Avaliação: Ford Bronco é rápido no asfalto e na terra

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Não fossem as linhas retas, típicas de SUV, a gente diria que estava dirigindo um carro de passeio – e dos bons.

No asfalto, as respostas ao acelerador são instantâneas, o interior é silencioso e o carro roda macio. A ponto de a gente não sentir nenhum tipo de inveja daquele importado alemão que está ali a seu lado na zona urbana.

Na terra, o modelo assume seu lado selvagem e também vai vencendo pedras e buracos com uma facilidade incomum, enquanto do lado de dentro os ocupantes nem sentem o que se passa sob a carroceria. Viajam como se estivessem no asfalto.

O Ford Bronco Sport surpreende em vários aspectos.

Veja também: Os melhores carros para estrada de terra

E vamos começar pelo lado triste dessa história, uma espécie de balde de água fria após essa introdução positiva: o SUV da Ford chegou do México no mês passado por R$ 256.900, mas já está em R$ 264.690. É uma alta de quase R$ 8 mil em pouco mais de 30 dias!

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Mas, tentando ver o lado positivo dentro da notícia ruim, o fato é que o Bronco Sport mostrou muita versatilidade em uma semana de uso em território misto. Apesar do nome, apresentou bons modos na cidade e foi rústico na terra.

O SUV tem 4,39 m de comprimento e em termos de dimensões, preço e equipamentos chega para disputar mercado com as versões mais caras do Jeep Compass. O modelo feito em Pernambuco se diferencia basicamente por oferecer motor a diesel, um 2.0 de 170 cv de potência e 35,7 mkgf de torque.

O Bronco Sport chega em versão única, Wildtrak, de topo. O 2.0 turbo Ecoboost a gasolina rende 240 cv de potência e 38 mkgf de torque. O câmbio automático tem oito marchas e a tração 4×4 adapta-se a diversos tipos de piso.

Enquanto isso, o Compass Trailhawk (versão mais cara do modelo) parte de R$ 221.990, e pode chegar a R$ 240.790 com teto solar panorâmico (R$ 8.900) e o pacote denominado High Tech (R$ 9.900).

Ele inclui tecnologias de auxílio à condução (controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão frontal com frenagem automática para pedestres e ciclistas, aviso de mudança de faixa com correção de volante, comutação automática de farol, detector de fadiga e som da Beats, entre outros itens.

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São tecnologias que também estão no Ford, que vem completo (não há opcionais). A montadora do oval azul quer soltar seu novo modelo para brigar também com oponentes do andar de cima, como Land Rover Discovery Sport, também Audi Q3, junto com BMW X1 e o caro Mercedes GLC. Como se vê, confiança não lhe falta.

O Bronco Sport tem linhas retas, aquele tradicional formato de “caixa” que caracteriza os SUVs. Nesse caso, no entanto, o formato é uma homenagem ao modelo original, que fez muito sucesso nos EUA durante os 30 anos em que permaneceu em produção (de 1966 a 1996).

E, claro, depois disso também. Tanto que voltou. Menos “bronco”, mas sem deixar de ser Bronco.

Seu melhor ângulo é a frente, caracterizada pela grade alta e bem vertical. Coisa de carro que não tem medo de brigar nem com o vento.

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Mas o saudosismo para aí. Os faróis estilosos de LED têm um formato característico, uma assinatura facilmente reconhecível, de dia ou de noite. A palavra Bronco em letras maiúsculas toma toda a dianteira. Não sobrou espaço nem para o logo azul da Ford.

É ousado esse Bronco, e esconde até o nome da mãe. Em vez do tradicional oval, o SUV exibe em várias partes (como no volante e na tela da central multimídia) um cavalo com as patas traseiras prontas para o coice. E ele vem!

Andei no Bronco em diversas situações. Na rua, na chuva e na fazenda, como cantou o músico Hyldon. Por “fazenda”, entenda-se o Campo de Provas da Ford, em Tatuí, no interior de São Paulo. Ali há um complexo de pistas de terra e de asfalto, que permitem explorar todos os dotes do carro.

