Opinião do dono: Kia Picanto EX AT 2014

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Prezados, desta vez venho trazer para o quadro “Opinião do Dono”, meu relato sobre um veículo que esteve comigo por 6 anos, período pelo qual vivenciei muitas experiências positivas e algumas negativas: O meu Kia Picanto EX AT 2014.

Espero que seja uma leitura divertida e que ajude na pesquisa de possíveis compradores desse modelo.

(O Gabriel nos mandou anteriormente relatos sobre o Lancer e o Corolla, mande também o seu!)

Como de praxe, vamos começar com os dados técnicos desse pequeno hatch coreano. A Kia Motors possui o costume de compartilhar componentes com sua irmã Hyundai e nesse caso não foi diferente.

Essa geração do Picanto foi lançada em 2011, sob a plataforma AS (TA no Brasil), que é utilizada por diversos compactos urbanos da Hyundai ao redor do mundo, incluindo o queridinho brasileiro HB20.

O único motor disponibilizado para o carro foi o igualmente compacto Kappa de 3 cilindros, vendido no Brasil em sua versão 1.0 Flex (exclusividade nacional, pois no restante do mundo só aceitava gasolina).

Este propulsor também equipou o HB20 de entrada desde seu lançamento em 2012 e o acompanha até hoje, embora o Picanto tenha saído de linha.

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Sendo inteiramente em alumínio (bloco e cabeçote) e contendo 12 válvulas, esse motor aspirado tocado por corrente trouxe algumas soluções em termos de eficiência: Duplo comando, aplicação de material anti-atrito nas partes móveis (tuchos, pistões, bielas…) e o Variable Induction System (VIS), que altera o percurso do ar nos coletores em prol de melhor aproveitamento do torque.

Assim, extraiu-se míseros 80cv e 10kgfm da máquina.

A transmissão podia ser um câmbio manual de 5 marchas ou um câmbio automático de 4 marchas, ambos conjuntos amplamente utilizados previamente em outros modelos, como Kia Cerato e Hyundai i30. No meu caso, optei pelo câmbio automático.

A particularidade mecânica mais polêmica dos carros coreanos costuma ser o ajuste de suspensão. O tradicional conjunto de McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira teria tudo para ser convencional, mas acaba chamando atenção pelo seu acerto elástico.

Apesar de absorver impactos com mediocridade, percebe-se facilmente que os amortecedores não foram dimensionados para o uso em vias brasileiras, apresentando o chamado “fim de curso” regularmente.

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Associado a isso, os carros coreanos possuem a tendência de não tolerar bem peso, assentando suas molas e reduzindo a altura da carroceria. Assim, não são poucos os relatos de problemas com buchas estouradas e bieletas danificadas, problema esse que eu cheguei a ter e foi necessária substituição da peça.

Se por um lado percebe-se certa fragilidade nos elementos que lidam com estresse externo, por outro a Kia fez o seu dever de casa no que diz respeito à qualidade construtiva. O Picanto ainda que compacto, é um carro com estrutura reforçada que transparece solidez.

Não existem encaixes ruins. A carroceria possui colunas largas e utiliza chapas grossas de aço, algo muito incomum numa categoria acostumada com economia de materiais. Talvez seja um resquício do interesse da montadora em vender este produto como city car europeu, sendo preciso observar as exigências dos consumidores de primeiro mundo, num perfil premium.

O design recebe a assinatura de Peter Schreyer, figurão que foi responsável pela reestruturação da marca. Graças ao trabalho desse designer, modelos como Sportage, Cadenza e o próprio Picanto ganharam projeção global.

Esse feito chegou a torna-lo presidente da companhia na época. Essa universalização da linguagem de design pela Kia deu ao compacto certa personalidade, com vincos, grade “tiger nose” e linhas esculpidas que favoreceram a aerodinâmica. É um carrinho bonito, com aspecto de ser até mais caro.

No interior, a fluidez se apresenta através de uma faixa prateada contínua que atravessa o painel e no volante de dois raios, vazado e com aro espesso.

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O acabamento do carro complementa a dedicação da montadora em investir no segmento premium, utilizando bons materiais e disponibilizando itens inexistentes na concorrência, como: teto solar, retrovisores rebatíveis, bancos em couro e iluminação ambiente individual.

Todo esse capricho da montadora foi decisivo no ato da compra, pois faz o Picanto se destacar do péssimo acabamento de seus rivais up!, 500, March, e Etios.

A experiência ao volante é prazerosa, como se espera de um carro de porte pequeno. Fácil de manobrar pela sua direção elétrica e com uma transmissão que entrega algum torque em baixa rotação, o Picanto se destaca justamente no uso para o que foi concebido: urbano.

