Muitas montadoras já produziram carros que ficaram marcado na história. Porém, somente algumas delas conseguiram entregar veículos verdadeiramente transformadores no mercado que conseguiram reunir uma significativa legião de fãs e seguem vivos na memória dos consumidores até hoje. Um desses modelos é justamente o Land Rover Defender.
O Land Rover Defender conseguiu um feito considerado um troféu por muitas marcas: foi produzido de maneira ininterrupta por quase sete décadas.
Ele estreou na linha de produção em meados de 1948 e deixou de ser produzido somente em janeiro de 2016. O jipe valentão conseguiu registrar mais de dois milhões de exemplares fabricados.
O Land Rover Defender teve seu papel até mesmo nos telões do cinema. Ele apareceu no filme Spectre, da saga 007 de James Bond, que estreou em 2015.
No longa-metragem, o Defender apareceu em uma versão mais robusta denominada SVX, que foi desenvolvida pela SVO (Special Vehicle Operation), que cuida dos carros preparados do grupo Jaguar Land Rover.
Este modelo é um Land Rover Defender 110 em carroceria picape de quatro portas.
Entre os diferenciais, o carro contava com pneus enormes de 37 polegadas ao melhor estilo Bigfoot, suspensão com soluções da Bowler e amortecedores Bilstein, motor turbodiesel com 187 cavalos de potência (67 cv a mais que o original) e interior com bancos Recaro, cintos de quatro pontos e freio de estacionamento hidráulico.
A Land Rover fabricou 10 exemplares do Land Rover Defender SVX, sendo que este modelo do filme foi utilizado somente na produção e depois exibido em alguns eventos. O Defender utilizado no filme de James Bond foi leiloado posteriormente por cerca de 250 mil libras esterlinas, ou algo em torno de R$ 1,2 milhão.
Além disso, o Defender já foi utilizado pela Rainha Elizabeth II, que foi vista diversas vezes acionando em pé na parte traseira do jipão da Land Rover.
Cada unidade do Land Rover Defender levava cerca de 56 horas para ser concebido na linha de montagem. Todo o trabalho era feito à mão, ao contrário dos demais carros da Land Rover que até hoje são produzidos por máquinas em boa parte do processo produtivo.
Land Rover Defender no Brasil
A história do Land Rover Defender teve início no mercado brasileiro em 1948 com o modelo Série I, que chegou no mesmo ano de seu lançamento sob importação.
O Land Rover Defender foi produzido nas instalações da Karmann-Ghia, em São Bernardo do Campo (SP), entre os anos de 1998 e 2005.
Na planta, o jipe britânico era produzido em CKD (com peças importadas e montadas localmente) de forma terceirizada pela Karmann-Ghia.
A produção local do modelo foi descontinuada pelo fato de que a Land Rover seria obrigada a promover alterações no motor do Land Rover Defender brasileiro para atender à nova legislação de emissões de poluentes para carros com motor a diesel, que entrou em vigor em 2006.
A planta tinha capacidade para entregar até 12 Defender por dia.
Deste volume, boa parte era destinado para o Exército e também a Polícia Militar do estado de São Paulo. Cerca de 800 veículos eram produzidos por ano na planta da Karmann-Ghia.
Após isso, o Land Rover Defender passou a ser importado da Inglaterra, com um motor eletrônico já nos conformes das novas emissões de poluentes e outros recursos, como o sistema de freios ABS.
Land Rover Defender antigo – preços
- Land Rover Defender 90 1996 – R$ 32.918
- Land Rover Defender 90 1997 – R$ 38.504
- Land Rover Defender 90 1998 – R$ 47.064
- Land Rover Defender 90 1999 – R$ 48.572
- Land Rover Defender 110 1995 – R$ 28.052
- Land Rover Defender 110 1996 – R$ 36.884
- Land Rover Defender 110 1997 – R$ 46.152
- Land Rover Defender 110 1998 – R$ 48.580
- Land Rover Defender 110 1999 – R$ 51.043
- Land Rover Defender 110 2000 – R$ 57.793
- Land Rover Defender 110 2001 – R$ 61.054
- Land Rover Defender 110 2004 – R$ 77.160
- Land Rover Defender 110 2005 – R$ 90.991
- Land Rover Defender 110 2006 – R$ 93.559
- Land Rover Defender 130 1997 – R$ 29.715
- Land Rover Defender 130 1997 – R$ 32.249
Preços da tabela Fipe de janeiro de 2023.
Land Rover “Defender” Series I
Sem mais delongas, vamos à história do Defender.
Na realidade, o primeiro Land Rover Defender não foi bem um legítimo Defender, mas sim um Land Rover Series I, que chegou um ano antes, em 1947.
