A Fiat precisava se mexer.
O lançamento – e relativo sucesso – de Chevrolet Cobalt e Nissan Versa abriu espaço para o segmento dos chamados sedãs compactos superiores. Com isso, a marca mineira esticou a plataforma da segunda geração do Palio e criou o Grand Siena para se inserir entre os novos sedãs “crescidinhos”.
A aposta parece ter dado certo e o modelo já vende cerca de 3.400 unidades mensais.
Fica atrás apenas do Cobalt, que emplaca 4.100 carros por mês. O Versa 2024 vem mais abaixo, com uma média de 1.800 carros.
A estratégia da Fiat é ambiciosa, tanto que o Grand Siena representa 45% da produção da linha – o Siena antigo se manteve em produção na versão EL. A versão mais cara, a Essence com motor 1.6, é responsável por 30% dos emplacamentos.
O Grand Siena Essence Dualogic – que corresponde por 15% das vendas da versão topo – é sempre equipado com o motor E.Torq de 1.6 litro e 117 cv a 5.500 rpm com etanol já conhecido do Palio. O torque chega a 16,8 kgfm a altas 4.500 rotações.
Apesar dos 4,29 m de comprimento, o sedã é relativamente leve – a versão com câmbio robotizado pesa 1.148 kg.
Assim, o conjunto é suficiente para levar o modelo de zero a 100 km/h em 9,9 segundos e à velocidade máxima de 194 km/h – acima da média do segmento.
O câmbio é o automatizado de embreagem simples Dualogic, que ainda não recebeu as atualizações já vistas no Bravo e no Punto.
Ao Siena ainda faltam as funções de creeping – que move o carro lentamente ao se soltar o pedal do freio – e Auto-up shift abort, responsável por inibir uma troca de marcha ascendente quando o sistema detecta que o carro precisa de mais força para uma ultrapassagem, por exemplo.
O visual, no entanto, é um dos trunfos do sedã da Fiat. As linhas são harmônicas e, ainda que não disfarcem o parentesco, conseguem razoável distinção em relação ao Palio.
A frente é diferente, com faróis maiores e repuxados para as laterais, tem um aspecto mais “másculo” que o hatch.
Além disso, acentua a impressão verdadeira de que se trata de um carro maior. O Grand Siena tem 9 cm a mais no entre-eixos e 3 cm na largura em relação ao Palio. O perfil é elegante, com uma linha de cintura ascendente, que termina nas linhas altas do porta-malas.
Atrás, as lanternas horizontais com luzes de led para os freios formam um arranjo simpático e bem finalizado.
Por dentro, ele lembra mais o modelo de origem. O painel é praticamente idêntico – mudam apenas as saídas de ar centrais e laterais.
A versão Essence Dualogic é equipada com itens importantes, como ar-condicionado, direção hidráulica e vidros e travas elétricas de série.
O câmbio automatizado ainda agrega o controlador de velocidade de cruzeiro à cesta básica.
Além disso, rodas de liga-leve de 16 polegadas, airbags frontais e freios ABS completam o conjunto. Entre os opcionais, o Grand Siena é o único a oferecer airbags laterais e teto solar elétrico – este recém incorporado ao catálogo do modelo.
Os 2,5 metros de entre-eixos, por sua vez, prometem mais espaço interno, principalmente no banco traseiro – mandatório na categoria.
Ele, no entanto, ainda é consideravelmente menor que seus principais concorrentes. Num Chevrolet Cobalt, a medida chega a 2,62 metros.
A contrapartida do Fiat é a boa relação custo/benefício. A versão Essence com câmbio automatizado Dualogic começa em R$ 42.770 – R$ 2.350 a mais que o Essence manual.
Ele é mais barato que um Chevrolet Cobalt em configuração semelhante – recentemente, o sedã da marca da gravata ganhou opção de motor 1.8 e câmbio automático convencional de seis marchas por R$ 46.690.
Um Nissan Versa SL, com motor 1.6 16V de 111 cv e lista de equipamentos compatível, até é mais barato – sai por R$ 41.290, mas é oferecido apenas com câmbio manual.
