Citroen Aircross: experiência, primeiros 10.000 km rodados

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Nosso leitor Ubaldir acaba de nos enviar mais um texto detalhadíssimo da convivência com seus veículos. Se desejar, antes de continuar lendo, reveja seus textos anteriores:

Amigos do NA, como relatado recentemente por mim, ao final da satisfatória experiência de 4 anos e 70 mil km com um C4 Lounge Exclusive THP, acabei por adquirir um Aircross Auto Shine 2018/2019.

A princípio a intenção foi de alojar a esposa nele para que eu tomasse posse do Peugeot 208 Griffe que ela utiliza, pensando em uma troca daqui a um ano por um outro modelo compacto, uma vez que o C4 estava dispendioso em termos de gastos com combustível pelo uso que tenho feito de um automóvel ultimamente (80 km diários em trânsito urbano).

Entretanto, após o Aircross estar devidamente alojado em nossa garagem, minha esposa meio que foi tergiversando, achando o carro muito grande (na verdade um pouco mais largo e alto que o 208, além de ter o estepe a mais em seu comprimento), dizendo que sentiria a falta dos sensores de estacionamento dianteiros, que gosta demais do teto panorâmico…

Lista: os melhores primeiros carros

Apaixonada que é pelo seu 208 (companheiro de já 3 anos e 70 mil km), acabou me pedindo para continuar com o seu carro (sequer chegou a dirigir o Aircross), e eis que aqui estou, com o “improvável” Aircross em minha garagem.

Alerto para o fato de o texto ser longo, mas para apresentar o nível de detalhes que eu pretendia, não houve alternativa.

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A compra – tudo depende da necessidade

Como já brevemente relatado no post de despedida do C4, o Aircross me custou 25 mil reais na volta do Lounge entregue no negócio, já considerados nesse valor acessórios como as películas de vidros e para-brisas, tapetes de carpete (sintéticos e personalizados, muito bons para lavagem), proteção de pintura, peito de aço e soleiras cromadas das portas.

Daí podem considerar como quiser: a avaliação do C4 (avaliador na concessionária) foi de R$ 43 mil, sendo que assim o Aircross (top de linha – Shine – com cor prata metálica) teria saído pela bagatela de R$ 68 mil.

Se considerar o valor de R$ 50 mil que me pagariam pelo C4 na troca por outro C4 top de linha zero km (muito próximo à tabela FIPE), o Aircross me custou então R$ 75 mil reais. O preço de tabela dele é de aproximados R$ 80 mil com a cor metálica, com os acessórios adicionados ficaria ali pela casa dos R$ 82 a 83 mil.

No fim das contas, o que vale mesmo é a volta de R$ 25 mil.

É aquilo: ou me pagaram bem no C4 usado ou eu comprei o Aircross com ótimo desconto. As duas coisas juntas são impossíveis de se conseguir em uma troca direta em concessionária. Quem é acostumado com esse tipo de negociação sabe disso.

A escolha seguiu unicamente minha necessidade no momento: não temos como ficar sem um carro que aloje a família. Apesar de as viagens de folga em carro não serem mais frequentes, elas acontecem em cerca de duas oportunidades ao ano, pelo menos.

E nessas ocasiões a necessidade de espaço para ocupantes e bagagem é imprescindível, o que torna completamente inviável ter dois carros bem compactos em casa (meu sonho de consumo).

As opções recairiam sobre sedãs “compactos espichados” da moda (estilo Virtus) ou algum desses SUV’s compactos (não gosto deles, mas a patroa tem apreço pelos modelos).

Aí veio a pesquisa: SUV’s compactos com câmbio automático e padrão ao menos intermediário de equipamentos batem fácil na casa acima dos 90 mil reais hoje.

O Virtus, em versões intermediárias, se aproxima dos 80 mil, e acabou me decepcionando no espaço do banco de trás, mais precisamente na altura do teto: impossível alojar ali um ocupante com mais de 1,80m de altura, o que é fatal para mim, que tenho um filho com mais de 1,90m.

Olhei também o Cronos, mas ele tem espaço traseiro bem acanhado para as minhas necessidades.

Olha daqui, olha dali… um fator preponderante começou a pesar: o valor oferecido pelo C4 Lounge nas concessionárias de marcas concorrentes da Citroen. Coisa na casa dos 40 mil (ou até menos), com pedida pelos carros na faixa dos preços de tabela me levariam ao desembolso de algo em torno de R$ 40 mil (até mais no caso de SUV’s compactos) em uma troca direta.