O modelo foi utilizado pela marca britânica conhecida até então somente como “Rover” como uma forma de se recuperar financeiramente, devido ao impacto negativo causado na economia no período pós-Segunda Guerra Mundial.
Antes da guerra, a Rover tinha sua linha de veículos composta por modelos de luxo. E como você já deve imaginar, um local enfraquecido economicamente não demonstrava muita procura por carros mais refinados e, consequentemente, bem mais caros. Eis que surgiu o Land Rover “Defender” Series I, que foi projetado originalmente para o uso na agricultura.
Este modelo contava com carroceria em alumínio construída sob um chassi de aço.
Ao contrário do que acontece atualmente, onde as fabricantes empregam o alumínio como tentativa de reduzir o peso final dos carros, o Land Rover Series I na verdade foi fabricado com alumínio devido à falta de aço naquela época.
Inclusive, as primeiras unidades do Land Rover “Defender” Series I saíram da linha de montagem com carroceria pintada nos mais variados tons de verde militar. Isso porque era a única tinta disponível no pós-Guerra, como parte dos materiais que restaram na fabricação de aviões de guerra.
O Series I foi oferecido em configuração única, com entre-eixos de cerca de dois metros e um motor 1.6 litro a gasolina de aproximadamente 50 cv, com um câmbio manual de quatro marchas e sistema de tração 4×4.
Com o passar dos anos, o Land Rover “Defender” Series I recebeu uma série de novidades, como entre-eixos alongado até 2,72 m e até uma versão picape.
Land Rover “Defender” Series II
No ano de 1958, a Land Rover anunciou a chegada do Land Rover Series II, que surgiu como uma versão aprimorada do anterior, que inclusive fez bastante sucesso durante essa uma década.
Este jipe foi vendido até o ano de 1961 (ou seja, teve uma vida bastante curta de apenas três anos) e contava com uma versão 88 com entre-eixos de 2,2 metros e outra 109 com entre-eixos de 2,8 m.
Entre os diferenciais, o novo Series II recebeu um visual um pouco mais exclusivo, visto que foi o primeiro Land Rover a receber a atenção do departamento de design da então Rover. Ele passou a contar com janelas laterais com formato mais curvo e também um teto ligeiramente mais arredondado.
Havia ainda uma versão capaz de levar até 12 pessoas, além de outra com até 10 lugares e uma outra com até sete lugares.
O Series II de 12 lugares foi um dos mais populares da época, sendo que um dos motivos era o fato de ele ser classificado como um ônibus, o que isentava o jipe de imposto de compra e imposto sobre veículos especiais no Reino Unido.
Já na mecânica, o Land Rover Series II ofereceu um motor 2.25 litros a gasolina, que contava com potência máxima de 72 cavalos. Ele contou também com a opção de um 2.0 litros a gasolina de 52 cv e outro 2.0 litros diesel. Em todos os casos, a transmissão era uma manual de quatro marchas.
Em 1962, a Land Rover apresentou o Series IIA, que era praticamente impossível de ser diferenciado visualmente do Series II. Ele se diferenciava, porém, pelo motor 2.25 litros a diesel e também do 2.6 litros de seis cilindros em linha a gasolina, este último ofertado a partir de 1967 para as versões com entre-eixos longo.
Land Rover “Defender” Series III
No ano de 1971, ainda não existia o Land Rover Defender.
Foi a vez da chegada do Land Rover Series III, que trouxe uma “pitada” de modernidade para a gama do jipe rústico da marca britânica.
Ele é considerado uma das gerações mais populares da linha de jipes da Land Rover, visto que 440 mil exemplares foram construídos entre 1971 e 1985, quando o veículo foi descontinuado, sendo que um deles foi o Land Rover número 1.000.000 produzido.
Além de ser um dos mais populares, o Series III foi um dos que mais recebeu aprimoramentos ao longo de sua trajetória. O motor 2.25 litros do jipe teve sua taxa de compressão ampliada de 7:1 para 8:1. Além disso, o painel de instrumentos foi reposicionado do centro para o lado do motorista, entre outros.
Nesta mesma época, mais precisamente em 1970, a Land Rover anunciou a chegada do modelo Range Rover.
Este utilitário se destacava e se diferenciava em relação ao Series III por ser um modelo maior e mais confortável, além de contar com um visual mais bem elaborado – ele foi o primeiro automóvel a ser exibido no Louvre, em Paris, como exemplo de excelência em design industrial.
Todavia, vale reforçar que o Range Rover em nenhum momento foi idealizado para ocupar o lugar do Land Rover Defender.
Ele foi lançado como um veículo capaz de atender àqueles que buscavam por um carro capaz de aliar o conforto com uma boa capacidade off-road para encarar trechos acidentados.
