Na década de 90, mais precisamente por volta do ano de 1994, um “carro popular” ter equipamentos como ar-condicionado e vidros elétricos era algo impensável para o mercado brasileiro.
Mas isso começou a mudar, tanto com a chegada do Chevrolet Corsa ao Brasil, como também pela criação de versões mais equipadas dos populares de outras marcas.
No caso da Fiat, sua resposta ao Corsa Wind veio com o nome de Mille ELX, uma versão mais equipada e bem acabada do quadradinho da marca, que chegou a ser chamado de “popular de luxo” pela imprensa da época.
O cenário dos populares em 1994
A Volkswagen era a grande líder, mas o Gol já sentia o peso da idade em 94, tanto que o Gol bolinha já estava quase pronto, a apenas alguns meses de ser lançado.
A Chevrolet apresentava uma reviravolta incrível, saindo do arcaico Chevette Junior, um carro lá dos anos 70, pesado e com desempenho ruim, para um compacto realmente revolucionário, que tinha sido lançado apenas um ano antes na Europa, em 1993.
Tão grande foi o impacto do Corsa no mercado, que nenhuma loja, independente ou concessionária, vendia o carro pelo preço de tabela de 7.350 dólares. O ágio comia solto, com valores 1.000 ou até mesmo 2.000 dólares acima do preço oficial.
O presidente da Chevrolet no Brasil na época teve que vir a público através de anúncios na TV, para pedir paciência a todos os compradores. Que não pagassem ágio e sim aguardassem para que a produção conseguisse dar conta de tantos pedidos e encomendas.
A Ford contava com o Escort Hobby no segmento, e a Volkswagen ainda tinha o Fusca Itamar, além do Gol quadrado.
A modernidade do Corsa Wind
O Corsa era um concorrente de muito peso, que tirava o sono do pessoal da Fiat e também das outras marcas.
Ele tinha desenho muito mais moderno, silêncio e conforto ao rodar, melhor aproveitamento do espaço interno e também melhor economia de combustível, com injeção eletrônica EFI.
Desempenho
Em termos de desempenho, o Corsa não era o melhor do segmento dos populares.
Ele perdia para o Mille tanto em velocidade máxima (cerca de 143 km/h contra 148 km/h do Mille) e em aceleração de 0-100 km/h (18,9 segundos contra 17,1 segundos).
Motor e câmbio
O motor, apesar de parecido com o Família 2 já existente no Brasil, nos modelos Monza, Kadett e Omega, era diferente, e totalmente novo.
O Família 1 do Corsa era inédito, usado na Europa em tamanhos de 1.2 a 1.6 litro. Foi reduzido no Brasil por causa da nossa lei, onde carro com motor 1.0 paga menos imposto.
A taxa de compressão foi reduzida de 10,0:1 para 9,2:1, como uma maneira de lidar melhor com a nossa gasolina batizada.
Mas como no Brasil, um carro popular precisa ter potência razoável para levar a família toda, a potência foi aumentada.
Os 45 cavalos do motor 1.2 na Europa viraram 50 cavalos no nosso 1.0, e isso foi conseguido com um novo cabeçote, válvulas com novo desenho e um novo comando.
O câmbio, um japonês da Isuzu, conseguia ter melhor escalonamento do que o câmbio do Mille.
Consumo
- Corsa Wind 1.0 – consumo na cidade 12,1 km/l, consumo na estrada 14,9 km/l
Acabamento interno
O Corsa tinha um interior com desenho muito mais agradável que o do Mille, mesmo em sua versão mais requintada ELX.
O sistema de ventilação era muito bom, com ar-condicionado ou não, e o acabamento, apesar de ser bem simples como em todo carro popular, era melhor.
O Corsa Wind contava com banco traseiro bipartido, retrovisores laterais com ajuste interno, limpador e desembaçador traseiros e parabrisa degradê.
O “luxo” do Mille ELX
Na prática, o Mille ELX, que foi criado para tentar tirar um pouco do brilho do lançamento do Corsa Wind, era um Uno CS com motor 1.0.
Tinha um pacote bem completo de equipamentos, incluindo até mesmo ar-condicionado como equipamento de série.
O Mille ELX também contava com vidros e travas elétricos, além de relógio interno digital e acabamento de melhor qualidade.
Só que o preço também era maior, na casa dos 10.000 dólares, contra 7.350 do Corsa Wind básico.
O modelo mais barato da Fiat para brigar com o Corsa Wind era o Mille Electronic, que era pelado e também tinha um painel de instrumentos mais antigo.
Desempenho
O Mille ELX tinha peso parecido com o Corsa, na faixa de 850 a 900 kg.
Mas sua potência e torque ligeiramente maiores faziam a diferença e davam ao italiano a vantagem tanto em velocidade máxima quanto em aceleração.
A potência era de 56 cavalos, contra 50 do Corsa. E o torque era melhor, com 8,2 kgfm contra 7,7 kgfm.
Motor e câmbio
O motor do Mille ELX também era 1.0 e montado na transversal, mas ainda contava com o antigo e antiquado carburador.
Mas as vantagens no desempenho ficam claras se analisarmos que mesmo pesando 60 kg a mais que o Corsa Wind (por causa do ar-condicionado e as quatro portas), o Mille continuava andando mais que o Corsa.
Consumo
- Mille ELX 1.0 – consumo na cidade 11,5 km/l, consumo na estrada 13,1 km/l
Acabamento interno
O Mille ELX tinha um material de melhor qualidade revestindo os bancos e os painéis das portas.
Também dava uma sensação real de mais espaço interno, pois o modelo é bem mais amplo que o Corsinha.
Só que o preço quase 40% maior do que o chamativo Corsa Wind básico deixava os prospectivos compradores a coçar a cabeça, pensando se era mesmo a melhor escolha.
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