Bem, na Citroen a oferta mais chamativa era a troca do C4 Lounge por um zero km na versão Shine com pintura metálica: R$ 44.900,00 na volta (50 mil pelo meu C4 2014 – 94,9 mil pelo C4 Shine vinho zero km – os acessórios seriam cobrados à parte).

Convenhamos que é uma proposta muito tentadora, analisando-se sob qualquer ótica. Entretanto, eu manteria meu problema de altos gastos com combustível semanais para andar em um carro de dimensões avantajadas com uma ou duas pessoas dentro em quase que a totalidade do tempo, o que eu realmente não queria mais, isso sem falar no desembolso de praticamente 20 mil reais a mais com relação à faixa de preços que eu estava procurando.

E quem me conhece daqui do site sabe que sou extremamente refratário a “repetir” um carro.

Eis que olho de lado no showroom, e lá está um Aircross na (bela) cor dark carmim (um tipo de vinho amarronzado metálico). Por curiosidade entrei no carro.

Primeira impressão: surpresa com o espaço interno. Ajusto o banco dianteiro para mim e depois sento no banco de trás, e o resultado impressiona: há conforto de verdade nas duas posições.

ejo a lista de equipamentos: bastante razoável. O câmbio é o AISIN de 6 marchas, o acabamento é honesto, apesar de incomparável com o que estava acostumado no C4… acabo por pedir um test-drive.

E não é que o carro é muito bom de guiar? Muito macio e confortável. Claro, nada a ver com o comportamento quase visceral do Lounge e seu motor turbo, mas a boa sensação ao volante está ali – o câmbio automático de 6 marchas recém adotado é preponderante nessa conclusão.

Briga daqui, conversa dali: R$ 25.000,00 na volta (patamar que eu estava disposto a gastar), com os acessórios inclusos. Isso na taxa zero em 24 vezes, garantia de recompra na tabela FIPE para o carro, 8 anos de serviços de guincho gratuitos e 3 primeiras revisões a R$ 365,00 cada.

Pesados os cerca de 15 mil a mais (no mínimo) que teria que despender para qualquer outra opção viável de outra marca (seria melhor pegar o C4 Shine zero km por esse valor, em minha opinião), fechei negócio.

No final das contas, teria a opção da pretendida cor Dark Carmim em uma unidade 2018/2018, ou optar por um modelo 2018/2019 prateado. Por questões puramente racionais, fiquei com a segunda opção, uma vez que a minha cor preferida realmente seria a primeira.

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10 mil km de Aircross – os detalhes para o bem e para o mal

Começa o uso no dia a dia, e vêm as percepções a respeito do modelo.

Ele traz juntamente com seu formato “quadrado-arredondado” características boas de diversos segmentos: o espaço interno bastante satisfatório para os ocupantes e o razoável porta-malas dos sedãs médios (ao menos aproximadamente); a posição de dirigir elevada, bons ângulos de entrada e saída, boa visibilidade e uma razoável altura livre do solo dos SUV’s; a boa modularidade das peruas (seus bancos traseiros bipartidos se rebatem totalmente e ficam alojados junto ao encosto dos dianteiros); tudo isso com o tamanho externo relativamente reduzido, próximo aos hatches compactos.

O conceito que rapidamente se faz do modelo da Citroen é que ele é bastante funcional.

No acabamento, o que se tem é o padrão de compactos ditos “premium” em nosso mercado: tudo em plástico rígido com várias texturas, peças muito bem encaixadas e com design agradável.

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Há uma percepção positiva para o Aircross: muitas peças de seu interior (e mesmo exterior) são compartilhadas com o C4 Lounge, como alavancas de limpador e seta, botões de vidros elétricos, aletas de abertura das portas, palas de sol e retrovisores externos.

Isso causa um tipo de “sensação reversa” àquela que senti com relação ao Jetta quando eu o comprei (o modelo tinha muitas peças idênticas às vistas no Fox e no Gol).

Por certo que se eu tivesse feito o caminho inverso (indo de um Aircross para o C4), a sensação seria contrária, tendendo à negatividade.

Também chama a atenção negativamente a ausência de forração em couro dos apoios de braço nos painéis de porta: eles são totalmente em plástico (apesar de uma textura diferenciada). A adoção de uma pequena área revestida como a que temos no Peugeot 208, por exemplo, daria um bom upgrade no visual geral do interior.

