Muitas lojas e concessionárias estão agindo como o inimigo número 1 dos carros elétricos, é o que mostra uma reportagem do site MSN norte-americano.
Em muitas ocasiões, o vendedor não entende o suficiente sobre este tipo novo de veículo, e acaba dando informações erradas.
Este foi o caso da ocasião em que Michael Young foi até uma concessionária BMW, para dar uma olhada no elétrico i3.
Isso aconteceu há alguns anos atrás, mas ilustra bem o caso. O vendedor virou para ele e disse que não dava para usar aquele carro na estrada, que ele não atingia velocidades maiores do que 70 km/h.
Nenhuma das duas informações eram verdadeiras. Ele foi insistente, e conseguiu fazer o test-drive. Gostou tanto do carro que acabou o comprando na hora.
A experiência ruim fez que Michael criasse um site para ajudar os consumidores a comprar carros elétricos.
Este incidente mostra que na maioria das concessionárias (não apenas nos EUA, mas também no Brasil e em qualquer outro país), não estão preparadas para vender carros elétricos.
Não adianta nada o atual governo dos EUA querer que dois terços dos carros nas ruas sejam elétricos até 2032 se as concessionárias não quiserem os vender.
Elas detém um monopólio, fazendo das vendas de carros algo que não existe em outros segmentos.
Se você quer comprar um celular ou qualquer outro tipo de produto, pode comprar diretamente do site do fabricante, ou mesmo em várias lojas diferentes, que, físicas ou online, vendem todas o mesmo produto, com pequenas variações de preço.
Nos EUA, até a época da Segunda Guerra Mundial, os carros também eram vendidos naquele tipo de loja que chamamos de magazine. A pessoa podia ir até as Lojas Cem, digamos, e comprar um carro.
Mas hoje não mais. No caso dos carros, ficamos refém das concessionárias. Nas décadas de 1940 e 1950, as concessionárias começaram a ficar com medo das montadoras lhes passarem o pé, e então várias leis foram criadas para proteger esse tipo de empresa.
A Tesla mesmo, que vende seus carros diretamente, sem precisar de concessionárias, teve que lutar contra algumas dessas leis na justiça americana. Em alguns estados, venceu, em outros, teve que ceder.
O ponto é que o pessoal de vendas das concessionárias muitas vezes não tem treinamento correto para vender carros elétricos, e acabam dando informações erradas.
Alguns compradores frustrados informaram o jornal Washington Post, que forneceu esta matéria para o portal MSN, que as concessionárias muitas vezes tentam os redirecionar para carros a combustão, sendo que na verdade eles não querem esse tipo de veículo.
James Richards, de 40 anos de idade, dono de uma empresa que trabalha com equipamentos para aquecimento de água, na Califórnia, disse que passou alguns dias visitando concessionárias para ver as suas ofertas de carros elétricos.
Na maioria das lojas, parecia que ele sabia mais sobre aqueles carros do que os vendedores. Ele queria comprar uma Ford F-150 Lightning, mas a concessionária apenas o ofereceu uma versão topo de linha, muito cara, e ainda adicionou um valor de ágio em cima do preço de tabela.
O que aconteceu foi que ele acabou comprando um Tesla Model Y, carro que não tem muito a ver com a picape que ele queria, mas o tratamento na concessionária Ford foi tão ruim que ele acabou desistindo.
Já os vendedores da Tesla pareciam especialistas no assunto, muito diferente do pessoal de vendas da Ford, da Volkswagen e da GM.
Maya Batres, de 34 anos de idade, comprou em 2022 um Fiat 500e em uma concessionária da marca. Estava dando tudo certo até na hora de fechar o negócio, e o vendedor tentar lhe empurrar um plano de manutenção com trocas de óleo e outras coisas que obviamente um carro elétrico não necessita. Isso mostrou a ela que a pessoa não tinha a mínima ideia do que estava fazendo.
Uma pesquisa feita pelo Sierra Club (uma organização não-governamental ecologista) no final de 2022 indicou que cerca de 66% das concessionárias dos EUA não tinham nenhum carro elétrico disponível para venda. E 45% dessas lojas disseram que não venderiam carros elétricos mesmo que tivessem a oportunidade.
E essa barreira imposta por parte do pessoal de vendas está fazendo com que os estoques de elétricos aumentem nos EUA. No começo do ano o estoque era igual daquele para carros comuns, cerca de 50 dias. Hoje é de 50 dias para carros a combustão e 100 dias para os elétricos.
Se as comissões para vender um carro elétrico são as mesmas dadas para carros a combustão, a venda demora muito mais. Um carro a gasolina leva uma hora para ser vendido, se o comprador chegar na loja bem decidido. Mas para o elétrico, isso pode levar quatro horas, fazendo com que o vendedor gaste muito mais tempo para ganhar o mesmo.
Outro problema é que as concessionárias tem a maior parte de seus lucros fornecendo serviços depois da compra, não vendendo carros novos.
De acordo com uma análise feita pelo U.S. Bureau of Labor Statistics, um departamento do governo americano que cria estatísticas do mercado, 16% dos lucros de uma concessionária vem das vendas de carros novos, e 43% vem da venda de peças, mão de obra e outros serviços.
E como carros elétricos não pedem tantos serviços (as revisões são muito mais simples, e os elétricos tem 100 vezes menos peças móveis), elas obviamente não querem perder essa grande fatia de seus lucros.
Carros elétricos podem chegar a ter que rodar 240.000 quilômetros até precisar de manutenções mais pesadas, diferente de um carro a gasolina que precisa de uma revisão a cada 10.000 quilômetros.
Há quem diga que as concessionárias estão trabalhando para se adaptar. Mike Stanton, CEO da National Automobile Dealers Association, associação norte-americana de concessionárias, diz que mais de 6 bilhões de dólares já foram gastos treinando as concessionárias para vender carros elétricos.
E você? Já teve alguma experiência em concessionárias aqui do Brasil, referentes a carros elétricos? Nos conte nos comentários.
Agradecemos ao leitor Randolph pela dica.
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