No começo dos anos 90, o mercado brasileiro viu uma reviravolta na maneira das montadoras venderem e comercializarem seus carros.
A briga pelo motor cada vez maior e o desempenho mais forte foi trocada por uma briga onde o carro com menor motor possível levava a venda.
Isso acontecia primeiramente por causa de uma nova e recente lei que fazia com que carros com motor de até 1.000 cm3 pagassem menos IPI, e também porque a época era de crise e dificuldades financeiras, pedindo economia de combustível.
Como a Fiat já tinha um motor de 1.050 cm3 pronto (aquele do Fiat 147), ela saiu na frente nessa briga, pois foram pequenos os ajustes para fazer com que esse motor ficasse na casa dos 1.000 cm3.
Cerca de 18 meses depois apareceu o Chevette Junior, um Chevette extremamente pelado, até mesmo sem retrovisor do lado direito (como era de praxe em carros muito simples da época) e com motor 1.0.
Algum tempo depois apareceriam Gol 1000 e Escort Hobby 1.0, mas durante alguns meses a briga aconteceu mesmo entre Uno Mille e Chevette Junior.
Desempenho sofrível
Se hoje você acha difícil andar em um carro 1.0 com 80 cavalos ou mais, imagine o que era ter à sua disposição apenas 47 cavalos, no caso do Uno Mille com catalisador?
O Chevette Junior tinha 50 cavalos, mas também andava muito lentamente, pois era mais pesado que o Mille, tendo 866 kg contra 795 kg.
A aceleração de 0-100 dos dois era feita em pouco mais de 21 segundos, com máxima de apenas 140 km/h.
Consumo bom apenas para aquela época
Eles eram carros econômicos, apenas se pensarmos em termos de números dos anos 90. Andando a 100 km/h, velocidade tranquila para os carros de hoje em dia, aqueles carros jurássicos sofriam para manter essa velocidade.
O consumo do Mille era de pouco mais de 14 km/l andando a 100 km/h, e o Chevette Junior não passava dos 12,5 km/l.
Em percurso urbano, nova vantagem para o Mille, com 13,1 km/l contra 11,5 do Chevette 1.0.
E note que esses números eram conseguidos com câmbios manuais de cinco marchas, que eram opcionais. De série, os dois vinham com câmbio de quatro marchas.
Carros muito diferentes em suspensão e conforto
O Chevette usava uma suspensão traseira de eixo rígido, coisa que, mesmo para o começo dos anos 90, era bem antiga.
Por outro lado, a suspensão dianteira era independente, com um ótimo funcionamento.
No Mille, suspensão independente nas quatro rodas, supostamente muito melhor, mas na traseira também era super antiga: usava feixe de molas transversal como estabilizador.
Dois interiores muito simples
O Chevette deixava claro se tratar de um carro antigo que foi rapidamente adaptado para servir como modelo de entrada 1.0, já que pouco tempo depois, em 1993, a Chevrolet apresentaria o Corsa, esse sim um carro super moderno para o nosso mercado, que até mesmo tinha ágio nas concessionárias, e fila de espera.
Mas o Mille tinha detalhes de economia a deixar qualquer um de boca aberta.
O espaço nas duas extremidades do painel, onde existiam saídas de ar internas, nos modelos mais caros do Uno, tinham um tampão no lugar da saída. Sim, ar fresco só vinha para a cabine na área central.
O Mille sequer tinha espelho interno dia/noite, que é o espelho que tem aquela alavanca, para evitar que faróis ofusquem a vista do motorista, mas por outro lado, o Chevette não tinha ar quente nem mesmo como opcional.
Garantia e manutenção
Esta era uma área onde os dois modelos tinham grandes diferenças entre si. Apesar de a garantia ser de um ano sem limite de quilometragem nos dois, as revisões eram bem diferentes.
O Chevette ainda tinha aquela revisão de 2.500 km, existente em modelos ainda mais antigos que ele. Por outro lado, tinha o serviço Road Service da Chevrolet, que garantia socorro mecânico grátis por um ano, em qualquer lugar do país.
Já o Uno, mais moderno, tinha a primeira revisão apenas com 10.000 km, e as duas primeiras revisões eram grátis.
Preço
Eles eram, como você já pode imaginar, os carros mais baratos do Brasil em 1992. O Chevette Junior custava 6.500 dólares e o Uno Mille custava 7.000 dólares.
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