Por que os carros de Cuba são antigos? Veja a resposta

No primeiro dia de janeiro de 1959, o governo de Fulgêncio Batista cai diante dos revolucionários liderados por Fidel Castro. A partir daí, as coisas mudariam para serem para a então famosa ilha caribenha, chamada Cuba.

Desde então, o país mergulhou num buraco do tempo.

Por que os carros de Cuba são antigos?

Bom, a frota automotiva nacional de Cuba foi congelada quase que instantaneamente, em 1959, por um longo e duradouro embargo econômico, organizado pelos EUA, e que perdura até os dias atuais.

Antes de 1959 e da guerra civil, que levou à mudança do regime político no país, Cuba era uma das nações da America Latina que mais importavam automóveis, entre outros produtos.

Entre 1940 e 1960, o estado e uma elite poderosa, importaram milhares de carros, a grande maioria dos EUA, cuja distância fronteiriça é bem pequena. Com isso, a nação de língua espanhola tinha uma das maiores frotas per capita de veículos, quando estourou a guerra.

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Guia para colecionadores de miniaturas de carros

Carros em Cuba atualmente

Apesar da chegada dos carros russos e chineses, os cubanos continuam a manter sua enorme frota de carros clássicos, alguns tão reluzentes que parecem fazer parte de coleções particulares, mas muitos anos em péssimo estado de conservação. O embargo ainda é um fator proibitivo para se manter a manutenção correta desses carros.

Muito do que chega é através de parentes expatriados localizados em Miami, Flórida, onde existe até loja de peças para carros da Lada, sendo que nenhum carro da marca foi vendido oficialmente nos EUA. Assim, os carros de Cuba são antigos

Em anos mais recentes, o governo cubano foi aos poucos liberando a entrada de carros estrangeiros não-americanos, mas usados, o que é um bom negócio em vários mercados, o que significou a presença de mais carros europeus e também asiáticos, especialmente chineses.

O comércio de usados foi liberado há algum tempo e os proprietários de clássicos puderam fazer negócio, mas mesmo assim, os valores são astronômicos para o poder aquisitivo da população, que caiu enormemente.

Basta lembrar que cada táxi “lotação” cobra o equivalente a R$ 1,00 por pessoa, embora a tarifa por hora para turistas seja de R$ 80,00. Muitos carros custam mais de R$ 150 mil, valor proibitivo mesmo nos EUA. É carros de Cuba são antigos.

E os carros novos? Eles custam uma verdadeira fortuna em termos de real, por exemplo. Um sedã novo da Peugeot chegou custando R$ 627 mil há uns cinco anos atrás. Hoje, carros novos de qualquer origem (exceto EUA, proibidos) custam em média R$ 500 mil, impedindo a grande maioria de ter carros novos.

Aliás, com a renda per capita despencando nos últimos anos, Cuba hoje tem taxa de motorização igual à melhor estimativa de 1958: 38/1000 hab. E, até o embargo ser suspenso, os clássicos carrões americanos continuarão congelados no “tempo cubano”.

História dos carros em Cuba

Repleto de turistas, Cuba se tornou o maior importador de carros americanos no período antes da revolução comunista, comprando automóveis das mais variadas marcas dos EUA, entre elas Cadillac, Buick, Chevrolet, Plymouth, Ford, Chrysler, DeSoto, Odsmobile, entre outras, circulavam reluzentes pelas praias paradisíacas da ilha, conquistada pelo explorador espanhol Diego Velásquez de Cuéllar, em 1509.

Mas não eram somente automóveis, vários caminhões e ônibus, especialmente escolares, também eram provenientes dos EUA, inclusive um modelo que chamava atenção por imitar a fuselagem de um avião, o chamado “El Tiburón”, modificado pela companhia aérea Cubana de Aviación, mas de origem ACF Brills Coach. Ou seja, americano.

Mesmo as motos eram de origem Indian ou Harley-Davidson. Dessa forma, a frota nacional de Cuba praticamente era constituída de veículos feitos no CONUS (Contiguous United States). Então, por que os carros de Cuba são antigos?

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Em 1958, Cuba tinha o segundo maior número de automóveis per capita da América Latina com 24 carros para cada mil habitantes (outras estimativas falam em 38/1000 e uma frota nacional de 160 mil veículos), perdendo apenas para a Venezuela.

