Todos os dias, veículos com pendências, multas, IPVA, licenciamento e financiamento não pagos são negociados livremente em grupos no Facebook e em conversas via WhatsApp. Além desses, é possível encontrar automóveis roubados.
Tudo isso é chamado, de forma popular, pelo termo “carros só pra rodar“.
Em uma busca simples e rápida, encontramos mais de 30 grupos com a identificação “Carros só pra rodar” e alguns com localizações específicas, onde seus administrados colocam o nome do bairro e da cidade para facilitar as negociações do comércio online.
Alguns deles ficam em modo público, facilitando a visualização de qualquer pessoa. Ou seja, ninguém tem receio de praticar algo que claramente é contra a lei.
Em 2017, quando o esquema ganhou força e repercussão, diversos portais publicaram sobre o assunto, mas ainda assim as comunidades continuaram (e continuam até hoje) no ar.
O número de participantes também impressiona, com os maiores grupos chegando a dezenas de milhares de membros. O maior de todos conta com 215 mil participantes.
O que é?
Como citado acima, são carros com muitas pendências, multas, IPVA, licenciamento e financiamento não pagos. Em algumas ocasiões são carros roubados.
Como funciona a venda
Diferentemente de um veículo 0 km, comprar um carro usado exige atenção redobrada. Isso envolve analisar detalhes para não cair em pegadinhas e “maquiagens”. Você pode conferir algumas das nossas dicas na matéria: Como comprar carros usados sem ter problemas?
Por isso, se você pensa em adquirir um automóvel em um dos grupos “Carros só pra rodar”, é essencial saber que em muitos casos isso acaba se tornando uma prática contra a lei.
O grande diferencial nesse caso é que comprador sabe o que está adquirindo, tendo ciência que o veículo possui débitos e de que o mesmo não poderá ter sua titularidade transferida legalmente.
Em muitos casos, o valor da dívida dos “carros só pra rodar” é tão alta que chega a ultrapassar o valor do próprio veículo. E é exatamente por isso que eles são tão baratos nesses grupos.
Ao entrar em uma dessas comunidades, os usuários colocam fotos e uma breve descrição do modelo, incluindo seu estado, ano, valor e o telefone para contato.
A sigla “NP” também é utilizada nas publicações, significando “Não-Pago”. Como já explicamos em outra matéria, esses carros são financiados e não estão sendo pagos por seus proprietários. Em alguns casos, o modelo passou para terceiros e essa outra pessoa não irá liquidar as parcelas.
Mais do que “carros só pra rodar”, os grupos também são conhecidos como “feira do rolo”, isso porque as negociações não são só realizadas da maneira tradicional.
A situação chega a tal ponto que alguns automóveis são trocados por videogames, rodas, pneus, peças automotivas, relógios, móveis, celulares, relíquias, entre muitos outros itens. Ou seja, tudo menos dinheiro, como numa negociação convencional.
Entramos nos grupos de carros só para rodar
Para detalhar, o Notícias Automotivas entrou em um desses grupos para analisar como tudo funciona.
Encontramos de tudo, de carros velhos a modelos mais novos. O mais chamou nossa atenção, porém, foi a quantidade de motos sem placas.
Falando primeiro sobre os carros, um vendedor anuncia um Hyundai Tucson 2015 por R$ 15 mil, quando o valor desse modelo na tabela Fipe é de R$ 52.200.
No anúncio, a pessoa explica alguns detalhes positivos sobre o carro e o descreve como se fosse um anúncio normal, mas deixa claro: ele não compensa ser regularizado.
Uma moto Yamaha Fazer 250 2009 também está à venda em outro anúncio, onde o vendedor diz que entrega por R$ 2.800 a moto que tem mais de R$ 3.000 em débitos. A tabela Fipe indica que essa moto custa R$ 7.500 em condições normais.
Além de muitos outros anúncios desse tipo, inclusive alguns que dizem claramente se tratar de um veículo roubado (por motivos de segurança, não daremos mais detalhes), existem ainda vários “serviços”.
Alguns anúncios oferecidos envolvem o transporte de carros só para rodar, mesmo em distâncias maiores. Além disso, encontramos algumas pessoas que confeccionam placas novas para veículos desse tipo.
O que diz o Detran e o Facebook
São Paulo é um dos estados com muitos desses grupos, em vista disso, entramos em contato com o Departamento Estadual de Trânsito que nos informou que não influencia e nem interfere nestes grupos.
O Detran ainda afirma que rodar com automóveis irregulares pode gerar multas e apreensão. Por fim, o órgão diz que (obviamente) não se deve adquirir um modelo de “carros só pra rodar”.
Leia na íntegra a nota enviada pelo Detran SP ao Notícias Automotivas:
“O Detran.SP não tem qualquer ingerência sobre a venda de veículos, sejam novos ou usados. Rodar com veículo sem estar devidamente registrado e licenciado, em bom estado de conservação e com todos os equipamentos obrigatórios em funcionamento pode gerar uma série de multas ao condutor, além da apreensão do veículo ao pátio. Além disso, dependendo da situação do veículo, pode colocar em risco a segurança no trânsito. Desta forma, nenhum cidadão deve comprar veículo “só para rodar.”
Já o Facebook não retornou até agora o nosso e-mail enviado no dia 3 de agosto de 2018, mas esclareceu por meio de sua assessoria de imprensa, em março de 2017, ao jornal O Estado de São Paulo que retira toda comunidade ou fan page quando constata conteúdos ligados a uma atividade ilícita.
Ainda encerra com: “contamos com a nossa comunidade para denunciar”.
Conclusão
Não é crime comprar um carro com débitos.
No entanto, há prazos para que tudo seja regularizado e lembramos que essas dívidas podem gerar impedimento para realizar o licenciamento, sem ele o mesmo pode ser apreendido.
O crime ocorre no caso dos modelos roubados, furtados ou com fraude contra financeiras, como alguns que encontramos. Portanto, fique atento!
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