A aposta das marcas em séries especiais para conquistar grupos específicos de consumidores é uma estratégia que vem se popularizando – reflexo de um mercado cada vez mais segmentado. É o caso da Fiat com a versão Sporting para o Uno.
Desde seu lançamento, o modelo conquistou um público jovem e descolado.
E, com esta versão, mira nas pessoas que desejam alguma esportividade, mas que não abrem mão da originalidade de seu carro. É claro que, na prática, essa esportividade é limitada – fica restrita à imagem e ao sobrenome.
O Fiat Uno Sporting, por exemplo, traz alterações somente na suspensão. O restante do conjunto mecânico é o mesmo das outras versões. O desempenho pode não ser tão empolgante, mas o carro cumpre seu papel de atrair olhares por onde passa e povoar o imaginário coletivo.
O Uno Sporting vem de uma linhagem tradicional. Nos anos 80 e 90, o modelo disponibilizava versões esportivas como a 1.5 R, 1.6 R e a famosa 1.4 Turbo i.e. Nos dias de hoje, o Uno esportivo é mais “humilde” – usa o mesmo propulsor das versões Way e Attractive. Ou seja, sob o capô está o motor Fire 1.4 Evo de 88 cv/12,5 kgfm com etanol e 85 cv/12,4 kgfm com gasolina.
As mudanças na suspensão fizeram o novo Uno ficar 2 cm mais baixo e traz molas mais rígidas em relação às versões Vivace e Attractive. A intenção é melhorar a dirigibilidade e fugir da imagem de “molenga” construída pela Fiat com a família Palio.
Além disso, a barra estabilizadora dianteira tem maior diâmetro – passou de 17 para 18 mm.
Só que, calçado com pneus de 15 polegadas e com 30 kg a mais, o Uno Sporting anda menos que as configurações Way 1.4 e Atracttive 1.4. É que os pneus tem maior atrito em relação aos de 14 polegadas das outras versões. E acabam “segurando” o carro. Bom para a dinâmica, ruim para o desempenho.
O Uno é o quinto modelo da Fiat a receber a linha Sporting – além de Siena, Punto, Strada e Idea. Como não poderia deixar de ser, o compacto veste o traje esportivo da marca, o que lhe dá um visual agressivo.
O pequeno traz spoiler para o para-choque dianteiro, faróis e lanternas com máscara negra, faixas e minissaias laterais, ponteira do escapamento dupla, aerofólio traseiro e adesivos nas laterais.
O interior conta com detalhes na cor laranja em bancos, portas e volante. Comandos do ar-condicionado e aros dos mostradores no painel de instrumentos também receberam grafismos exclusivos. No entanto o que mais chama a atenção são as cores berrantes. Três delas se destacam: Amarelo Indianápolis, Vermelho Modena e a nova Laranja Nemo – da versão avaliada.
Desde que começou a ser vendido, em dezembro de 2010, a versão Sporting 1.4 passou a ser a mais cara da linha Uno. A configuração duas portas parte de R$ 32.370 e a quatro portas custa R$ 34.380.
A lista de equipamentos é similar a de outros carros do segmento de hatchs “populares”. De fábrica vem com direção hidráulica, computador de bordo – pela primeira vez na linha Uno –, faróis de neblina, travas e vidros dianteiros elétricos.
Entre os opcionais, estão ar-condicionado, rádio CD/MP3/USB/Bluetooth, airbag duplo e ABS. O Uno ainda pode ser personalizado com itens diferenciados, com adesivos nas capas de espelhos retrovisores e maçanetas, pomo do câmbio, acabamento do freio de mão, moldura do painel de instrumentos, entre outros.
O preço do Uno Sporting com todos os seus opcionais é de cair para trás. Por R$ 41.491, este Uno tem preço similar ao de outros modelos de segmentos superiores da própria Fiat, como Palio 1.4 Attractive – R$ 41.421 – e o Punto 1.4 – R$ 45.202.
Neste panorama, nada mais natural para a marca do que apostar nas vendas miúdas desta versão e utilizá-la como uma vitrine da linha Uno.
A Fiat apostava em uma participação de 5% nas vendas do modelo em seu lançamento, no entanto nestes seis meses de venda o modelo conquistou 6% do mix.
Pode não parecer um número muito representativo, mas em um carro de volume como o Uno, beira as mil unidades mensais. E ainda dá uma forcinha extra para incomodar a liderança do Volkswagen Gol nas vendas gerais.
Instantâneas
# O Uno foi lançado em janeiro de 1983, no Cabo Canaveral, Flórida, base da lançamento de foguetes da NASA. Começou a ser comercializado no Brasil em 1984. O design original era de Giorgetto Giugiaro, o renomado designer italiano.