O preço ajustado acaba compensando a única real deficiência do modelo – não ser tão grande como o nome sugere.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.6 E.Torq de 117 cv com etanol não tem grandes problemas para empurrar o Grand Siena. O sedã pesa relativamente baixos 1.148 kg, o que faz dele um carro até esperto. O ponto fraco, no entanto, é que os 16,8 kgfm de torque só aparecem a 4.500 rpm. Abaixo de 2 mil rotações, não há tanta força disponível, o que torna o modelo um tanto “tímido” em uso urbano. É necessário manter sempre o giro mais alto para que o carro tenha respostas satisfatórias. O câmbio automatizado funciona bem, mas ainda carece de maior rapidez de processamento. O sistema demora a se adaptar ao estilo de condução e nem sempre o modo automático troca as marchas na hora mais adequada. Nota 7.
Estabilidade – O Grand Siena se mostrou um carro bem estável. O acerto da suspensão ainda é voltado para o conforto, mas ele já aceita uma condução mais firme sem balançar tanto. A direção tem peso correto em velocidades mais altas e não são necessárias correções na trajetória. Próximo do limite, a frente tende a desgarrar, mas nada que assuste o motorista. O rodar é sólido e o carro não sofre com ventos laterais. Nota 7.
Interatividade – Nenhum mistério na utilização diária do modelo. Os principais comandos são bem localizados e de fácil assimilação, como o funcionamento do computador de bordo, operado por um botão na ponta da alavanca do limpador de para-brisa. O aparelho de som tem botões grandes e é de operação simples, facilitada ainda mais pelos comandos no volante. O painel de instrumentos tem iluminação alaranjada, que não cansa à noite. As espátulas de acionamento do câmbio automatizado melhoram a interação do motorista com o sistema, mas o volante merecia ajuste de profundidade e maior amplitude na regulação da altura. Nota 7.
Consumo – O Grand Siena Essence 1.6 Dualogic registrou médias de 8,4 km/l com etanol em ciclo urbano segundo o computador de bordo. A Fiat não divulga números oficiais e o InMetro não fez medições para o modelo. Nota 7.
Tecnologia – A plataforma mescla elementos do Uno e do Punto e o carro vem relativamente bem equipado de série. Há sistema de som com comandos no volante e entradas USB e Bluetooth e até airbags laterais como opcional. Bolsas frontais e freios ABS fazem parte do pacote básico. O câmbio Dualogic evoluiu desde as primeiras aplicações – mas a versão mais atualizada, que já equipa Bravo e Punto, é bem mais instigante. Nota 6.
Conforto – O aumento de tamanho fez bem ao sedã. Agora, os passageiros do banco de trás têm espaço razoável para pernas, cabeças e ombros, antes um tanto apertados principalmente pela largura limitada da carroceria. Na frente, porém, o problema são os bancos. É difícil achar a melhor posição para dirigir, graças ao ajuste pouco preciso da inclinação do encosto. Além disso, a espuma é demasiadamente macia e cansa em trajetos mais longos. Ao menos, o isolamento acústico deixa de fora boa parte dos barulhos de motor e da rua. Nota 7.
Habitabilidade – O modelo traz poucos porta-objetos, apenas um porta-trecos à frente da manopla do câmbio. Ao menos, as portas possuem espaços para colocação de garrafas pequenas. O interior do Grand Siena é um ambiente agradável e o entra-e-sai é facilitado pelo bom ângulo de abertura das portas. O porta-malas leva 520 litros e o formato regular facilita a acomodação de bagagens, ainda que as alças da tampa invadam a área interna. Nota 7.
Acabamento – A maior parte das peças tem bons encaixes e nada faz barulho. O problema é o material utilizado, com muito plástico rígido no interior. Há partes mais lisas, que passam a impressão de ausência de requinte, como a tampa do pequeno compartimento no alto do painel. A faixa que imita aço escovado – parte de um pacote de opcionais de estilo – até tenta melhorar o aspecto geral, mas a mistura de sensações não faz bem e a impressão que fica não é das melhores. Pelo menos, tudo parece feito para aguentar os maus-tratos do piso ruim das cidades brasileiras. Nota 6.
Design – Certamente é um dos destaques do Grand Siena. Os traços conseguem se destinguir dos do Palio, hatch que deu origem ao modelo. A linha de cintura alta dá até um ar de esportividade e o perfil é bastante elegante. Na frente, os faróis têm tamanho proporcional e formam um conjunto que harmoniza com a traseira, com lanternas horizontalizadas. A traseira alta é tipicamente de sedãs com ascendência italiana. Nota 8.
Custo/beneficio – O Grand Siena Essence Dualogic custa R$ 42.770 e até vem bem equipado de série. Ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, airbags frontais e freios ABS fazem parte da lista básica. Um Nissan Versa SL é mais barato, custa R$ 41.290, mas não traz opção de câmbio automático ou automatizado. O recém lançado Chevrolet Cobalt 1.8 LT é mais caro – cerca de R$ 47 mil –, mas traz um câmbio automático tradicional de seis marchas. Nota 7.
