Após um período relativamente longo sem enviar contribuições sobre relatos, retorno mais uma vez a este honrado quadro para compartilhar com os leitores do Notícias Automotivas experiências e visões que, espero eu, sejam de bom serviço para o entretenimento ou quem sabe até mesmo, ajudar durante o processo de aquisição de um automóvel.
O carro em questão desta vez é o Chevrolet Celta LT 2013, adquirido a aproximadamente um ano após a venda do meu Toyota Corolla XEI 2001, o qual também já havia enviado relato para este site.
(Nota da redação: O Gabriel também enviou gentilmente ao NA os relatos de opinião de dono de seu Lancer e seu Kia Picanto.)
O que aconteceu com o Corolla e qual foi a razão de vendê-lo? Bom, digamos que descobri de maneira prática que o saudosismo pertence ao mundo das ideias de Platão, não à realidade. Mesmo com todos os cuidados preventivos de manutenção, o velho Toyota seguia me trazendo prejuízos financeiros em virtude de suas falhas mecânicas.
A última, para mim o ponto final em nossa jornada, foi o rompimento de um dos selos do motor durante uma curta viagem, em velocidade de cruzeiro, pela rodovia BR-101.
O resultado deste rompimento foi um evento traumático para o bolso e para a mente: Não houve nenhum aviso no painel do veículo, o indicador de temperatura se manteve estável e transmitia plenitude, quando na verdade o motor fervia e queimava a junta, causando vazamento de líquido de arrefecimento para dentro dos cilindros, até provocar um calço hidráulico que imobilizou o carro em plena autoestrada. Uma falha catastrófica.
Além do susto pela perda de potência imediata e o cheiro de queimado, me deparei com a realidade onde eu possuía um carro antigo quebrado e poucos mecânicos se arriscam numa aventura de mexer em algo assim, sendo que o único indivíduo o qual aceitou esta empreitada, me deixou uma fatura na casa dos R$7.000, para um serviço que não foi satisfatório. Isto porque era especializado em Hondas e Toyotas dos anos 90, a “golden age” dos nipônicos!
Assim, após esta facada, além do carro nunca ter tido o mesmo desempenho de outrora (vazava óleo e tinha acelerações ríspidas), sentia honestamente medo a cada vez que dirigia aquele sedan. Algo que jamais deveria ocorrer, ainda mais se tratando do “ícone” de durabilidade Toyota Corolla, famoso por sua legião de aficionados que o chamam de “tanque de guerra”.
Pois bem, meu tanque de guerra me deixou na mão, perdi esta batalha e acordei para a realidade com um banho de água fria, igual no quartel. É como dizem, não conheça seus heróis, pois nenhuma nostalgia ou desejo de reviver os anos 90 valiam o medo de dirigir seu próprio carro ou as parcelas de conserto pagas arduamente todo mês.
Por isso, anunciei, de forma transparente, e me livrei em pouco tempo do fardo que ele havia se tornado. Era hora de começar de novo e buscar algo mais coerente e que atendesse ao simples critério: Não me dar dor de cabeça!
Lembrei-me dos Kei Cars japoneses, de como são pequenos e funcionais. Busquei algo semelhante aqui no Brasil, mas sem sucesso: Nissan March era caro e complexo demais com seu câmbio CVT, Kia Picanto não serviria para a função proposta, Renault Twingo seria um tiro no escuro, Suzuki Swift era fora de cogitação… Mas e o mercado nacional?
Por que não olhar para montadoras daqui? Foi então que me lembrei de um diminuto carro, muito rústico e barato, que me marcou em outras ocasiões: O Chevrolet Celta.
Diretamente influenciado por um amigo/irmão que muitas vezes me socorreu ou deu carona com seu Celta VHC 2001 (denominado carinhosamente de Pace Car), comecei a ver aquela baratinha de hatchback com outros olhos, pois acelerava como um carro 1.6 e consumia como 1.0, além de ter espaço suficiente para dois adultos e suas bagagens em uso urbano.
Inicialmente tido como um protótipo denominado Arara Azul, o Celta era a resposta da GM para o mercado de baixo custo, usando peças de Corsa para criar um produto que bebia diretamente das fontes europeias dos SuperMini (carros urbanos de baixa cilindrada, baixo custo e máxima eficiência).
