Especialista explica por que o consumidor não tem essa opção e quais são as vantagens do Ciclo Diesel
Sueli Osório
Muitos leitores questionam por que não temos automóveis movidos a diesel no mercado brasileiro (veja como funciona o mercado de carros na Venezuela). Na verdade, isso ocorre porque esses veículos foram proibidos no País na década de 1970.
A portaria MIC nº. 346, de 19 de novembro de 1976, é a que proíbe a comercialização de veículos de passageiros a diesel. O Brasil tornou-se o único país do mundo a proibir o carro de passageiros a diesel. Há outras resoluções complementares à proibição:
– Portaria 140 de 90 – inclui caminhonetes de uso misto na proibição;
– Portaria 23 de 94 – proíbe o consumo de diesel como combustível;
– Resolução 25 de 98 – proíbe o licenciamento de veículos a diesel.
Segundo Rubens Avanzini, coordenador da Comissão Técnica de Motores Diesel da SAE Brasil, à época da proibição do carro a diesel no Brasil, o cenário macroeconômico era de importação de 78% do petróleo consumido, condição agravada pelas duas crises do petróleo.
“O custo com importação de petróleo cresceu de US$ 600 milhões, em 1973, para US$ 2,6 bilhões em 1974, e para US$ 10,6 bilhões em 1981”, explica Avanzini.
Na época, a participação do custo do petróleo importado nos pagamentos externos brasileiros passou de 9,7% para 52,7% de 1973 a 1980, período em que a dívida externa brasileira pulou de US$ 6 bilhões para US$ 54 bilhões.
A tecnologia diesel disponível não previa controle de emissões; os motores eram ruidosos e de baixo desempenho. Além disso, segundo Avanzini, o combustível tinha elevadíssimo teor de enxofre. Os meios produtivos precisavam de diesel para o transporte de carga, geradores, máquinas de construção e agrícolas.
“A crise do petróleo elevou o custo do desenvolvimento do País e decidiu-se subsidiar o preço do diesel e limitar sua utilização apenas aos meios produtivos. Assim, seu uso foi proibido para carros de passeio. Mas hoje este subsídio não existe mais.”, lembra Avanzini.
Quais as vantagens do diesel?
Atualmente, os motores a diesel são 30% mais econômicos que os movidos a gasolina aspirados e aproximadamente 25% mais econômicos que motores de injeção direta a gasolina (Fonte: Kraftfahrt-Bundesamt (KBA) 05.2008, Fuel consumption in MNEDS, at least EU4 certification).
Além disso, apresentam torque 50% maior que propulsores similares do ciclo Otto. “Isso proporciona maior prazer ao dirigir, pois a resposta em acelerações (ultrapassagens) é muito grande”, opina Avanzini.
A economia de combustível do ciclo Diesel em relação ao ciclo Otto deve-se às características da combustão em cada tipo de ciclo, sendo que o diesel proporciona melhor aproveitamento energético do combustível.
“É muito comum confundir-se a tecnologia do ciclo Diesel com o combustível diesel. A Tecnologia Diesel permite a queima de combustível com maior eficiência energética através da compressão de ar antes da injeção de combustível. Assim, as taxas de compressão do ciclo Diesel são maiores e a queima acontece em uma frente de chama, gerando maior eficiência na queima. Já no ciclo Otto isso não é possível, pois o combustível é comprimido já misturado ao ar e a queima acontece de forma mais rápida”, explica.
Todos os veículos com motores de combustão interna atendem a exigências legais de limites de emissões de escape, independentemente do combustível utilizado. Em 2013, com a entrada em vigor do Proconve Leves Fase 6, os limites estabelecidos asseguram que este veículos emitirão níveis praticamente equivalentes de poluentes.
“Assim, a partir deste nível de limites de emissões, torna-se mais adequado buscar maior performance na conversão da energia do combustível em trabalho para minimizar a emissão de CO2. Como o ciclo Diesel consome menos combustível, isso se traduz em menor emissão de CO2”, explica.
O motor diesel, por suas características operacionais e construtivas, tem vida útil média mais elevada que um motor a gasolina de mesmo tamanho. Esta diferença é de pelo menos o dobro em relação ao motor a gasolina, segundo o especialista.
A única desvantagem apontada por Avanzini em relação aos veículos movidos a diesel é o fato de serem mais caros.
Segundo ele, os automóveis movidos a diesel poderiam complementar a frota brasileira de maneira sustentável. “Atualmente, no Brasil o consumidor não tem a opção de escolher entre um carro Flex Fuel e um carro a diesel. Diante da liberação do carro diesel os consumidores teriam a oportunidade de fazer as contas e escolher o que valesse mais a pena, um carro a diesel ou Flex Fuel, de acordo com seu tipo de utilização do veículo.”
Segundo ele, os consumidores que rodam muitos quilômetros por ano, como taxistas e frotistas, encontrariam vantagens econômicas nos carros a diesel.
Além disso, seria mais um motivo para continuar a desenvolver combustíveis alternativos para o ciclo Diesel. Testes garantem o uso de Biodiesel misturado ao diesel fóssil (semelhante ao etanol misturado à gasolina), conforme já estabelecido por lei.
*Informações adicionadas posteriormente:
Respostas por Sidney Oliveira, vice-presidente da AEA
E as desvantagens do diesel?
Com este combustível as pressões de trabalho são muito mais altas (hoje temos 5 bar num motor ciclo Otto com injeção no coletor enquanto no diesel aproximadamente 1800bar) e a durabilidade exigida é muito maior o que torna o sistema mais robusto e consequentemente mais caro.
Os automóveis movidos a diesel poderiam complementar de maneira sustentável a frota brasileira, juntamente com os modelos flex?
Sem dúvida. Eles poderiam substituir uma fração daqueles veículos que rodam mais do que 35.000km ao ano pois se colocarmos na ponta do lápis os custos envolvidos veremos uma vantagem econômica significativa. Essa quilometragem pode variar em função do preço dos combustíveis.
Havia um projeto de lei do senador Gerson Camata (PMDB – ES) para permitir a venda de automóveis a diesel. Como está esta questão?
Pela informação que temos o projeto foi arquivado, o que achamos uma perda de oportunidade para a sociedade em geral, que poderia ter mais uma opção de escolha além de estarmos terminando com a última proibição que vem desde a época da ditadura, além dos motivos já citados em relação ao benefício de consumo e emissão de CO2.
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