Total – O Fiat Grand Siena Essence 1.6 16V Dualogic somou 69 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir – Equação racional
Numa primeira olhada, o Grand Siena já agrada pelo visual harmônico e linhas limpas.
A versão topo de linha avaliada, a Essence com câmbio automatizado Dualogic, adiciona inserções cromadas nos frisos laterais e para-choques, que o deixam com um ar um pouco mais sofisticado que as variantes mais simples.
É um carro bonito, com proporções bem definidas e silhueta elegante. Por dentro, há espaço suficiente para quatro adultos sem aperto, mas o ambiente transmite uma inequívoca sensação de simplicidade excessiva – já que se trata da versão mais cara do sedã.
Os revestimentos são um tanto espartanos e o conjunto tem alguma dificuldade de se colocar de fato “um degrau acima” dos sedãs de entrada.
Pelo menos, o conjunto mecânico dá conta de empurrar com decisão o Grand Siena e o torna um carro até interessante.
O motor 1.6 de 117 cv com etanol é bem suficiente para um desempenho aceitável, mas precisa girar para entregar mais força.
Os 16,8 kgfm estão disponíveis apenas a 4.500 rpm e abaixo de 2 mil rotações o carro fica bastante manso, sem vigor. Quando tocado com mais energia, o sedã tem reações prontas e boa vitalidade, com acelerações consistentes.
O senão fica nas retomadas, prejudicadas pela distribuição de torque irregular. Ao menos, o consumo foi relativamente comedido, com médias na casa dos 8,4 km/l de etanol.
O câmbio automatizado Dualogic, exclusivo da versão topo de linha, surpreendeu pelas boas respostas. O equipamento funciona bem, com tempo reduzido de reação às solicitações.
O modo totalmente automático nem sempre troca as marchas no momento que o motorista espera e custa a “entender” os humores do pé direito, mas responde rapidamente a qualquer comando manual.
Pelo menos, em movimento, o câmbio instiga o motorista com uma interessante aceleração automática na hora de reduzir as marchas – a fim de eliminar qualquer tranco nas trocas descendentes. Os “paddle-shifts” no volante ajudam muito na utilização.
O Grand Siena também mantém a valentia comum à família Palio. O comportamento dinâmico é bom e o carro aderna pouco nas curvas, ainda que a suspensão continue com um acerto voltado para o conforto.
As rodas de 16 polegadas pouco prejudicam o rodar, que ficou mais maduro e assentado. Buracos e ondulações no asfalto são bem filtradas e a rigidez da carroceria passa boa sensação de robustez.
Grand Siena Essence 1.6 16V Dualogic – ficha técnica
Motor: A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Injeção multiponto sequencial e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automatizado com cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 115 cv com gasolina e 117 cv com etanol a 5.500 rpm.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,0 s com gasolina e 9,9 s com etanol.
Velocidade máxima: 192 km/h com gasolina e 194 km/h com etanol.
Torque máximo: 16,2 kgfm com gasolina e 16,8 com etanol a 4.500 rpm.
Diâmetro e curso: 77,0 mm X 85,8 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com braços oscilantes inferiores, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira semi-independente com eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos.
Pneus: 195/55 R16.
Freios: Dianteiros com discos ventilados e traseiros a tambor. Oferece ABS com EBD.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,29 m de comprimento, 1,70 m de largura, 1,50 m de altura e 2,51 m de entre-eixos. Airbags frontais de série.
Peso: 1.148 kg, com 400 kg de carga útil.
Capacidade do porta-malas: 520 litros.
Tanque de combustível: 48 litros.
Produção: Betim, Brasil.
Lançamento no Brasil: 2012.
Itens de série: Ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, airbags frontais, ABS com EBD, volante com regulagem de altura, controlador de velocidade de cruzeiro, frisos laterais cromados, rodas de liga-leve em 16 polegadas, apoio de cabeça central traseiro, abertura interna do tanque de combustível, faróis de neblina. Opcionais: Rádio CD/MP3/USB/Aux/Bluetooth, airbags laterais, teto solar Sky Wind, sensores crepuscular, de chuva e de estacionamento, volante multifuncional e parafusos anti-furto para as rodas.
Preço da versão básica: R$ 42.770.
Preço da unidade testada: R$ 47.074.
Por Auto Press
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