Fiz a reserva de uma Palio Weekend 1.4 na Hertz, visto que era um carro que eu nunca havia dirigido e tinha bastante curiosidade sobre o comportamento dinâmico dele. Porém, como a perua não estava disponível, recebi como upgrade a Meriva prateada que me esperava do lado de fora.
Confesso que fui ao carro recheado de preconceitos, seja pelo motor 1.4 ou pelo fato de ser uma minivan. Tive dias ruins em SP a bordo de uma Idea 1.4 tempos atrás, mas, talvez devido aos 105cv que a Meriva ostenta abaixo do capô com álcool, talvez eu pudesse mudar de idéia.
No checklist do carro achei interessante seu espaço interno, apesar de não ser tão grande externamente como eu imaginava.
Ao destravar as portas por controle remoto fui agraciado com o follow-me-home que acendeu os faróis e lanternas do carro além de sua luz de salão que, apesar de ter dois spots, acende todas de uma vez. Os para-sóis não possuem iluminação para o espelho e isso é ruim. Ao fechar as portas, a luz de salão se apaga de uma vez, lembrando que estamos em uma versão de entrada.
O acabamento do painel e das portas é bom. Ao alcance das mãos temos vidros com abertura e fechamento global para todos, além de retrovisores elétricos. O tecido dos bancos é pobre e bem que poderia haver um apoio de braço central.
A regulagem de altura do banco vai do alto ao muito alto, também pudera, estou em uma minivan. Não há regulagem de altura e/ou profundidade da coluna de direção, mas ainda assim é possível encontrar uma boa posição para dirigir.
Posiciono meus 1,90m no banco com os joelhos dobrados para baixo, como em uma cadeira. Graças à frente curta, a sensação é de estar dirigindo uma (perdão) Kombi sem o volante na horizontal.
A visibilidade do carro é excelente, para todos os lados. As janelas à frente das portas dianteiras são grandes e dão um panorama diferente à direção e garantem o bem-estar dos pneus no contorno de rotatórias.
Discorrendo sobre o painel de instrumentos verifiquei a falta de um computador de bordo, apesar de acima do painel haver um mostrador de bom gosto que informa data/hora e temperatura externa.
Isso me lembra que estou na versão completa da Joy, ou seja, tenho ABS e airbags frontais. Por falar em airbags, nas colunas laterais há o acabamento de plástico com os espaços aonde deveria estar escrito “SRS airbags” ou “side bags” ou “window bags” porém, está apenas lá para lembrar que motorista brasileiro não preza segurança como deveria.
Saio com o carro e tenho a pista livre para testar a aceleração. Pé no fundo e…surpresa. O câmbio é curto e o motor tem boa pegada, apesar do pouco torque para o peso do carro (13,2 kgfm).
E, dentro do habitáculo ecoa um ronco instigante que convida o pacato motorista de minivan a pisar um pouco mais. Em poucos metros estou em boa velocidade e deixei metade do trânsito para trás. O carro anda bem, mas não empolga.
Na hora de frear, vejo que o pedal não possui tanta progressividade, porém os freios são bem eficientes e seguram o carro com dedicação.
Devido ao escalonamento de marchas, o carro anda bem em qualquer marcha, ganhando velocidade sem reclamar ou irritar o motorista. No trânsito da cidade deixa a impressão de que o motor 1.8 não faz tanta falta assim, apesar do torque cavalar deste.
Quando o trânsito abriu novamente, reduzi de 5ª para 3ª e afundei o pé, o giro subiu sem acanhamento, enquanto o motor começava se relacionar íntimamente com meus instintos, 4ª marcha e o ponteiro do velocímetro mostrava-se agraciado por poder varrer mais da metade de seu curso originalmente projetado.
Quanto engatei a 5ª marcha a paisagem da Enseada de Botafogo já se despedia de mim enquanto o motor continuava com fôlego para me purificar ainda mais do meu preconceito contra motores pequenos. Mas eu estava em uma minivan, então era hora de aliviar o pé.
