Financiar 100% de um carro é possível? Até alguns anos atrás, meados de 2009 pra ser mais exato, era possível a qualquer propenso consumidor financiar um veículo zero quilômetro ou usado sem dar um tostão de entrada, bastando que basicamente não possuísse restrição de crédito.
Atualmente, alegando alta inadimplência e risco, o sistema bancário restringiu esses financiamentos a uma entrada mínima de pelo menos 20% do valor do bem.
Como exemplo, para um veículo no valor de R$ 20 mil, ao menos R$ 4 mil seriam necessários para aprovar.
Por conta da falta de informação, do imediatismo e do não planejamento financeiro, entre outros fatores, muitas pessoas ainda se dirigem às lojas e concessionárias na intenção de adquirir um veículo financiado sem dar um centavo de entrada.
Isso não é impossível, porém esse é o tipo de operação financeira que vem se tornando cada vez mais restrita.
Atualmente, um bom histórico e situação financeira estável são fatores imprescindíveis, a exemplo já possuir ao menos um ou dois veículos quitados e ter renda comprovada de no mínimo 3 vezes o valor da parcela. Para quem não atende estes requisitos, restam outras alternativas.
Muitos vendedores e agências hoje em dia têm-se usado do artifício de aumentar o valor do carro e simular uma entrada.
Por exemplo, se o carro em questão custa R$ 100 mil, pode-se dizer que a entrada mínima teria que ser de R$ 20 mil, então nesse caso subir-se-ia o valor do veículo em questão para R$ 124 mil, correspondendo os “falsos” 24 mil aos 20% de entrada (lembrando que a falsa entrada é calculada sobre o valor declarado à instituição financeira, e não o valor entre loja e cliente).
Porém, não é algo tão simples como parece.
Seria muito fácil, por exemplo, tentar adquirir um Gol 2009 estando a loja ou o dono pedindo R$ 14 mil no carro e ser declarado ao banco que o veículo está sendo adquirido por R$ 20 mil, simulando assim R$ 6 mil de entrada, mais do que os 20% exigidos.
É preciso antes verificar qual é o valor de tabela ao qual o banco aceita de financiamento no bem, e isso é uma história para o próximo parágrafo.
Por uma questão de controle, e de quebra para evitar o truque citado no parágrafo anterior, as instituições financeiras trabalham com as chamadas tabelas de referência. Você já deve ter ouvido falar na famosa Tabela FIPE.
Nela, constam avaliações médias, realizadas por esta instituição, de todos os veículos vendidos no território nacional, considerando fabricante, modelo, ano de fabricação e versão.
Há outras tabelas de referência, como a Molicar, ou até bancos que têm sua própria tabela, mas a FIPE ainda é a mais usada por financeiras, seguradoras e o próprio mercado.
Sendo assim, escolhido o veículo, o próximo passo é verificar sua cotação (cotação é como chamamos o valor de avaliação da tabela). Da mesma, subtraia 20%. Esse é o valor total que você deverá pagar no carro, para que se possa simular uma entrada.
Como nem tudo são flores, esta artimanha esbarra no fato de que a maioria dos veículos têm valor de mercado próximo à FIPE, ou até maior em se tratando de veículos de sucesso de vendas entre os usados, como Gol e Mille.
Dificilmente você conseguirá convencer o vendedor a lhe entregar a mercadoria por 20% a menos que a FIPE avalia. Por isso é tão mais fácil financiar veículos que não são tão procurados ou bons de venda ou revenda.
Geralmente estes carros têm cotação altíssima. Bons exemplos são Renault Clio e Peugeot 206.
Um Clio básico 4 portas, ano-modelo 2010, por exemplo, pode ser encontrado facilmente por R$ 16 mil ou até R$ 15 mil, sendo que o mesmo cota de FIPE atualmente nada mais nada menos que R$ 18,5 mil, possibilitando simular toda a entrada mínima exigida, no caso R$ 4 mil.
Sobre comprovação de renda e até endereço, há quem se arrisque na falsificação de contracheques e talões, mas isso é um assunto que é melhor nem comentar. É crime, e como todo criminoso, mais cedo ou mais tarde, sem esperar, você vai se enrolar muito com isso.
E, convenhamos, se arriscar assim para se endividar tanto não é lá uma atitude muito inteligente…
E se tratando de carro novo? Bem, infelizmente vale a regra do bom cadastro. Não é possível simular entrada para carro zero, nem adquirir o carro desejado 100% financiado. É mais uma questão de oportunidade.
Uma mistura de preço bom com cotação alta. Em se tratando de veículos particulares as chances são maiores, pois em geral trabalham com preço abaixo das lojas, ficando por risco de quem comprar adquirir um carro sem garantia.
Pra finalizar, a dica é sempre se programar e saber onde se está pisando. Financiamento só em último caso, pois como já é bastante explícito, vivemos sob uma das mais altas taxas de juros do mundo. Humildade, de repente, também vale.
Se você tem, por exemplo, 15 mil pra dar de entrada, por que não comprar um carrinho de 15 mil à vista? Enfim, é com você.
(Texto original por Luis Aires)
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