidor.
Se até 2008 apenas uma reclamação foi feita no Procon contra o sistema Sem Parar, em 2009 já foram 17. E estas pessoas que me desculpem, mas Procon não adianta de nada. Há dois meses, fiz uma reclamação lá, sobre um produto que comprei no site do Magazine Luiza, que não recebi, e fui informado que a empresa teria até 30 dias para responder.
Depois disso o assunto viraria uma audiência no Procon, que a propósito, não tem poderes judiciais para fazer nada contra a empresa. Os 30 dias se passaram e nada aconteceu, nem mesmo recebi contato do Procon local. Resultado? Tive que entrar com processo no Juizado Especial Cível.
Mas, voltando ao assunto do Sem Parar, ele não serve para quem está cada hora com um carro. Eu tenho que comprar o chamado TAG e colocar em apenas um carro. Não posso retirar dele e usar em um Honda City que estou avaliando, e depois em uma pickup F-250.
Teria que colocar TAG em cada um deles. E pagar R$ 60 em cada veículo. Sem condições. E o Sem Parar continua crescendo, pois fomenta o tipo de atitude mais comum em nossa sociedade moderna, de que eu sou especial, eu sou VIP, eu sou prioritário.
Posso passar direto aqui na minha faixa especial ao passo que os pobres ficam esperando para entregar suas moedinhas. Em 2005, 32% dos veículos não paravam nas cabines devido à cobrança automática. Atualmente eles já são 51%.
E o problema é que tem motorista cobrado por lugar onde nunca esteve, carro taxado como caminhão, veículo barrado como se não fosse do Sem Parar e a queixa mais constante: as cancelas que não abrem, provocando freadas e acidentes.
A pessoa vai a 40 por hora, e a cancela não abre. Aí o carro bate nela, e vem o prejuízo de amassados e riscos, que a praça do pedágio não vai querer pagar.
E existe até caso de morte. Em 2009, houve até a morte de um condutor no km 36 da rodovia dos Bandeirantes, após uma carreta reduzir a velocidade porque a cancela do Sem Parar não abriu.
Há três anos, só no sistema Anchieta-Imigrantes havia dois acidentes por dia nas cancelas do Sem Parar – a empresa os classifica como “incidentes”, alegando que essas colisões eram sem danos físicos ou materiais. Sei.
Hoje, em dezembro de 2010, são 2,4 milhões de clientes do sistema Sem Parar. Cada um pagando 10 reais por mês. E mesmo assim eles não conseguem criar um sistema que funcione.
Ou parar de encher a paciência de quem não quer instalar Sem Parar no carro. Enquanto isso, a prestação de serviço para quem não usa Sem Parar vai piorando a cada dia.
Quer receber todas as nossas notícias em tempo real?Acesse nossos exclusivos: Canal do Whatsapp e Canal do Telegram!