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Um SUV que dá gosto no asfalto…

Começamos pelo asfalto. Com o seletor de condução no modo esportivo (em breve vou falar mais sobre esse comando), pisei fundo, abri a porteira do haras e soltei os cavalos. O ponteiro do conta-giros subiu com alegria, e a gente acompanhou com o mesmo ânimo. Uma piscada e a agulha já está em 6.500 rpm. Não parece que estamos em um carro de 1.718 kg.

A Ford divulga 0 a 100 km/h em 8 segundos, e não temos argumentos para contestação, a julgar pelo coice que este equino dá no arranque. O câmbio mostrou que está em sintonia com o motor, fazendo trocas rápidas tanto para cima como nas reduções. A gente sente a rotação subindo nas frenagens e declives, sinal de que a transmissão não está ali a passeio.

O desempenho é tão convincente que nem parece que estou a bordo de um SUV. Além de ser bom de reta, o Bronco também é bom de curva, estável e com pouca inclinação de carroceria. Isso é uma evidência de que a suspensão está bem acertada. O sistema independente nas quatro rodas tem subchassi (que isola melhor a carroceria) e barras estabilizadoras na frente e atrás. Na dianteira o sistema MacPherson utiliza braços forjados de alumínio.

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A direção elétrica é precisa e tem bom peso. E o volante conta com borboletas para trocas manuais do câmbio automático. Já os freios (quatro discos, ventilados na frente) também mostraram que estão sempre a postos, com potência de frenagem suficiente para conter a força do motor.

… e que encanta na terra

Na terra, o modelo mexicano continuou a exibir qualidades. O Bronco tem tração 4×4 e bloqueio eletrônico do diferencial traseiro. Há sete modos de condução, à disposição do motorista por meio de um controle giratório no console, batizado de G.O.A.T.

A sigla representa as iniciais de “go over any type of terrain”. Em português, significa que anda sobre qualquer tipo de terreno.

Além da confiança, as iniciais em inglês formam a palavra que designa cabrito, bode, bicho capaz de andar sobre qualquer tipo de superfície, e também a sigla que designa a gíria Greatest Of All Time.

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Conforme o motorista gira o controle, animações relativas a cada modo vão surgindo na tela virtual colorida localizada no centro do quadro de instrumentos, entre os mostradores redondos do quadro de instrumentos (contagiros e velocímetro). O modo normal é azul; o econômico, verde; o esportivo, vermelho; terreno enlameado, marrom.

A boa altura do solo (22,3 cm) permite que se ande sem preocupações em raspar o fundo do carro fora do asfalto. Comprovamos suas habilidades tanto no percurso off-road na pista de Tatuí como em caminhos de terra fora do território da Ford.

A montadora informa que, mesmo que o carro pegue algum obstáculo mais alto, não há problema, porque o Bronco tem uma proteção de aço sob a carroceria. A marca também garante que o Bronco Ford está apto a transpor trechos alagados com até 60 cm de profundidade.

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Com essas qualidades, subir rampas íngremes e descer trechos enlameados não representaram maiores problemas para o SUV. O Bronco, a propósito, exibe boas medidas off-road: tem 30,4º de ângulo de entrada e 33,1º de saída.

São números muito semelhantes aos do Compass Trailhawk (a versão mais capaz da linha), que tem respectivamente 30,6º e 33,2º.

Por dentro, Bronco fica entre o luxo e o despojamento

O Bronco é um anfitrião que sabe receber bem seus convidados. Ali, mal se ouve o ruído do mundo exterior, e o som do motor só entra se for convidado. Ou seja, só quando o motorista resolve socar o pé no acelerador.

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Na unidade testada, o modelo estava fazendo um ruído aparentemente vindo da suspensão dianteira, mas é preciso levar em conta que, desde que chegou ao Brasil, há pouco mais de um mês, essas unidades de teste têm sido submetidas a todo tipo de “castigo” pela imprensa especializada, incluindo a gente.

Então, concluí que os pouco mais de 10 mil km rodados pelo “nosso” carro de testes incluíram provas severas.

Por isso, resolvi dar um desconto ao pobre carro. Que, a propósito, não tem nada de “pobre”. A cabine é moderna e o acabamento é bom, para um SUV. O painel tem revestimento de vários tipos de materiais. É suave na parte de cima, e com textura agradável. Os bancos de couro são macios, quase uma poltrona de sala de estar, e ajudam a absorver irregularidades do solo.