Todavia, ele era caro demais para ser submetido a locais que podiam provocar arranhões e amassos em sua carroceria de visual mais bem elaborado.
Depois disso, a Land Rover resolveu promover uma série de mudanças em sua linha de jipes off-road. A gama anunciada na década de 1980 foi representada pelas nomenclaturas totalmente diferentes e o visual mais moderno.
Land Rover 90, 110, 127 e 130
Ao invés de lançar o Land Rover Series IV, a marca anunciou a chegada do Land Rover 90 e do Land Rover 110 no final de 1983, que seriam os precursores do Land Rover Defender.
E este nome tem uma boa explicação: os números representavam a distância entre-eixos em polegadas: o primeiro tinha entre-eixos de 90 polegadas (ou 2,28 metros), ao passo que o segundo contava com entre-eixos de 110 polegadas (ou 2,79 metros).
O o Land Rover 90 era conhecido como Ninety, enquanto o Land Rover 110 era conhecido também como One Ten (1-10 em inglês). Eles já carregavam o distintivo “Defender” na tampa do porta-malas, mas originalmente eram tratados como Land Rover 90 e Land Rover 110.
Ainda entre os diferenciais em relação ao Series III, a nova dupla Land Rover 90 e Land Rover 110 contava com suspensão dotada de molas helicoidais herdadas do irmão mais novo Range Rover, sistema de tração nas quatro rodas com bloqueio do diferencial central e sistema de direção hidráulica.
Os primeiros exemplares destes modelos foram produzidos com o mesmo conjunto de motores do antigo Series III, o que incluiu o 2.25 litros de quatro cilindros a gasolina e o 2.25 litros diesel, mas com direito a uma atualização de três para cinco virabrequins, além de um 3.5 V8.
Os propulsores de quatro cilindros contavam com um câmbio manual de cinco marchas totalmente sincronizado.
Todavia, apesar de robustos e confiáveis, esses propulsores sofriam pelos níveis de potência baixos demais para a categoria.
Então, a Land Rover decidiu atualizar a linha de motores dos modelos 90 e 110. Houve a introdução de um novo 2.5 litros diesel de quatro cilindros, capaz de entregar até 68 cv.
Este propulsor tinha um novo formato do cabeçote, sistema de injeção de combustível mais aprimorado e comando por corrente.
Já o propulsor a gasolina passou de 2.25 para 2.5 litros, aumentando a potência para 85 cv, ante os 70 cv da linha anterior.
Além disso, o Land Rover 90 em sua versão com entre-eixos curto adotou um 3.5 V8 de 115 cv, sendo o primeiro Land Rover SWB (Small Wheelbase) com um propulsor de oito cilindros em “V” no ano de 1985.
Mesmo com essas melhorias, os modelos Land Rover 90 e Land Rover 110 seguiram defasados diante da concorrência, o que incluía o Nissan Patrol e o Toyota Land Cruiser.
Na ocasião, a marca não demonstrou interesse em desenvolver uma nova linha de motores. Então uma nova solução foi turbinar o motor 2.5 litros turbodiesel de quatro cilindros – motores turbo a diesel já eram comuns em utilitários daquela época.
Para manter o nível de robustez, o motor 2.5 litros adotou algumas mudanças, como válvulas de escape de aço, pistões revestidos com teflon, entre outros. Com isso, ele passou a desenvolver 85 cavalos de potência, ou 13% a mais que a versão naturalmente aspirada.
A linha contou ainda com os modelos Land Rover 127. Como o próprio nome indica, este veículo se diferenciava pelo entre-eixos ainda mais amplo. Essa configuração foi oferecida a partir de 1985.
O Land Rover 127 contava com uma distância entre-eixos de 127 polegadas ou 3,22 metros, projetado para acomodar cargas maiores e mais pesadas que o Land Rover 110. Ele conseguia levar até 1,4 tonelada de carga, e comparação com 1,03 tonelada do 110 e 0,6 tonelada do 90.
Depois, o Land Rover 127 passou a ser chamado de Land Rover 130. Curiosamente, a distância entre-eixos do modelo permaneceu inalterada.
Com um visual mais atual e uma gama de motores mais potentes e eficientes, além da qualidade de construção dos carros da marca, os modelos Land Rover 90, Land Rover 110 e Land Rover 127/130 foram capazes de reverter o mau momento vivido pela marca no Reino Unido e na Europa, passando a registrar boas vendas por lá.
Para se ter uma ideia, entre 1980 e 1981 a marca registrou queda expressiva de 21% no mercado global.
Enfim, Land Rover Defender
Eis a maior mudança na gama do Land Rover.