Durante a minha direção, pude apreciar o conforto dos bancos e a qualidade do isolamento acústico quanto aos ruídos do exterior. O ar-condicionado é excelente apesar que se não fossem pelos enormes vidros, daria para se isolar perfeitamente do mundo exterior e curtir uma música de qualidade em um rádio de sua preferência.
Sim, a Meriva é democrática nesse ponto ao não trazer um sistema de áudio de fábrica.
No engarrafamento noto o quão agradável é o peso da embreagem, mas o câmbio não é tão preciso como deveria, talvez em uma tocada mais rápida ele pudesse causar certo embaraço no motorista ao “arranhar” algumas marchas.
Apesar disso, é suave. Trocar de faixa no trânsito pesado não é problema para a Meriva (veja aqui Meriva – defeitos e problemas), a direção hidráulica é bastante macia enquanto o tamanho nem tão avantajado do modelo permite uma certa agilidade, me permitindo ver que milhares de taxistas não podem estar errados.
Novamente bato palmas para o motor 1.4 Econo.Flex, que me surpreende positivamente a cada pisada no acelerador. Aliás, não sei se era uma característica do modelo que dirigi, mas os pedais estavam bastante desalinhados entre si, mas isso é uma questão de acostumar-se ao fato.
Vejo que no banco traseiro as crianças iriam bem, caso houvesse alguma ali. Com proposta familiar, o carro não tem tantos porta-trecos como na Idea, mas ainda assim é bem servido com alguns espaços interessantes para guardar coisas, principalmente nas portas.
E o espaço atrás é bom, posicionei-me confortávelmente no assento traseiro, com espaço de sobra para as pernas, cabeça e ombro.
Mas eu não me sentiria tão agradável caso fosse o passageiro do meio, não há apoio de cabeça ou cinto de 3 pontos, sequer um banco com “recortes” que digam “ei, aqui deve ficar um passageiro” como na Idea. A suspensão do carro é um pouco dura e os bancos idem. Quando trafegando em asfalto crocante, chega a ser um pouco desconfortável.
Por falar nisso, os bancos não apóiam quase nada seu corpo lateralmente, dando a sensação de que você pode cair para os lados na primeira curva. É só a sensação. O carro tem um bom equilíbrio dinâmico nas curvas, com pouca inclinação da carroceria.
Mas os pneus 175/70 R14 não são muito tolerantes a abusos, é como aquela mãe que parece não se importar com o namorado da filha em casa, mas quando o negócio esquenta, ela aparece na porta para vigiar.
Com pista livre na estrada, notei que o carro é um pouco afetado pelos ventos laterais, mas não assusta. O motor gira forte em altas velocidades graças ao câmbio curto e, quanto mais se pisa, mais o motor insiste em participar da conversa no interior da cabine.
Não é um carro feito para viajar em altas velocidades e sim, curtir o passeio até a próxima vez que as crianças pedirem para ir ao banheiro. Por conta da tranquilidade a bordo, senti falta de um cruise-control.
E os freios a disco ventilado na dianteira e tambor na traseira com ABS são bons, bem dimensionados para o tamanho do carro. No teste de frenagem que faço na rua deserta próxima à minha casa, o carro parou sem desvio de trajetória e sem assustar o motorista.
O ABS entrou no final da frenagem, mostrando que a modulação dos freios é boa e o auxílio eletrônico quase não foi necessário para garantir a saúde dos pneus Pirelli P4.
Quanto ao consumo, considero aceitável, fiz uma média de 9.5 km/l no álcool rodando a maior parte do tempo na estrada, com alguns engarrafamentos e sempre com o ar-condicionado ligado. Devolvi a Meriva com um sorriso no rosto e desfeito de todo e qualquer preconceito contra o 1.4 Econo.Flex da Chevrolet. Porém, dirigir em posição elevada não faz muito o meu estilo. Se você não precisa de uma minivan, com o valor pedido na Meriva dá para levar um Astra investindo-se um pouco mais. As crianças chegariam mais rápido e mais animadas na escola.
Pontos positivos: Desempenho, Consumo, Espaço Interno, Freios
Pontos negativos: Acabamento, Conforto, Estabilidade
Texto de Marcelo Silva – www.direcaoassistida.com
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