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Além disso, têm desenho elegante, com revestimento de duas cores e suede na parte superior. Esse tipo de tecido tem textura semelhante à camurça, e traz o emblema do cavalo arredio, sempre com as patas traseiras para cima. As regulagens são elétricas no lado do passageiro, e o teto solar é panorâmico.

Já o piso recebeu revestimento de borracha, mas a finalidade é facilitar a lavagem após aventuras off-road. Dessa forma, ninguém precisa ter dó de sujar, porque é fácil limpar.

A central multimídia tem tela de 8” (Sync 3). Os comandos são intuitivos e a resposta aos comandos é boa. Há compatibilidade com Apple CarPlay e Android Auto, além de carregamento de celular sem fio. O modelo oferece quatro portas USB, duas das quais do tipo “C”.

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O equipamento de som também merece elogios. É da Bang & Olufsen, e conta com dez alto-falantes.

O ar-condicionado digital tem dupla zona e saída para o banco traseiro. Além disso, há vários porta-objetos emborrachados.

O espaço para pernas é bom no banco traseiro, graças ao entre-eixos de 2,67 m. E também há boa área livre da cabeça ao teto. Os ocupantes ainda contam com uma tomada de 110 volts (há outra no porta-malas). Porém, há dois pontos negativos: o ângulo de abertura das portas não é muito bom, e o vidro não desce totalmente.

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Abridor de garrafas de série

O Bronco foi desenvolvido para quem curte a vida fora das cidades, e por isso surpresas no porta-malas. É o caso, por exemplo, da abertura independente do vidro traseiro, como no Hyundai Tucson.

O SUV também dispõe de uma prateleira móvel que aumenta a versatilidade do bagageiro, que a propósito acomoda 580 litros. É possível dividir o espaço em dois andares (com a base na horizontal) ou criar divisões de compras, instalando o item na vertical.

Além disso, a peça pode ser transformada em uma pequena mesa, útil para piquenique, por exemplo. Ela não pode ser montada fora do carro (como no Honda CR-V de primeira geração), mas vem com dois pés para melhorar o apoio sobre o para-choque. Com isso, cria-se um “puxadinho”, que ainda conta com iluminação de LEDs (as luzes direcionais ficam embutidas na tampa) e até – vejam vocês – abridor de garrafas, instalado no batente da tampa.

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Embora a Ford não comente, o Bronco Sport Wildtrak marca apenas a estreia da família. Espera-se que no rastro dele venham outros integrantes, tanto mais caros como mais baratos.

Entre as opções mais acessíveis, aguarda-se o Bronco Sport 1.5 turbo Ecoboost. Seria uma escolha mais adequada ao cliente de perfil mais urbano, que não precisa de tanta parafernália dedicada ao uso fora de estrada. Na outra ponta está o Bronco mais – digamos – “bronco”, sem o sobrenome Sport. Esse modelo utiliza chassi sobre longarina (o Sport é monobloco), e concorre com o Jeep Wrangler.

Ficha técnica – Ford Bronco Wildtrak
Preço: R$ 264.690
Motor: 2.0, 4 cilindros, 16V, comando duplo, turbo, gasolina
Potência: 240 cv, a 5.500 rpm
Torque: 38 mkgf, a 3.000 rpm
Câmbio: automático, 8 marchas
Tração: 4×4
Direção: elétrica
Suspensão dianteira: Independente, McPherson, barra estabilizadora
Suspensão traseira: Independente, barra estabilizadora
Comprimento: 4,39 m
Largura: 1,94 m
Altura: 1,80 m
Entre-eixos: 2,67 m
Porta-malas: 580 litros
Pneus/rodas: 225/65 R17
Peso: 1.712 kg
Tanque: 64 litros

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Autor: Hairton Ponciano Voz

Quando começou a escrever sobre carros, ainda não se falava em injeção eletrônica, e vidro elétrico era coisa de rico. Em mais de 30 anos divididos entre testes de pista e as principais redações do país, Hairton Ponciano Voz já viu muito, mas tem certeza de que ainda não viu tudo. É por isso que continua encarando cada avaliação com a curiosidade de sempre. Afinal, a tecnologia não para.