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Os gaps de montagem são bem limitados, mas existem: a porta do motorista tem um leve desalinhamento em sua porção lateral inferior; a porta traseira direita tem um vão um pouco maior do que o padrão das outras na região próxima à maçaneta; e a capa do alto-falante dianteiro esquerdo sobre o painel (fica junto ao para-brisa) tem um milimétrico desalinhamento com o resto do conjunto. São detalhes bem pouco perceptíveis, mas o observador atento é capaz de notar.

Um detalhe de design que é muito positivo em todo o carro: as peças com pintura em grafite metálico que compõem toda a arquitetura interna e externa do modelo.

Retrovisores externos, maçanetas externas, molduras de faróis de neblina (frente e trás), molduras dos DRL’s, barras longitudinais do teto, quebra-matos, moldura da placa traseira, capa do estepe, rodas, faixa longitudinal que cruza o painel de instrumentos em toda a largura do veículo, dentre outros. É um detalhe muito agradável que realmente chama a atenção de quem curte detalhes de design.

Também chamam a atenção os detalhes em peças “quadrado-arredondadas” que compõem muito bem com o visual do carro: faróis de neblina, capa do estepe, difusores de ar internos, desenho das rodas, molduras das luzes de ré/neblina traseiras… são muitos detalhes que repassam uma sensação de esmero na composição do estilo.

No design exterior, é aquilo que todos já conhecem de um modelo já com muitos anos em nosso mercado: mesmo com a sua idade, ainda é um visual “descolado” e “simpático”, por assim dizer.

Os motivos quadrado-arredondados são agradáveis à visão, não há como negar. A revitalização em seu visual ocorrida em 2016 deu uma boa atualizada na aparência do carro, a despeito de que, em minha opinião, tenha tirado um pouco do requinte visual do modelo original, que tinha mais superfícies metalizadas, o que dava um ar de maior sofisticação e valor agregado ao carro. Mas o resultado final foi satisfatório, acho eu.

Sentado ao seu volante, a sensação principal a ser resumida em uma palavra é conforto. Eu, com meu 1,95m de altura, além de entrar no carro com enorme facilidade (a altura do teto dá ao carro um grande vão de entrada), me alojo muito bem com poucas regulagens do volante (profundidade e altura) e do banco.

Aliás, os assentos dianteiros muito me lembram em seus encostos dos excelentes e ergonômicos bancos do C4. As abas laterais são pronunciadas na medida certa e a densidade da espuma é irretocável. Talvez um assento com um comprimento um pouco maior tornasse o conjunto perfeito. O acabamento em couro de dois tons de cor e porção central em tecido é de muito bom gosto para essas peças.

A direção é extremamente leve em manobras, fazendo com que o peso que eu tinha na eletro-hidráulica do C4 me parecesse absurdo.

O 208 (que eu achava tão leve antes) passou a me passar a percepção de ser “pesado” depois que eu dirigi o Aircross, para se ter uma ideia. A progressão de peso em velocidade é perfeita. O volante é muito bonito em seu design, com regiões em couro perfurado e liso se alternando e superfície aluminizada na sua porção interna inferior, contando com dimensão mediana, formando um belo visual para a peça (bem melhor que o enorme volante do C4, diga-se de passagem). A pegada é muito boa.

Os comandos de limitador e controlador de velocidade estão em uma alavanca satélite à esquerda, atrás do volante. Os de mídia estão ao lado direito. É um arranjo funcional, você se adapta rapidamente a ele, é intuitivo, mas… não há como dizer que os comandos dispostos no volante, da forma como temos no C4, não sejam ergonomicamente melhores.

Estão ali na frente dos olhos, ao contrário das alavanquinhas, as quais de certa forma “poluem” o ambiente ali atrás do volante, onde já estão as tradicionais alavancas de seta e limpador de para-brisas, sem contar no fato de que elas ficam visualmente escondidas, longe do alcance dos olhos. Mas é correto dizer que o belo design do volante é beneficiado pela ausência dos botões dispostos nas citadas alavancas.

A central multimídia ficou extremamente bem localizada, embutida no painel, é muito intuitiva e completa, contando com espelhamento de celular (não há mais GPS nativo), funções de mídia, telefonia, memórias de computador de bordo, visualização de fotos, dentre outros.