Em termos de desempenho, a potência não é tão gradativa: há um impacto inicial e aos poucos o motor vai ficando sem força, atingindo seu limite por volta dos 6000 rpm. No modelo automático havia ainda uma limitação adicional pelo escalonamento das marchas, que fazia o motor trabalhar sempre em alta carga, gritando ao acelerar.

O carrinho é nervoso, mas não por um bom motivo: rosna e treme feito um Chihuahua.

Um ponto importante para refletirmos é sobre a troca realizada ao adquirir esse carro. Como dizem, não existe almoço grátis. Comprando um hatch com bom acabamento e itens exclusivos por um preço popular, precisa-se abrir mão de alguma coisa.

No caso do Picanto, espaço. Para os ocupantes da frente a situação até que é adequada, apesar das pernas esbarrarem nas portas. Complicado mesmo é atrás, pois os bancos traseiros (ainda que possuam encosto de cabeça e cinto para 3 ocupantes) não acomodam bem adultos.

No porta-malas, há o mesmo capricho que no interior (com forração e iluminação), mas nenhum espaço realmente utilizável no dia a dia: as bagagens precisam ficar empilhadas e se amassam.

Eu viajava regularmente com o carro e afirmo que o Picanto se demonstrava competente apesar de estar longe de seu habitat natural. O câmbio de somente 4 marchas prejudicava o uso rodoviário e o pouco espaço interno incomodava com o tempo, mas mesmo assim, não havia a sensação de estar exposto, inseguro ou mal acomodado como estaria em um Kwid ou Etios, que chacoalham com o vento e o passar de caminhões na estrada.

O carro, portanto, transmitia solidez e se mostrava constante em todos os momentos.

Sobre o consumo, em ciclo urbano (paradas frequentes e baixa velocidade) conseguia até 8km/l na gasolina. No etanol, é melhor nem comentar. Em vias expressas, obtive marcas de até 13km/l, calculando manualmente, pois o computador de bordo não dispõe dessas informações. Considero números ruins, comparando com os concorrentes. Associado a um tanque de somente 35l, o Picanto é o tipo de carro que está sempre abastecendo, figurinha carimbada em posto.

Finalizando, irei abordar os problemas que vivenciei no período de propriedade do carrinho:

Certa vez o motor começou a falhar, desligou e não ligava mais, sem aviso prévio. Reboquei o carro para uma oficina e foi constatado que os bicos injetores estavam parcialmente obstruídos devido acúmulo de resíduos.

Algo precoce, incomum para baixas quilometragens. Outro ponto que demonstra como esse carro não foi devidamente adaptado ao combustível nacional foram problemas constantes na boia, peça essa que oxida com o uso de etanol e gera marcações irregulares (um dia o painel chegou a marcar reserva mesmo estando ainda na metade do tanque). São problemas chatos que somente a substituição de peças pode resolver, e muitas vezes só tem disponível em concessionária, como foi o caso.

Cheguei a ter também um problema peculiar com o cluster do painel: a iluminação em led fica acesa constantemente, e assim com o tempo começaram a queimar alguns pontos de luz, deixando um péssimo aspecto. A peça é inteiriça e não possibilita troca de componentes e se quisesse resolver deveria trocar todo o conjunto por um novo. Ignorei e vendi o carro assim mesmo, pois julguei que não valia a pena o alto investimento.

Em questões de manutenção, realizei fora da concessionária devido aos valores praticados. Durante os 6 anos de uso, troquei óleo e filtros, bateria, óleo do câmbio, amortecedores, bieletas, pneus, fluído de arrefecimento, velas e uma bobina que havia queimado. Uma manutenção considerável, mas sem envolver nada deveras crítico.

Veredito:

Recomendo o carro para quem desejar aposentar seu pé esquerdo, sem precisar recorrer a câmbios automatizados (Dualogic, i-motion e afins). O Picanto entregará conforto no dia-a-dia e de quebra é bonito por dentro e por fora. O conjunto motriz não costuma apresentar defeitos, os problemas são os periféricos, sensíveis a condições de uso.

Componentes feitos de plástico ou borracha, como: bicos, válvulas, mangueiras e afins devem ser checados. Já o motor em si, se está lacrado como veio de fábrica, não se preocupe.

Com um seguro barato (um dos carros menos roubados do Brasil), fácil de manobrar, recheado de opcionais e apresentando bom custo benefício, o pequeno Kia é uma boa escolha para solteiros e jovens estudantes, apenas atente-se ao consumo de combustível que pode pesar no orçamento mensal. Recomendo que considerem um ao pesquisar compactos!

Até a próxima.

Por Gabriel Monico

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 18 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.