# Já o novo Uno foi desenvolvido pelo Centro Estilo Fiat para América Latina em conjunto com a matriz italiana.
# Em fevereiro, o Fiat Uno vendeu mais unidades que o Gol pela primeira vez na história. O hatch da marca italiana fechou aquele mês com 21.397 unidades comercializadas contra 20.989 do Gol.
# O Fiat Uno Cabrio é um conceito conversível com uma proposta bem mais esportiva. Sob o capô deste modelo está o motor T-Jet de 152 cv.
# O estilo do novo Uno – apelidado pela Fiat de Round Square – mescla cortes definidos e retangulares com detalhes arredondados.
Ponto a ponto
Desempenho – O visual do Uno Sporting pode até sugerir algo mais. No entanto, o carro tem desempenho apenas honesto. O motor 1.4 Fire Evo de 88 cv com etanol precisou de 12 segundos exatos para levar o carro de apenas 955 kg da inércia aos 100 km/h. O câmbio é bem escalonado, com as primeiras relações mais curtas, o que empresta alguma agilidade. As retomadas é que não apresentam muita energia. O torque de 12,5 kgfm com etanol está disponível em sua totalidade apenas aos 3.500 rpm. Para conseguir uma tocada mais esportiva, é possível explorar o câmbio com trocas acima das 3 mil rpm. O desempenho melhora, mas o bolso acusa o consumo de combustível. Com um pouco de paciência, é possível chegar aos 165 km/h, a velocidade máxima do modelo. Nota 6.
Estabilidade – A versão Sporting conta com suspensão 20 mm mais baixa e barras com molas mais rígidas em relação às versões Vivace e Attractive. Na prática, o pequeno Fiat está mais “durinho” e, consequentemente, mais divertido de dirigir. Com a suspensão revisada e rodas de 15 polegadas em vez das originais de 14 polegadas, o modelo encara curvas em alta velocidade sem susto. Em trajetos sinuosos, a carroceria torce dentro do esperado e o Uno não faz menção de desgarrar. Nas retas, a comunicação entre rodas e volante exige algumas correções partir dos 130 km/h. Na hora de frear, o hatch se porta de maneira adequada e não mergulha a frente. O sistema de freio ABS, disponível apenas como opcional, auxilia na trajetória do compacto. Nota 8.
Interatividade – A nova geração do Uno, lançada em 2010, foi bem pensada para o motorista. A maioria dos comandos está ao alcance das mãos do motorista e são intuitivos. Os comandos do vidro elétrico são uma exceção. Posicionados no console central, eles não facilitam a vida dos ocupantes dos bancos dianteiros. O modelo ainda é o primeiro da linha Uno a trazer um computador de bordo. O formato de “caixotinho” do Uno garante uma visibilidade boa em quase todo o carro – só a mesmo a coluna traseira atrapalha um pouco em situações de manobra. O câmbio, por sua vez, tem engates pouco precisos e o volante, com boa pegada, conta com regulagem de altura, mas não tem ajuste de profundidade. Nota 7.
Consumo – O motor 1.4 Evo anotou uma média de 7,7 km/l com etanol, em trechos com 2/3 de cidade e 1/3 de estrada. O número é fraco para um subcompacto. Nota 6.
Conforto – Mesmo com uma suspensão mais dura, o Uno Sporting ainda consegue absorver bem a maioria das irregularidades das ruas e estradas brasileiras. As dimensões enxutas do compacto garantem um espaço apenas razoável para motorista e carona. No banco traseiro a situação é mais complicada – como em quase todos os carros deste segmento. O isolamento acústico falho, constante reclamação no Uno até então, aparenta uma melhora nesta versão graças a adoção de coxins hidráulicos. Mesmo assim, a partir dos 110 km/h, é melhor aumentar o som do rádio, pois o barulho do motor invade o habitáculo sem cerimônias. Nota 7.
Tecnologia – Neste quesito o Uno é um carro diferenciado em seu segmento. É que o modelo traz uma plataforma moderna – lançada em 2010 –, enquanto a maioria de seus concorrentes utiliza estruturas veteranas. O motor 1.4 Evo também é novo. Já a lista de equipamentos de segurança conforto e entretenimento é limitada e a maioria dos itens está disponível apenas como opcional. Nota 8.
Habitabilidade – O hatch da Fiat conta com boa oferta de porta-objetos no console central e nas portas. Os acessos dianteiros são beneficiados pelo bom vão das portas. Para chegar aos bancos traseiros é preciso certo contorcionismo. Segundo a marca, o porta-malas comporta 280 litros. Só que no dia a dia fica evidente que seu espaço útil é limitado. Nota 7.