Sua operação é muito fácil, sendo muito simples parear celulares, e a sua localização torna muito fácil a operação, bem ao alcance das mãos do condutor. A manutenção dos botões físicos do ar-condicionado digital automático é positiva, em minha opinião.

Não gosto do controle por intermédio da central, da forma como colocaram no novo C4 ou dos que vi no 3008, por exemplo. A falta de entrada para CD’s pode incomodar alguns, apesar de ser claro que este tipo de mídia está completamente obsoleto. O som é de boa qualidade, com opções de equalização na multimídia. Mas não espere arroubos sonoros do conjunto, o que nem combina com a pegada extremamente familiar do carro.

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Ergonomia

Em termos da ergonomia, ficam alguns (vários, é verdade) adendos que merecem destaque negativo:

  • A coluna de direção é discretamente deslocada para a direita com relação ao motorista, algo muito comum em carros onde a linha dos bancos da frente está disposta muito próxima ao eixo dianteiro para ampliação do espaço interno. É notável para o motorista mais atento e pode ser cansativo em períodos muito prolongados de utilização;
  • Não há como não demonizar o grupo PSA toda vez que você busca o posto de abastecimento e tem que se entregar a chave para o frentista: é algo completamente anacrônico;
  • Os botões de vidros elétricos deveriam ser de “um toque” para todos os vidros. Só o do motorista conta com este recurso;
  • A falta de iluminação dos espelhos das palas de sol deveria ser revista em toda a linha de compactos da PSA. Faz falta e sempre dá um charme a mais ao veículo;
  • Algo incômodo que era característico no C4 Lounge também está presente no Aircross: nos horários de sol a pino (próximos ao meio dia), a lente acrílica que cobre o cluster reflete o acabamento da parte superior da coluna de direção, atrapalhando a visualização dos instrumentos. Talvez seja o caso de a Citroen rever o material translúcido utilizado neste local;
  • A alavanca do freio de mão é um tanto quanto distante da mão do condutor por conta do assento bem elevado, e ainda conta com os (bons) apoios de braço centrais (individuais para cada banco dianteiro) atrapalhando seu acesso. Para mim que tenho os braços muito compridos, sem problemas, mas para um condutor de altura mediana é bem provável que deva incomodar;
  • A chave do Aircross (igual à do C3) é de visual muito ultrapassado e simplório. A adoção do mesmo belo padrão observado nesta peça para o Peugeot 208 (o 3008, o C4 e o 408 compartilham a mesma chave, não sei porque isso não ocorre na linha compacta) seria a opção mais sensata;
  • Não há indicação no painel da marcha que está em uso. É relativo (muitos vão dizer que em um carro automático esta informação é irrelevante), mas para mim faz alguma falta;
  • Há dois relógios digitais no carro (não me perguntem o porquê), um no cluster e outro na multimídia, e os dois não “conversam” entre si, o que torna necessário sincroniza-los de tempos em tempos, o que é chato, por assim dizer.

No mais, há bons nichos de porta-trecos, locais para porta-garrafas nas portas, porta-copos junto ao console central… adequados em número e disposição, ao menos para as minhas necessidades. O porta-luvas refrigerado é enorme e atende bem a qualquer tipo de utilização.

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Na parte de trás, espaço para pernas muito bom, mesmo para pessoas de grande estatura, teto bem elevado, o que somado à ampla área envidraçada e ao assento traseiro em posição mais alta (efeito anfiteatro), dá ao interior do Aircross uma sensação de amplitude realmente diferenciada.

Há ainda cintos de 3 pontos e encosto de cabeça para todos os ocupantes (o cinto central tem arranjo muito interessante, partindo do teto e com peça imantada para recolhimento quando não utilizado) e assoalho praticamente plano, dando um pouco mais de conforto ao integrante central do banco traseiro, a despeito da notável inclinação tendendo à verticalidade do encosto, o que permite supor que deva gerar algum desconforto em viagens mais longas (ainda não fiz nenhuma com ocupantes no banco de trás).

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No porta-malas iluminado, 403 litros, bom acabamento (todo acarpetado e/ou revestido de peças plásticas de bom visual) e a possibilidade de rebatimento total dos assentos traseiros formam um bom e funcional conjunto, o que é otimizado pelo formato do carro, que facilita o alojamento de malas de bom porte facilmente, mesmo se dispostas na vertical.