Segurança, sofisticação, integridade ou qualquer outro adjetivo que traga força a um automóvel não foi levado em conta no desenvolvimento do Celta. Mas em troca, tenho certeza que a palavra “Custo” estava em letras garrafais na parede da sala de design.
A GM havia superado as loucuras dos anos 90, onde trouxeram Calibra, Tigra, Vectra e etc. O futuro da marca seria sobre economia, talvez pelas projeções apocalípticas feitas sobre o novo milênio e as supostas novas crises de petróleo.
Um achado
Comecei minhas buscas e encontrei em cerca de 1 semana um achado: Um Celta LT 4 portas, com menos de 40.000km, documentação ok e apenas dois donos em seu histórico, sendo que o último havia sido um idoso que não dirigia mais por motivos de saúde e manteve o carro parado por cerca de um ano.
Fui ver o carro, testei, ouvi a história do vendedor e fiz minha proposta, que seria o valor exato da venda do Corolla. Alguns dias depois, o negócio estava feito. Eu havia comprado um Celta.
De imediato tive um pico de adrenalina que carro nenhum havia me proporcionado. O Celta acelerava muito bem, transmitia feedback para dentro da cabine, era barato e não chamava atenção.
Eu parava em todos os lugares sem medo de que alguém quebrasse uma peça rara de se encontrar pois, bem, é um Celta! Acho que nunca havia pensado que estaria em êxtase por ter comprado um automóvel popular, mas estive.
Vida a bordo
Sobre a vida a bordo: O carro é simples, mas não é mal acabado. Não vi parafusos a mostra ou rebarbas mal feitas. Os bancos são confortáveis e têm padronagem de tecido de bom aspecto, assim como as portas que são forradas.
O volante de boa pegada infelizmente não possui ajuste de altura, o que combinado aos clássicos pedais tortos de Corsa podem causar desconforto anatômico em alguns.
A direção é muito leve, tal qual a embreagem e o câmbio, que tem engates curtos. Combinado ao motor 1.0 de quase 80 hp, o conjunto faz o carro puxar muito bem, demonstrando um fôlego incomum.
O nível de ruído é elevado e se sente muita vibração do lado externo, principalmente trepidações e barulhos vindos do motor.
Consumo e segurança
O consumo tem sido de cerca de 10km/L em ciclo misto, com uso de ar condicionado. Ando geralmente sozinho ou com no máximo 2 passageiros, que não costumam reclamar em nada de conforto durante a viagem. Para o público geral, sem preconceitos, o Celta é um carro como qualquer outro e em nada se destaca.
Como este motor é flex, tenho mais uma liberdade que não havia com o Corolla: R$20 de álcool que rendem quase 2 semanas de uso, o que atrelado ao seguro mais barato, faz muita diferença no meu orçamento mensal.
O ponto fraco do Celta é mesmo a segurança, pois neste ano não existem airbags (vale ressaltar que os Celtas mais novos, dotados de airbag, tiveram recall devido ao uso de bolsas defeituosas da Takata). Os freios a disco não são ventilados e demoram a parar o carro. Ainda, a carroceria é instável em altas velocidades pelo baixo peso e sofre com golpes de vento em rodovias.
É possível perceber que numa eventual colisão, o carro não tem a resistência necessária para proteger seus ocupantes, expondo seus passageiros a um risco constante. O habitat ideal do carro é o meio urbano, em baixa velocidade.
Modificações feitas
No que diz respeito a modificações realizadas: Comprei um kit de vidros elétricos para as 4 portas e joguei fora as manivelas do vidro original, instalei um rádio multimídia com kit 2 vias e câmera de ré e troquei as rodas aro 13 por um jogo de aro 14 com pneus Continental.
O Celta estava ganhando forma e se tornando um automóvel, de fato. Não era mais um projeto de carro que nascera prematuro. Ficou realmente mais confortável e moderno.
Referente às manutenções, de imediato comprei um kit revisão pela internet que era composto por 4 litros de óleo ACDelco, filtro de óleo, filtro de ar, filtro de cabine, filtro de combustível e arruela do carter, tudo pela bagatela de R$170.