No final de 1990, a marca lançou o novo Land Rover Defender, que se tratava de uma versão mais atual dos modelos antigos, mas agora com um nome mais original e que foi mantido até 2016, quando ele saiu da linha de produção.
A marca resolveu mudar a identidade do jipe após o lançamento do Land Rover Discovery, o terceiro modelo da família Land Rover, que foi introduzido em 1989. Então, a marca passou a contar com três veículos, mas somente dois possuíam nomes (o Land Rover era conhecido também como Land Rover Classic).
Sendo assim, o Land Rover 90 passou a se chamar Land Rover Defender 90, enquanto o Land Rover 110 foi rebatizado como Land Rover Defender 110.
Fora isso, os Land Rover Defender ficaram mais recheados e refinados, seguindo os pedidos dos consumidores daquela época, com direito a itens como assoalho em carpete e vidros elétricos. Rivais como o Ford Bronco americano e o Toyota Land Cruiser também seguiram a mesma linha.
O modelo perua foi nomeado “County” e passou a atender os compradores de SUVs.
Ele passou a entregar também novos motores. O Land Rover Defender 200Tdi, como foi chamado, chegou com 108 cavalos de potência e 26,9 kgfm de torque, com direito a injeção direta de combustível. Junto a este propulsor estava um câmbio manual de cinco relações.
Houve ainda o Land Rover Defender 300Tdi em 1994, também turbodiesel, mas neste caso com 115 cv e também 26,9 kgfm.
Ele permaneceu em linha até 1998, quando foi substituído pelo Td5, um turbodiesel de cinco cilindros, que rendia 125 cv e já estava nas conformidades do padrão europeu de emissões Euro III.
No ano de 2007, o Td5 deu lugar ao novo 2.2 litros Duratorq turbodiesel de quatro cilindros de origem Ford, com 16 válvulas, turbocompressor, potência máxima de 122 cv e torque máximo de 36,6 kgfm. Tal unidade foi utilizada em outros modelos, como a van Ford Transit.
Este motor trabalhava com um câmbio manual de seis marchas.
Para equipar o Land Rover Defender, o motor Duratorq adotou um sistema de lubrificação e vedação adaptado para não sofrer em condições úmidas e empoeiradas, além de manter a lubrificação do motor mesmo em ângulos extremos no uso off-road.
Ainda na linha 2007, o Land Rover Defender ganhou alguns instrumentos do Discovery 3 no painel e detalhes do painel central herdados do Ford Transit.
Além disso, devido à proibição da legislação europeia quanto ao uso de bancos voltados para dentro, o Land Rover Defender substituiu os quatro assentos voltados para dentro para somente dois voltados para a frente, reduzindo sua capacidade de seis para quatro assentos.
O fim de linha do Land Rover Defender foi anunciado em meados de 2015, tendo sido concretizado no ano seguinte.
Para marcar as últimas unidades, o jipão foi ofertado em três séries especiais.
A primeira foi o Land Rover Defender Adventure, marcada pelo espírito mais aventureiro, com pneus off-road e chapas de proteção no assoalho.
Já a segunda, Land Rover Defender Autobiography, oferecia carroceria pintada em duas cores e acabamento interno em couro.
A terceira e última, Land Rover Defender Heritage, remetia aos primeiros jipes da década de 40 com pintura verde claro com teto branco e grade frontal exclusiva.
O Defender do século 21
Em setembro de 2019, no Salão de Frankfurt, a nova geração do Land Rover Defender finalmente foi apresentada. O projeto desafiador para a marca manteve alguns aspectos dos antecessores, mas trouxe várias opções de personalização, interior muito mais tecnológico e até opções híbridas.
Chamado de “Defender do século 21” pela marca, o modelo chegou nas versões 90 e 110. Mesmo com o novo visual e a tecnologia embarcada, a marca se preocupou em mantê-lo pronto para o off-road. Aliás, com sua nova arquitetura D7x, a Land Rover garante que o novo Defender é o mais valente de todas as gerações.
A altura do solo chegou a 29,1 cm, e os ângulos de entrada e saída ficaram em 38º e 40º, respectivamente. Além disso, o modelo pode atravessar áreas com até 90 cm de água. Por dentro, a versão 110 pode levar até 7 passageiros, mas existe a opção intermediária de 6 ocupantes, graças a um terceiro banco na primeira fileira.
A linha de motores conta com opções diesel, gasolina ou híbridas, tanto do tipo plug-in (PHEV) quando do híbrido leve (MHEV), sempre com transmissão ZF de 8 velocidades.
No Brasil, o modelo chegou em julho de 2020, com preços acima dos R$ 400 mil. São três versões da configuração maior 110, sempre com motor 2.0 turbo de 300 cv.
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