Claro, há o incômodo do estepe externo, o qual demanda uma manobra a mais para abertura do compartimento, além de um certo espaço traseiro para permitir o deslocamento do conjunto do estepe para a esquerda do veículo.

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Equipamentos – lista razoável

O Aircross Shine vem relativamente bem equipado:

Volante, bancos e apoios de braço centrais em couro (os bancos parcialmente, com centro em bela padronagem de tecido negro – segundo a Citroen, inspirada no calçadão de Copacabana), ar condicionado automático digital, sensores crepuscular e de chuva, sensor de estacionamento traseiro com câmera de ré, multimídia completa com espelhamento de smartphones, controles de mídia e som no volante, direção elétrica, vidros e retrovisores elétricos, faróis e lanternas de neblina, além de iluminação diurna (DRL’s) em leds.

Com relação ao que tinha no C4, faltam keyless (confesso que não me faz falta – é uma simples questão de se habituar com um arranjo ou outro), sensores de presença lateral e dianteiros de estacionamento (esses eram realmente úteis, mas não estão disponíveis nem mesmo no C4 top de linha mais novo), rebatimento dos retrovisores externos (também excluídos da lista de equipamentos do C4 na linha atual), retrovisor interno fotocrômico (muito útil) e configuração bi-zona para o ar-condicionado (outro acessório que nunca fez real diferença para mim).

Ele tem a mais a multimídia ”touch screen” com espelhamento (a do C4 era comandada por botões físicos).

Segurança passiva – aí que o “bicho pega”

É no quesito de equipamentos de segurança passiva que acho que o Aircross “pisa mais na bola”. Apenas os obrigatórios airbags dianteiros, com a falta quase injustificável de ESP e isofix.

É ruim considerando-se ser um modelo familiar de topo de linha, não há dúvidas. Para meu uso, o isofix realmente já não faz diferença (minha caçula saiu da cadeirinha já tem um tempo), mas é uma falha considerável em um carro mais voltado às famílias.

O ESP me parece a falta mais grave da Citroen no pacote oferecido para o carro. Com centro de gravidade elevado, mais que nos modelos “normais”, o controle de estabilidade seria muito bem-vindo.

A despeito de em meus 30 anos de direção nunca ter passado por uma situação em que o ESP teria entrado em ação efetiva, segurança nunca é demais, e nunca sabemos quando iremos passar por uma situação em que um dispositivo desse possa significar a diferença entre um acidente ou não.

Ainda na conta da segurança passiva, uma falta que ao menos na minha percepção é grave: a falta de repetidor lateral de seta. Na linha C3 (tanto no hatch como no Aircross), as lentes dos indicadores de seta dianteiros ficam alojadas por dentro dos faróis (no caso do Aircross, nas extremidades da grade frontal), tirando qualquer visibilidade da mesma para quem está na lateral do carro.

Mais que em outros modelos onde a lente da seta fica na extremidade externa dos faróis (possibilitando sua visualização pela lateral), no Aircross o repetidor lateral deveria ser obrigatório, em minha opinião. O arranjo utilizado no C4 ficaria ótimo, com repetidores alojados nas hastes dos retrovisores externos. Bola fora da Citroen.

No final das contas, para o atual mercado, o modelo fica devendo em segurança passiva. Esse talvez seja o ”calcanhar de Aquiles” do Aircross quando analisado o patamar de preços praticados para o produto.

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Mecânica, consumo, confiabilidade – vamos ao que mais interessa

A mecânica do Aircross conta com o velho e confiável motor 1.6 16V do grupo PSA, o qual dispõe de razoáveis números de potência e torque para a sua cilindrada (considerando-se motores aspirados, claro), mas que já não é referência em consumo de combustível a muito tempo.

As alterações feitas pela Citroen que diminuíram a potência dos motores em 4 cv acabaram por melhorar muito seus ruídos de funcionamento, o que resultou em um silêncio impressionante dentro da cabine do modelo, fruto também de um serviço de isolamento acústico muito bem feito, com certeza (nem se nota ruído vindo dos pneus de uso misto, que costumam ser barulhentos em rodovia).

Comparando com o 208 que temos em casa, nota-se que a adoção dessas mudanças em conjunto com o câmbio de 6 marchas trouxe significativa melhora na eficiência energética.

O novo câmbio de 6 marchas casou como uma luva com o motor, contando com trocas tanto ascendentes quanto descendentes muito suaves e escolha certa de marchas para cada situação, o que dota o veículo de boa desenvoltura no uso cotidiano.

