Carro da semana, opinião de dono: Fiat 500 Cult 1.4

Desde que tive a oportunidade de viajar para o Velho Mundo comecei a dar mais valor aos carros pequenos. Na Europa, apesar dos esportivos e de alguns poucos SUVs, os compactos são regra.

Faz sentido. O preço do combustível é alto, as famílias são pequenas, o transporte público é eficiente e, principalmente, as ruas são apertadas e o estacionamento é quase inexistente.

O conceito de um carro eficiente e prático me pegou e na hora de substituir meu Peugeot 206 06/06, venci o preconceito e incluí o recém-relançado Fiat 500 na minha listinha, junto com o pequenino Picanto e outros hatches menos incomuns como o C3, Punto e Fox – todos entre 35 e 45 mil reais (Nissan March não entrou porque só saiu agora).

Após muita pesquisa, e com a Kia local cobrando ágio e a Dilma aumentando o IPI, a racionalidade do Fiat 500 ganhou. Ironia: um carro visto como de nicho – “bonitinho” – e considerado praticamente fútil, é o mais econômico, potente, completo e seguro que eu consegui encontrar nessa faixa de preço.

Não é exagero: nenhum dos outros por volta dos 40 mil reais possui a quantidade de itens de segurança e conforto que o Fiat 500. Eu, que bati meu 206 por pura imperícia – travei as rodas desviando de um cachorro e por pouco não matei nem fui morto – prezei bastante o ABS, airbag duplo, controle de tração e estabilidade do quinhentinho.

Mas chega de discurso e teoria e vamos às impressões.

Design e ergonomia

Eu acho o Fiat 500 muito bonito. Vejam bem: bonito, não “bonitinho”. Alto, com linhas robustas e até musculosas, é um carrinho que mesmo parado parece que está em movimento. Tem uma aparência muito mais esportiva ao vivo que nas fotos, especialmente com pneus de 15″ em rodas de liga leve com as pinças de freio à mostra.

O cuidado com detalhes chama atenção: lanternas e faróis bonitos, bem acabados, cromado de bom gosto e estilo retrô na medida certa, comparável ou até melhor que o imortal New Beetle. Por dentro o Fiat 500 é surpreendente: a posição de dirigir é inesperadamente alta, mas não estilo “motorista de ônibus” como no C3 ou no Fiesta.

O banco, de tecido e couro artificial, “veste” bem, o câmbio fica próximo ao braço e é alto, as pernas não ficam apertadas no comprimento (embora o 500 não tenha um espaço de SUV), o teto é surpreendentemente alto e atrás – por essa eu não esperava – o espaço não deixa a desejar (juro!), mas de fato não cabem três.

A mala também é pequena, como é de se esperar, mas cabe a bagagem de feriadão dos quatro ocupantes (estou falando do ponto de vista masculino, claro; mulheres deverão ocupar todo o bagageiro só com suas malas pessoais). Rebatido o banco, que é bipartido, o espaço fica bem grande e dá até pra levar pequenos móveis como criados-mudos dentro.

Fora isso há também uma gaveta no banco do passageiro, o obrigatório porta-luvas (ausente no caríssimo Fiat 500 anterior ao modelo 2012) e uma redinha na lateral do console do câmbio. Legal. Com embreagem um pouquinho funda mas com câmbio curto e preciso, o Fiat 500 me trata bem.

Tem comandos à mão e um painel que, mesmo sendo bem pequeno, é fácil de visualizar. É um carro que me tem dado vontade de passar bastante tempo dentro e até pede uma estrada.

Mas mesmo considerando o Fiat 500 uma compra racional, não posso deixar de notar os apelos de estilo do pequeno: painel na cor exterior do veículo (o que pode ser estranho), botões redondos e cromados, som retrô com cara de rádio antigo, acabamento em duas cores. Bobagens desnecessárias, mas bem-vindas.

O interior não é todo perfeito. Embora o plástico seja bom, há muito dele e, no meu, algumas arestas mal aparadas e peças desalinhadas. O volante é ergonômico e tem o centro em black piano, mas pareceu inferior ao do novo Palio. A manopla de câmbio também me passa uma má impressão de fragilidade: é uma bola oca.

Pra completar, por conta do excesso de plástico há uma pequena escola de samba nas portas – música alta resolve – embora seja um carro extremamente silencioso. Já o encosto de cabeça, duro – quase sólido – apoia bem a cabeça se você não tratá-lo como um travesseiro, mas como um… encosto. Resumindo: parece desconfortável, mas não é; basta regular direito.

Dirigindo

O Fiat 500 come curvas. É isso. Não consigo definir de outra forma. Curvas longas de elevados, chicanes, esquinas, não importa: a rolagem é pequena, a estabilidade é incrível – o carro fica plantado no chão como se estivesse em trilhos – e o giro é sensacional.

O giro. Eu fico bestificado com o giro desse carro. O volante roda, roda e roda e as rodas só faltam ficar perpendiculares à calçada. Dá pra entrar numa vaga de frente e sair de uma vaga apertada de primeira mesmo próximo ao carro da frente.