A partir daí comecei a me impressionar com o baixo custo destas peças e aos poucos minha casa começou a ficar repleta de caixas de encomendas. Palheta dos limpadores: R$25; Tampa do bocal do tanque: R$28; Jogo de tapetes de borracha: R$98; Amortecedores da tampa do porta mala: R$70; Kit de par de faróis e lanternas: R$470; Pastilhas de freio originais: R$58…
A maioria das peças deste carro são passíveis de troca em casa e não exigem ferramentas específicas. Qualquer um com a quantidade certa de cerveja, num domingo, consegue.
Problemas
Com relação aos problemas, eu tive alguns neste período, mas todos relacionados a falhas de design das peças que se desgastam cedo demais, principalmente as de borracha, como buchas e mangueiras.
Um certo dia fui abastecer num posto e pedi R$60 de álcool, sendo que ao menos metade disso foi pro chão devido um rompimento da mangueira do tanque, que estava muito ressecada. Foi trocado no mesmo dia em uma oficina comum, por cerca de R$80 o kit.
Outro problema que tive mais adiante: uma bucha de silicone que segura o ajuste do trambulador estourou por ressecamento (o carro ficou muito tempo parado com o antigo dono), o que fez o carro perder o acionamento da marcha ré. Foi trocado por R$50 e voltou ao normal no mesmo dia também, no mesmo mecânico.
Agora sobre os problemas crônicos que provavelmente já viram pela internet: As vezes ouço barulho vindo da dianteira ao passar em lombadas com mais velocidade, devido ao desgaste das buchas “Morcego”, que ficam inferiores ao motor. Creio que num futuro de médio prazo será preciso substituí-las. Isto é crônico deste chassi e atinge Celta, Corsa e Classic.
De tudo, o pior problema que enfrentei foi um defeito no trambulador que vai sobre a caixa de marchas, sendo preciso trocar a tampa inteira e fazer ajustes, pois o carro em certas ocasiões perdia a 5ª marcha e me forçava a andar com o motor gritando, aumentando o consumo. Foi diagnosticado e resolvido em um mecânico que trocou todo o kit por R$600.
Com relação à pintura queimada pelo sol (a Chevrolet usou apenas o mínimo de verniz necessário, tornando a tinta suscetível a desgaste prematuro) ou indícios de ferrugem na área da bateria e receptáculo das lanternas:
Não passei por isso, creio que seja um problema que apareça em unidades que ficavam na rua, expostas a ação do tempo. Como meu Celta estava parado em garagem subterrânea, exigiu apenas boa limpeza interna e externa, com a remoção de alguns riscos superficiais.
Opinião geral
No geral estou muito satisfeito com o Chevrolet Celta. Mesmo que dê problemas de vez em quando, suas peças baratas e a mecânica fácil diminuem os transtornos. Para efeito de comparação, o pior problema que tive até o momento foi relacionado ao trambulador, que me custou ⅓ do preço da troca de óleo do câmbio do Corolla, que era automático.
Recomendo este carro para aqueles que tiverem o orçamento limitado e não querem se estressar com problemas de sofisticação mecânica: O projeto é rústico, antigo e já está provado pelo tempo como apto a realidade brasileira.
Não espere elogios pelo design, pois o Celta não é tão agradável aos olhos como é ao bolso do proprietário. Na minha opinião a geração anterior, com dianteira inspirada no Vectra, é mais agressiva e vistosa que a última.
Acredito que seja uma boa base, servindo de backup para uma família que possui outro automóvel. Ainda, serve como primeiro carro para jovens que iniciam sua jornada automotiva. Para os entusiastas, são fartos os projetos de swap de motor e preparação, bem como peças cosméticas que melhoram a aparência de girino do Celta original.
Por fim, gostaria de agradecer ao espaço, espero que tenham tido uma boa leitura. Talvez num futuro próximo traga mais histórias sobre outros modelos. Agradeço também a redação do Notícias Automotivas e aos amigos do Midnight Lagoon Loop. Até a próxima.
Por Gabriel Monico
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