Na comparação direta com o C4 Lounge, posso dizer com segurança que o funcionamento do câmbio no Aircross é mais suave que no sedã médio, bem provavelmente pela brutal diferença de torque (em especial em baixas rotações) entre as unidades de força, o que sem dúvida suaviza a mudança de marchas.

Em uso rodoviário o motor dá conta do recado para uma tocada em ritmo familiar. Em velocidades de cruzeiro é normal o câmbio trabalhar entre a 4ª e a 6ª marcha em subidas mais íngremes de acordo com o peso que se carrega a bordo. Ultrapassagens arrojadas não são recomendadas.

Ainda no tocante ao câmbio, uma melhoria muito significativa foi feita com relação ao que se notava no C4 2014 que eu tinha: ao colocar o carro parado mantendo-se o pé no freio, o câmbio entra automaticamente em “N”, voltando ao “D” assim que se alivia o pé do pedal da esquerda.

Relatei algumas vezes que achava bem incômodo no C4 a tendência do carro se manter em movimento mesmo nas paradas em semáforo, por exemplo, com o conjunto mecânico nitidamente continuando a “empurrar” o carro, demandando segurá-lo firmemente frenado.

A suspensão conta com acerto muito confortável, com funcionamento extremamente silencioso, o que é reforçado pelos pneus de uso misto e perfil elevado. Mesmo com esse acerto, a estabilidade é bem adequada ao perfil do carro. Claro, a rolagem pronunciada da carroceria em curvas mais fortes está presente (não há como esconder o elevado centro de gravidade do modelo), mas em momento algum tem-se sensação de insegurança na condução do veículo.

O silêncio a bordo é notável.

Nem mesmo o estepe externo (já tivemos um Cross Fox em casa – o estepe chacoalhava muito) ou os pneus de uso misto causam ruídos perceptíveis em movimento. Vale pontuar o movimento do combustível no tanque quando este está cheio, que causa um ruído que é possível de ser notado com o som desligado em frenagens.

Somando-se tudo, o perfil familiar do veículo se pronuncia, com muito conforto na sua habitabilidade.

Em termos de confiabilidade, a revisão de 10 mil km se foi sem qualquer registro. Revisão normal de R$ 365,00 tabelada + R$ 99,00 por alinhamento e balanceamento. Ao contrário do que tive no C4, onde alguns detalhes tiveram que ser resolvidos logo após a retirada do carro da concessionária, o Aircross veio impecável, sem detalhes a serem comentados com relação à revisão de entrega.

Quanto à rede autorizada, até por não ter passado por nenhuma ocorrência fora do normal com o carro, fica difícil avaliar a sua atuação. A princípio, com a primeira revisão feita à contento, fica mantida a percepção que formei no convívio com o C4, ou seja, positiva, sem infortúnios que possam desmerecer os serviços prestados.

Consumo

No consumo, é possível apresentar os seguintes números:

Etanol:

– Em congestionamentos: casa dos 5 a 6 km/l;
– Em trânsito urbano pesado: 6 a 7 km/l;
– Em trânsito urbano médio: 7 a 8 km/l;
– Em trânsito urbano leve: 8 a 9 km/l;
– Em uso rodoviário normal: 9 a 10 km/l;
– Em uso rodoviário em velocidades módicas (até 100 km/h): até aproximados 11 km/l.

Gasolina:

– Em congestionamentos: casa dos 7 km/l;
– Em trânsito urbano pesado: 7 a 8 km/l;
– Em trânsito urbano médio: 8 a 9,5 km/l;
– Em trânsito urbano leve: 9,5 a 11 km/l;
– Em uso rodoviário normal: 13 a 14 km/l;
– Em uso rodoviário em velocidades módicas (até 100 km/h): até aproximados 15 km/l.

O meu objetivo maior na troca do C4 foi atingido com folga. O Aircross pode não ser referência em consumo no mercado, mas com relação ao sedã médio da Citroen a economia é brutal: faço com um tanque de etanol do Aircross (55 litros – R$140,00) o que fazia com um tanque de gasolina do C4 (60 litros – R$ 260,00). Na economia mensal pago mais da metade da parcela referente ao Aircross. É muita coisa.

A (boa) capacidade do tanque garante autonomia razoável, mesmo em ambiente urbano e utilizando etanol – algo próximo aos 400 km, às vezes um pouco mais, às vezes um pouco menos.