Vagas apertadas. Nem vou me alongar aqui: o Fiat 500 cabe em quase qualquer buraco. QUASE, ok? Ele é maior que parece, mas ainda é menor que o seu carro atual. De todo modo, é surpreendente caber em um monte de buraquinhos pequenos em que só cabiam motos grandes. Se o Cinquecento fosse um cachorro, seria um Pug, que não tem focinho.

O Fiat 500 é bom de reta também. O EVO é o mesmo 1.4 8V do Uno e Palio, mas num carro menos pesado. No quinhentinho isso significa agilidade nos sinais verdes e ultrapassagens seguras.

E não sei por que mas o ronco dele é bem mais gostoso que o dos outros com o mesmo motor, e o som da partida é de carro moderno (uma pena que mal dá pra ouvir do lado de dentro, porque o bichinho é silencioso).

Voltando às curvas: o Fiat 500 parece ter a tendência de sair de traseira. É aí que dá a impressão que os sistemas eletrônicos de tração e estabilidade entram em ação: a saída simplesmente se corrige sozinha e o carrinho volta aos “trilhos” sem esforço. Quer brincar? Dá pra desligar o controle de tração no painel.

O Fiat 500 vem com um brinde: o modo Sport. É um botãozinho no painel central que endurece a direção elétrica e deixa o motor mais nervoso. Sim, funciona. Ideal pra estradas. Com essa esperteza toda, o Fiat 500 consegue ser incrivelmente econômico.

Em trechos com poucos semáforos cheguei a fazer fácil 11 km/l sem ar-condicionado; no para-e-anda com A/C, fico em mais ou menos 9 km/l; porém, num dia de trechos curtos, engarrafamento e motor frio, é melhor esquecer das boas médias e se contentar com 7,5 km/l.

Apesar de econômico, o Cinquecento é um carrinho que vai te ajudar a fazer amizades com os frentistas dos postos de combustível. O tanque tem só 40 litros, e isso já aumentou minhas visitas aos postos de combustível porque a autonomia é de apenas 400 e tantos km.

Eletrônica

Estes dados são do computador de bordo, que é bastante completo. O que me leva a outra característica que me convenceu a comprar esse carrinho: a eletrônica. Hoje em dia já se compra placas de silício na internet por uma mixaria. A plataforma Arduino, por exemplo, permite a qualquer programador curioso fazer robôs, sensores, máquinas de café.

Smartphones se localizam no espaço e fazem o que há dez anos um PC de mesa não fazia. Mas mesmo assim os computadores de bordo dos veículos brasileiros nessa faixa de preço – quando há – sequer são capazes de medir o consumo de combustível em km/l, como o C3, que usa o bizarro l/100 km. É uma coisa que não entra na minha cabeça.

O computadorzinho do Fiat 500 não só mede o consumo – instantaneamente e na média – na medida certa como também tem dois hodômetros parciais, cálculo de autonomia, alerta de velocidade alta programável, follow me home e aviso de revisão.

Há também travamento automático das portas aos 20 km/h, aumento do som vinculado ao velocímetro, sensor de falta de uso de cinto de segurança e de portas abertas, trava do porta-malas e da tampa do tanque de combustível elétricos, limpador do vidro traseiro vinculado à marcha ré… enfim, todo tipo de coisinhas espertas e simples que incompreensivelmente quase nenhum outro carro nessa faixa de preço possui.

Eletrônicos também são o controle de tração e de estabilidade, o que proporciona o bacana recurso do Hill Holder: o carro trava em ladeiras por até 2 segundos, tempo suficiente pra engatar a primeira e acelerar sem escorregar e bater no carro de trás.

E ainda tem o Blue & Me, que conecta o celular ao som do carro por Bluetooth e permite fazer chamadas por voz, mas que infelizmente é opcional e não veio no meu.

Manutenção

O Blue&Me me lembrou de um problema: se eu quisesse um Fiat 500 com o sistema, me sairia R$ 850 e cento e vinte dias de espera a mais. Cento. E. Vinte. Dias.

Acessórios, opcionais? Nada disso há disponível na concessionária. Embora a manutenção possua preços fixos (salgados acima dos 40 mil km), a impressão que eu tive é que as peças, como os acessórios, não possuem pronta entrega.

Espero estar errado, mas de todo modo elas dificilmente serão condizentes com o preço “popular” do Fiat 500, e o adesivo da Chrysler na porta do motorista te ajudará a não esquecer que o Cinquecento ainda é um carro importado.

Conclusão

Se você acha bom negócio dar 40 paus num carro inseguro, incompleto, pouco confortável, pouco potente, pouco econômico e totalmente comum como um Gol Power ou um Uno Way, pense duas vezes.

Não é exagero: pra efeito de comparação, o Uno Sporting com o mesmo 1.4 EVO consome mais, anda menos e nem encosto de cabeça móvel possui.

Se você acha que um carro como o C3 é muito confortável ou que o Nissan March é seguro só porque tem ABS, pense de novo. E, mais importante, se você puder se permitir ser racional e admitir que não precisa tanto de espaço assim caso seja solteiro ou não tenha filhos e vai ficar melhor num carro completo, confortável, moderno e econômico, deve se dar bem com o surpreendente Fiat 500.

Por Breno Peck

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 18 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.