No último final de semana de junho de 2010, tive a oportunidade de dirigir um Renault Logan. O carro era zero quilômetro e também foi possível avaliar a atualização de estilo aplicada ao veículo, agora sintonizado com o modelo europeu, lá, fabricado pela Dacia.
A Dacia, é um fabricante romeno fundado em 1968, que no princípio teve estreito relacionamento com a Renault. Em setembro de 1999, o fabricante foi adquirido pela marca francesa, e hoje é o braço corporativo da Renault no centro e leste da Europa.
O Logan é o primeiro projeto nascido na Dacia sob o comando da Renault, o objetivo, a concepção de um veículo de baixo custo para produção em países do leste europeu e também os países emergentes, como o Brasil.
Boa parte do que é questionável no Logan, é reflexo da filosofia de baixo custo. O perfil retilíneo dos vidros, carroceria e o aproveitamento de componentes de acabamento do antigo Renault Clio, evidenciam tudo isso.
Mas, o veículo ter como objetivo custar pouco não é problema, porque beleza é algo que fica em segundo plano se o preço do pacote justificar a compra.
Além disso, existem boas características.
A principal é o ótimo espaço interno, sobretudo para os passageiros do banco traseiro, algo que entendo como crítico nos veículos concorrentes, entre eles os que estão na frente no ranking de vendas: Fiat Siena, Volkswagen Voyage e Chevrolet Classic.
Portanto, é por compreender o objetivo do projeto e considerando as qualidades, considero o Logan um carro correto em sua proposta inclusive teria um na minha garagem como um veículo de uso urbano, sendo conduzido prioritariamente pela patroa.
Também é importante lembrar que compreender o carro e ressaltar as qualidades, vem contradizer o senso da maioria sobre o Logan.
Considero injusta e superficial as análises da maioria, quando consideram apenas a beleza.
Com isso em mente, irei apontar os defeitos que considerei graves no veículo e que passaram despercebidas em algumas avaliações que li.
Itens que realmente possuem alguma relevância na utilização do carro. Coisas práticas, esquecendo itens menos importantes ou subjetivos.
O Logan avaliado era o topo de linha (veja aqui Logan 2019: preços, motores, etc), equipado com motor 1.6 litro e 8 válvulas no cabeçote. O motor de 16v certamente ofereceria maior brilho ao desempenho do carro, porém este passou a ser exclusivo para o modelo superior, o Symbol.
Uma pena, pois o Symbol é muito pior que o Logan em diversos aspectos, sobretudo espaço para os passageiros do banco traseiro e visibilidade.
Mas o motor de 8 válvulas oferece desempenho compatível com a categoria. Abastecido com álcool, o motor se mostrou um tanto áspero e ruidoso. Apesar de o ruído provavelmente invadir o habitáculo pela economia de material fono absorvente.
Oferece um bom torque em baixas rotações e o uso do ar-condicionado não prejudica muito o desempenho geral.
A versão 1.0, mesmo com cabeçote de 16 válvulas, deve ser excessivamente lenta, como todos os veículos de carroceria sedan e motor de 1000 cm3.
Não foi possível medir o consumo, porém, havia ainda autonomia para mais de 350 km, segundo o computador de bordo. Caso este não seja mentiroso, o carro deve consumir algo entre 7 e 8,5 km/l abastecido com álcool.
Uma ótima marca para um motor flex. O acelerador é um tanto lento nas respostas e o assoalho possui um ressalto próximo ao pedal que atrapalha em muito em acelerações mais rápidas. Não compreendi a função desse ressalto.
O câmbio é muito ruidoso. Era possível ouvir o funcionamento dele em aclives mais acentuados. Algo como um diferencial velho sem óleo nenhum para lubrificar as pobres satélites e planetárias.
Os engates, poucos precisos até a quarta marcha e para a mudança para a quinta marcha, horroso. Andei alguns bons quilômetros no carro e não consegui passar a quinta marcha sem dificuldades nenhuma vez.
O acabamento interno, apesar de o modelo avaliado ser completo (leia também sobre o Sandero 2012), demonstra as características do projeto já citadas.
E até algumas situações interessantes, como ser equipado com airbags e volante revestido em couro, ao mesmo tempo que possui acabamento pobre nos estofamentos, sobretudo no revestimento anterior dos bancos dianteiros.
O volante possui empunhadura apenas boa, apesar de me parecer o mesmo volante do Megane. As maçanetas internas das portas ficam em uma posição horrível, onde o puxador de porta atrapalha em sua utilização.
A versão avaliada apresentava controle do som próximo ao volante, porém o componente atrapalha no momento de inserir a chave no contato para a partida. Mas a utilização desse controle do som é simples e conveniente.
Estranho o fato de o som, mesmo sendo o modelo topo de linha, não possuir frente destacável ou conectividade com dispositivos bluetooth.
Em resumo, o Logan é um carro honesto e cumpre o papel de carro espaçoso em uma faixa de mercado com preço mais baixo.
A versão completa já não vale a pena, pois mesmo bem equipado a proposta de carro de baixo custo conflita diretamente com os acessórios.
Se é possível falar em carro barato no Brasil. Se você tem o hábito de transportar adultos no banco traseiro e ainda precisa de um bom espaço no porta-malas, o Renault Logan é uma opção a ser considerada.
Texto de Raphael Hagi
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