Comentários finais

Merece um comentário à parte a utilização do aplicativo “My Citroen” disponível para o veículo.

Ao se conectar com o carro via Bluetooth, o celular registra todos os percursos que você faz, te dá o consumo e o gasto em reais com combustível para cada um (toda vez que se detecta adição de combustível no carro o aplicativo te pede o valor do litro abastecido), a quilometragem e a velocidade média do percurso, informa a última localização do veículo, informa quando o combustível está no fim, alerta para revisões, permite agendar as mesmas, dentre outras possibilidades de gráficos de estatística de consumo e outras comodidades. É realmente muito interessante.

O 208 da minha esposa tem aplicativo semelhante, mas não é tão completo quanto o que tenho para o Aircross. E impressiona a precisão dos números de consumo fornecidos tanto pelo aplicativo, quanto pelo computador de bordo. Bate em cima na aferição a cada abastecimento. Acho que é o primeiro carro que possuo com precisão adequada para o consumo apresentado pelo computador de bordo.

Somando tudo o que foi descrito em detalhes no texto, a conclusão é aquela que já está expressa no título da matéria: O “improvável” Aircross (até pouco tempo nem seria capaz de me imaginar com um) acabou se revelando incrivelmente surpreendente no sentido mais positivo da palavra.

Gostoso de guiar, espaçoso, silencioso, confortável, relativamente econômico (meu parâmetro é o C4, não se esqueçam), o monovolume da Citroen realmente se demonstrou uma escolha extremamente acertada para o que eu procurava e precisava para este momento da minha vida.

Vale ainda a observação do fato de que sou ciclista. O carro acabou caindo como uma luva para as minhas necessidades de transporte de uma bicicleta em seu interior. O rebatimento dos bancos traseiros possibilita levar com extrema facilidade a “magrela” no “camburão” do carro. Muito bom, mesmo.

Com desempenho adequado ao seu perfil (absolutamente sem possibilidade de comparação ao que eu tinha no C4, que fique claro) e muito conforto a bordo, o carro te induz a uma condução “zen”, em momento algum te induzindo a apertar além do necessário o pedal da direita, mas nem por isso deixando de ser um modelo de condução muito prazerosa.

Somados os prós e os contras descritos no texto, experiência altamente positiva no convívio com o carro até o momento. Mas vale lembrar aos leitores: é um veículo muito específico para quem precisa de características por mim narradas no texto. Se a prioridade é desempenho, condução esportiva ou refinamento nos materiais do acabamento interno, melhor procurar outras opções. O Aircross não tem essa pegada. Se eu analisar pela ótica “expectativa x realidade”, confesso que o carro se saiu ainda melhor do que o C4 Lounge.

Considerando-se o que há no mercado na faixa de preços de pouco abaixo de 60 até cerca de 75 mil reais, não existe nada com as características do Citroen disponível, em especial em termos de funcionalidade, espaço interno, nível de conforto para os ocupantes e lista de equipamentos.

O ponto negativo fica mesmo na falta de mais equipamentos de segurança passiva, algo que daria ao carro uma relação custo x benefício difícil de ser batida com relação a competidores da mesma faixa de custo de aquisição.

Ah, como última observação, devo falar do fechamento das portas: elas são peças altas e pouco largas, sendo dotadas de pouca inércia no sentido longitudinal do carro. Isso faz com que sejam muito leves, o que acaba tornando-as um pouco mais chatas de fechar do que eu julgaria normal. Não é raro que se tenha que repetir o movimento de fechar uma das portas.

Bem, não é nada muito significativo, mas existe a característica. Devo salientar que esta característica diminuiu muito com o passar dos quilômetros com o carro (o desgaste natural das peças que fazem parte da tranca e o amaciamento das borrachas de vedação devem ser os responsáveis pela questão da melhora percebida), sendo que aos 10 mil km rodados ela já praticamente não existe.

Lá pelos 30 mil km rodados volto a fornecer um relato sobre a convivência com o carro, em especial com relação à manutenção e atendimento em rede autorizada.

Antes disso devo fazer um texto final sobre o Peugeot 208 da esposa, o qual devo providenciar a troca até meados de 2019, momento em que o veículo estará chegando aos 4 anos de uso e com o hodômetro marcando aproximados 90 a 100 mil km.

Abraços a todos

Ubaldir Jr. – Goiânia

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 18 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.