Na década de 90, chegou ao mercado o conceito de carro popular 1.0.
Naquela época o mercado não era tão acirrado, mas já tinha vários modelos brigando pela liderança do mercado, e também pelo título de carro mais econômico do Brasil.
Esse título era cobiçado, pois quem comprava um carro 1.0 queria, tanto quanto hoje, um carro econômico.
O ano de 1994, mais especificamente, apresentou ao brasileiro um conflito de gerações no mercado automotivo.
Se por um lado tínhamos o recém-lançado Chevrolet Corsa, inédito até mesmo na Europa, com toda a sua tecnologia, do outro lado tínhamos o Fusca Itamar, um modelo que foi vendido de 1993 a 1996, por pedido do presidente do Brasil naquela época, Itamar Franco.
Várias publicações automotivas fizeram seus testes, comparando estes populares, e deles vamos destacar aqui uma reportagem feita por uma revista que já não existe mais, comparando Fusca, Gol quadrado, Uno e Corsa.
O que já podemos adiantar é que as médias ficaram entre 8,4 km/l e 21,2 km/l, entre todos os modelos, e com medições na cidade e na estrada. Continue lendo para ver quem foi o melhor de todos!
Consumo na estrada
Na estrada, quem apresentou o melhor consumo foi o Uno Mille, por mais que se imagine que o Corsa Wind levaria a melhor.
Isso porque o Corsa, além de ser o carro mais moderno, também era o popular com o design mais arredondado e suave, o que em teoria melhoraria seu consumo, e bastante.
Ele também era o único equipado com injeção eletrônica de combustível, ao passo que os outros tinham carburador.
O problema foi que o Corsa, tendo atingido 20,8 km/l no teste, era equipado com um câmbio com relações excessivamente longas.
Com isso, em aclives era sempre necessário reduzir uma marcha, enquanto o Uno seguia firme em quinta marcha, sem perder muita velocidade.
Outra justificativa era que o Mille ELX tinha 56 cavalos de potência, contra 50 cavalos do Corsa, e o torque, de 8,2 kgfm no Mille e 7,7 kgfm no Corsa, o que faz diferença na estrada.
O Uno Mille alcançou na estrada a melhor marca do teste, 21,2 km/l, com o ar-condicionado sempre desligado, mesmo sendo o único modelo equipado com o tal.
Os dois modelos da Volkswagen ficaram bem atrás no consumo rodoviário, pois ambos já tinham projetos muito ultrapassados, mesmo em 1994.
O Fusca dispensa comentários, ter saído de linha somente em 1986 já foi um atraso, imagine voltar à cena nos anos 90.
O Gol 1000, apesar de ser muito querido pelo mercado na época, surpreendeu negativamente, com um consumo nada menos que 40% maior do que Mille e Corsa.
O motor AE-1000 do quadradinho não conseguiu atingir o mesmo patamar de economia dos seus concorrentes mais modernos, e isso só seria melhorado se o modelo ganhasse um motor 1.0 mais atual, o que era inexistente no Grupo VW naquele ano, mesmo no exterior.
O Fusca apresentou consumo de 11 km/l na estrada e o Gol 1000 ficou em 14,8 km/l, números extremamente ruins quando os comparamos com Corsa e Mille, com mais de 20 km/l ambos.
- Mille ELX – 21,2 km/l
- Corsa Wind – 20,8 km/l
- Gol 1000 – 14,8 km/l
- Fusca – 11,0 km/l
Consumo na cidade
A aferição de consumo urbano dos quatro modelos foi feito dentro da cidade de São Paulo, em um percurso exato pré-determinado.
Também eram feitos revezamentos de motoristas, para eliminar a possibilidade de que manias de uma só pessoa atrapalhassem o consumo de um certo modelo, o que também foi feito nos testes de estrada.
Neste espaço, o Corsa conseguiu sua revanche, e foi melhor do que o Mille ELX, alcançando a excelente marca de 16,1 km/l, contra 12,8 km/l do Mille.
Ou seja, se a pessoa usasse o carro somente na cidade, não havia dúvida, a melhor compra seria o Corsa. Se a pessoa usasse em percursos mistos, de cidade e estrada, o Corsa ainda seria o melhor.
A escolha pelo Mille ELX deveria ser feita somente no caso de o uso do carro ser feito somente na estrada, não apenas pelo consumo ligeiramente melhor, mas pela melhor dirigibilidade, sem ser necessárias tantas reduções de marcha em subidas.
Essa vitória avassaladora do Corsa no consumo na cidade se deu claramente pela adoção da injeção eletrônica e o câmbio mais longo.
Mas espere, se o consumo do Mille foi muito pior do que o consumo do Corsa na cidade, os números de Gol e Fusca foram vergonhosos: o Gol ficou com 9,5 km/l e o Fusca atingiu apenas 8,4 km/l, o pior número de todo o teste.
Quem gastasse, digamos, 50 reais por mês com combustível com o Corsa, teria que gastar quase 100 reais para andar o mesmo com o Fusca.
Mas é claro que isso já era de certa maneira esperado por todos.
- Corsa Wind – 16,1 km/l
- Mille ELX – 12,8 km/l
- Gol 1000 – 9,5 km/l
- Fusca – 8,4 km/l
Um comparativo muito desigual?
Talvez os fãs mais ferrenhos da Volkswagen achassem injusto comparar um carro da década de 90 (Corsa) com um da década de 80 (Mille), um da década de 70 (Gol) e um que vinha até mesmo de antes da Segunda Guerra Mundial (o Fusca).
Mas a realidade é que todos eles eram carros oferecidos por seus respectivos fabricantes como verdadeiros “carros populares”, que se eram populares no preço, não eram tanto no consumo de combustível, em especial os dois VW.
Os preços das máquinas
Na tabela oficial de cada marca, os quatro modelos reunidos aqui tinham preços entre 7.300 e 7.800 dólares, o que é equivalente a 7.300 a 7.800 reais, dada a paridade da nossa moeda com o dólar no início do Plano Real.
Para termos uma idéia de quanto seriam esses valores hoje, eles ficariam na faixa de 96.300 a 102.900 reais, se apenas multiplicarmos o valor do salário mínimo para o atual, de 1.320 reais.
Mas na realidade das lojas, os números eram bem diferentes. O Fusca, não tão bem recebido quanto a VW esperaria, era vendido com descontos de até 1.000 dólares.
Enquanto que para o Corsa, o ágio chegava a 3.000 dólares, já que todo mundo queria o modelo e a produção ainda era limitada.
Cadê o Escort Hobby?
A Ford (ou melhor, a Autolatina), sabendo que tinha um modelo bem mais defasado que pelo menos alguns dos outros populares do comparativo, disse que não tinha unidades disponíveis para empréstimo, atitude que até hoje algumas marcas tem quando não querem ver seus modelos em certos comparativos.
A marca resolveria um pouco a sua situação no segmento de modelos de entrada com a chegada do Fiesta 1.3 quadradinho, no ano seguinte.
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