Para se ter uma ideia, o Brasil tinha apenas 7 carros para cada milhar de cidadãos, ou seja, menos de três vezes o que circulava na ilha latina. Assim, hoje os carros de Cuba são antigos.

Mas, os números expressivos não se limitavam apenas ao automóvel, que chegou ao país em 1900, antes de qualquer outro país latino-americano, exceto o Brasil, onde o primeiro carro chegou ainda no século XIX. O primeiro bonde elétrico, aí sim, circulou em Cuba no ano de 1900, antes dos demais latinos.

Em comparação com o Brasil, na maioria dos termos, o país caribenho era bem superior.

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Embargo a Cuba, pelos EUA

Em 1960, o presidente americano Dwight D. Eisenhower impôs um embargo comercial à Cuba por conta da derrubada do poder, mas ainda assim esse era limitado e excluía alimentos e produtos medicinais.

No governo seguinte, de John F. Kennedy, o país passou a ter um embargo mais duro, imposto após o novo governo se declarar marxista e se aliar à então URSS. Com isso, o país mergulhou quase que imediatamente num congelamento do tempo automotivo.

Apesar do embargo americano não envolver outros países, o temor de que nações aliadas pudessem ser igualmente boicotadas pelos EUA, fez com que a grande maioria cancelasse seus negócios com a ilha, agora governada por Fidel Castro.

Sem importação e com a elite econômica do país não podendo mais ostentar luxo com os reluzentes carrões novos chegados através do estreito da Flórida, a frota nacional rapidamente passou a envelhecer consideravelmente.

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Nos anos que se seguiram, o que chegou de novidade veio através da URSS e dos países do Pacto de Varsóvia, o bloco comunista controlado por Moscou. Isso então somou carros que hoje muitos brasileiros conhecerão em primeira mão durante a Copa do Mundo, sendo muitos exemplares da Lada, Moskvitch, Ural, Uaz, ZAZ, AvtoVAZ, entre outros.

Mas, apesar do esforço em adquirir veículos de origem soviética, o governo cubano não conseguiu sobrepujar a frota americana ainda em circulação.

De qualquer forma, a taxa de motorização de Cuba nos anos seguintes aumentou, passando a ter 73 carros para cada 1.000 habitantes em 1988. Mas e os clássicos americanos?

Embora os carros russos, ucranianos, poloneses, entre outros, fossem diretamente para o governo e seus apoiadores, a grande frota dos anos 40, 50 e 60 continuava na mão da população mais humilde, que não teve outra solução se não conserva-los o máximo possível.

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Como a população aumentou, quem não podia ter um carro, andava de ônibus e assim, os antigos modelos americanos foram sendo substituídos por modelos de origem russa ou ucraniana, mas os chamados “camellos” se popularizaram, sendo estes caminhões (alguns americanos recentes) com reboques convertidos em transporte de massa, muito anos da chegada dos veículos chineses.

Da mesma forma, os automóveis começaram a ser trocados, mas pela elite política. Por isso, os carros de Cuba são antigos.

Para manter os clássicos americanos funcionando, os cubanos acabaram sendo obrigados a se especializar na reforma das longevas banheiras de motor V8 que eram o símbolo da pujança do país antes da revolução, mas que acabaram virando símbolo da pressão americana para derrubada do regime, impressa num embargo comercial que dura até agora.

Então, saíram as rodas grandes e de pneus de faixa branca para pequenas rodas de magnésio com material rodante bem distante do original.

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Também muitos motores V8 foram trocados por quatro cilindros (alguns até com motores diesel de origem japonesa) para reduzir o consumo de combustível.

Muitos usados para o serviço de táxi, onde existem os regulares e os chamados “máquinas”, mais populares, os carros clássicos acabaram chegando aos nossos dias por um esforço colossal de seus motoristas, que tiveram de prover a manutenção de veículos que já não eram mais produzidos nos EUA e em outros países.

O primor da maioria fez com que Cuba se tornasse o maior museu automotivo do mundo em plena atividade até hoje. No ápice da motorização, Cuba chegou a 73 carros para cada 1.000 habitantes em 1988.

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Autor: Ricardo de Oliveira

Com experiência de 27 anos, há 16 anos trabalha como jornalista no Notícias Automotivas, escreve sobre as mais recentes novidades do setor, frequenta eventos de lançamentos das montadoras e faz testes e avaliações. Suas redes sociais: Instagram, Facebook, X