Acabamento – O Uno nunca foi um exemplo nesse quesito por ser um carro de entrada. Mesmo assim, a versão Sporting apresenta alguma evolução em relação às outras variantes do modelo. O painel, por exemplo, é feito em plástico duro, mas a versão sai de linha disfarçada com uma máscara imitando fibra de carbono. O volante é revestido em couro com detalhes em vermelho na costura. Encaixes e fechamentos são precisos na maior parte das vezes, com exceção da tampa do porta-luvas, que parece sempre mal encaixada. Fora isso, o modelo não apresenta muitas rebarbas aparentes. Nota 7.
Design – Certamente o ponto alto do Uno – nesta ou em qualquer versão. O modelo pode não ser uma unanimidade, mas chama a atenção por onde passa e tem no visual um dos seus principais argumentos de vendas. A variante Sporting chega para conquistar um público jovem e ávido por exclusividade – já que esta configuração representa apenas 6% das vendas do modelo. As linhas arredondadas com volumes quadrados garantem um visual moderno e harmônico. Os apêndices esportivos desta versão são um pouco exagerados, é verdade, mas isso pode ser um trunfo. Nota 9.
Custo/Benefício – A versão Sporting quatro portas é a mais cara da linha Uno, parte de R$ 34.380 e traz uma lista bem enxuta de itens de série. Completo, o modelo atinge exorbitantes R$ 41.491 e fica em uma faixa de preço próxima de Palio e Punto. Entretanto a concorrência direta é limitada. O único outro popular com uma proposta esportiva é o recém-lançado Ka Sport, que parte de R$ 35.900 – atinge R$ 36.900 com o único opcional, o air bag duplo –, tem motor mais potente – 1.6 de 107 cv – e está disponível apenas com carroceria duas portas. No fim das contas, os dois carros parecem caros demais pelo que oferecem. Nota 7.
Total – O Fiat Uno Sporting somou 72 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir – Quadrado a caráter
O Uno ainda é um carro que chama a atenção. Isso quase um ano após seu lançamento. O compacto mineiro ainda é dotado de uma imagem positiva entre o público. E a configuração Sporting na cor laranja Nemo – exclusiva para esta versão – faz o Uno chamar ainda mais a atenção.
Mas o “appeal” esportivo desaparece na hora de cravar o pé no acelerador.
As respostas do motor 1.4 litro de 88 cv com etanol são tímidas. As arrancadas deste compacto são apenas satisfatórias e ele demora a engrenar. Para atingir a máxima de 160 km/h é preciso um bocado de paciência.
Já para cumprir o zero a 100 km/h, o Uno Sporting leva 12 segundos, número satisfatório e dentro do esperado.
Na hora de encarar curvas mais fechadas com um pouco de ousadia, o Uno honra seu sobrenome Sporting. O carro não ganhou apenas uma aparência mais chamativa, mas também evoluções mecânicas neste quesito.
A suspensão mais “durinha” – ao estilo europeu – fez muito bem ao pequeno Fiat. O modelo se sai melhor que qualquer outra versão de sua gama nas curvas, e transmite todo o tempo sensação de segurança. E, o melhor, a suspensão revisada não comprometeu a absorção dos diversos desníveis e buracos das vias brasileiras.
Dentro do compacto, os bancos dianteiros oferecem bom espaço para pernas e excelente visão dianteira e traseira.
Já o espaço do banco traseiro é sofrível – limitado mesmo com duas pessoas. Um quinto passageiro torna qualquer viagem um sufoco.
Por outro lado, achar uma posição agradável para dirigir é fácil – apesar do modelo não contar com ajuste de profundidade do volante. Já os comandos do vidro ficam no console central, um lugar um tanto infeliz.
De um modo geral, o Fiat Uno Sporting tem decoração esportiva interessante e ajustes bem-vindos na suspensão. Já o motor 1.4 é o mesmo das versões Way e Atracttive, ou seja, não oferece grandes performances esportivas – e nem é o objetivo desta versão.
Ficha técnica – Fiat Uno Sporting 1.4
Motor: A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.368 cm³, com quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração.
Potência máxima: 85 cv a com gasolina e 88 cv com etanol a 5.750 rpm.
Torque máximo: 12,4 kgfm com gasolina e 12,5 kgfm com etanol a 3.500 rpm.
Diâmetro e curso: 72,0 mm X 84,0 mm. Taxa de compressão: 12,45:1
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com braços oscilantes inferiores transversais, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira semi-independente por eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos. Não oferece controle de estabilidade.
Freios: Discos sólidos na frente e tambores atrás. Oferece ABS e EBD como opcionais.
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,77 metros de comprimento, 1,65 m de largura, 1,55 m de altura e 2,37 m de distância entre-eixos. Oferece airbag duplo frontal como opcional.
Peso: 955 kg, com 400 kg de carga útil.
Capacidade do porta-malas: 280 litros.
Tanque de combustível: 48 litros.
Produção: Betim, Minas Gerais.
Lançamento: 2010.
Por Marcelo Cosentino – Auto Press
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